Capítulo 35

1 1 0
                                    


Rupert bateu na porta do escritório de Marvin, com dor de barriga por saber que levaria uma bronca do chefe. Ouviu-o autorizando sua entrada e titubeou ao virar a maçaneta.

— Com licença, senhor. - Cumprimentou Lewis ao lado de Marvin com um aceno de cabeça. - Vim lhe informar que... Não sabemos como, mas ele conseguiu escapar.

— O que? Como assim o deixaram escapar? - Marvin se levantou com um susto e Lewis repetiu os movimentos.

— Nós não sabemos, chefe. Saímos de lá e o deixamos amarrado com a porta trancada. Jeff disse que a porta parecia ter sido arrombada com um tiro.

— O Jeff é o chefe do pelotão? - Marvin vociferou aos nervos.

— Não senhor, mas...

— Então volte lá e descubra o que aconteceu.

— Marvin, - Chamou Lewis. - ele não vai parar. Ele vai voltar e vai nos matar. - Disse com uma calma assustadora. - Deixe-me ir com os sétimos. Não descansarei até tirar a verdade desse crápula.

Marvin considerou a ideia. Se a polícia pegasse seus seguranças ele ainda estaria limpo, mas se pegassem Lewis...

— Rupert, deixe-nos a sós por um instante. - O governador esperou que o segurança se retirasse para continuar sua conversa com o amigo. - Lewis, você não pode se arriscar. Se sujar suas mãos não terei como lhe defender.

— Eu não irei sozinho. E sei me defender, tomarei meus cuidados. Esse desgraçado precisa revelar para o que veio.

Não importava o quanto Marvin tentasse convencê-lo a desistir, Lewis estava certo de que arrancaria a verdade do assassino na força bruta. Sabendo que nem Jeff, o braço forte do pelotão, havia conseguido. Talvez ele só não tivesse colocado pressão o suficiente. Uma pessoa que mata a sangue frio não se entregaria tão fácil. Se eles ainda conhecessem a história de Ian, saberiam que mesmo pressionado ao extremo, com força física ou psicológica, o rapaz não entregaria seu pai. E, quando Isabela comentou sobre trazer Angelina para a história, só o fez querer matá-los ainda mais. Matar todos e qualquer um que cogitasse tocar em sua filha. Mas Marvin não precisava nem saber a história de Ian para sequer cogitar tocar na menina. Alguns o chamariam de covarde, mas era necessário saber o que um filho representa para um pai para ter a coragem de não prejudicá-lo quando todos achassem necessário. E Marvin sabia. Tinha uma filha e, se alguém ousasse machucá-la, não sabia o que seria capaz de fazer, e ainda ele, que tivera um filho recém-nascido roubado de seus braços, ele conhecia a dor, a dor de uma ferida aberta em seu peito que nunca se cicatrizou e nunca se cicatrizaria, uma dor que latejava todos os dias pensando em seu bebê. Isabela foi inteligente em não comentar sobre sua ideia de torturar a menina para arrancar uma resposta, tanto Lewis quanto Marvin a encheriam com um grande sermão ofensivo e logo em seguida seria demitida.

Lewis juntou os seguranças dos sétimos, incluindo os que já tomavam conta do rapaz enquanto preso, e ordenou que o informassem assim que tivessem notícias de seu paradeiro.

Ian abriu os olhos. A Doutora estava ali, sentada ao seu lado, numa cadeira virada para a televisão desligada, não tinha reparado que ele havia despertado e ele não fez questão de anunciar. Ela tinha seu olhar perdido no ar e seu cabelo, aparentemente, havia desabado de um coque, o rosto estava apoiado na palma das mãos e os cotovelos descansavam nos joelhos, ainda inclinada mantinha uma postura perfeita. Seu rosto expressava uma preocupação tão grande que não a deixava pegar no sono. Ian sentiu o corpo ainda dolorido, os dedos, o estômago espancado sobre a facada de Isabela ainda não cicatrizada, seu pé esfaqueado, o R cravado em seu antebraço e seu rosto tão dolorido que, se mudasse sua expressão, sentiria os músculos latejarem. O dia já estava em seu ápice, iluminando a casa inteira. Perguntou-se há quantas horas ela já lhe esperava ao lado. E a que horas pegara no sono que nem havia reparado? Lembrava-se de estar com sono, mas não tinha se acomodado o suficiente para dormir de tal maneira. Talvez tivesse desmaiado. Mas lembrou-se do analgésico que havia tomado, a Doutora, com certeza, lhe dera um calmante.

O Fim Do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora