Capítulo 34

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Enquanto Ian sofria com as pancadas de Jeff, Alana corria atrás de uma maneira para que nada interrompesse seu resgate. Antes de sair de casa, pegou uma jaqueta mais confortável, que escondesse o coldre e que não deixasse um calombo aparecendo em seu peito. Já estava a caminho do hospital quando, torcendo para que desse certo por já se aproximar, ligou para a amiga.

— Lucy, me empresta seu carro? - Pediu ao telefone, andando às pressas. - Prometo que estará inteirinho e estacionado em sua garagem hoje à noite.

Hoje, amiga? Não pode ser amanhã? - Reclamou, não vendo problemas em emprestar seu carrinho novo. - Tenho um compromisso à noite, vou precisar para voltar para casa.

— Não, precisa ser hoje. Por favooor.

Ai, Lana. Como é que eu fico?

— Lucy, é muito importante que você me empreste seu carro.

Arg, está bem, eu arrumo uma carona. Mas você tem logo que comprar o seu.

Convenceu-a bem a tempo de chegar ao hospital. Correu até o segundo andar pelas escadas, tropeçando nos próprios pés, retomou o fôlego e bateu na porta do escritório de Lucy, que não demorou a atender já com a chave nas mãos, prevendo a chegada de Alana.

— Eu fico devendo uma, muito obrigada, Lucy. - Deu um beijo na bochecha dela apanhando a chave de suas mãos e saiu apressando o passo.

— Louca. - Lucy comentou sozinha, fechando a porta da sala.

Alana entrou no carro e fechou a porta, louca para abrir as janelas e deixar o cheiro forte de perfume se dissipar com a ventania. Prendeu o cabelo em um coque antes de ligar o carro e seguiu para a casa de Marvin. Ela se lembrava das palavras do rapaz dizendo que nocauteara Isabela Chevalier para sair vivo. Então Marvin tinha botado o sétimo pelotão atrás de Ian. Um frio rodopiou pelo estômago da Doutora. Borboletas, e não eram das boas, carregar uma pistola carregada estava lhe deixando nervosa. Parecia que, a todo o momento, um policial a pararia para prendê-la. Já tinha sido presa uma vez por causa de Ian, não queria arriscar uma segunda vez, apesar de sentir que não tinha escolha naquele momento.

Avistou a casa do governador de longe e estacionou com certa distância atrás de outros carros na rua. Desceu e entrou na lanchonete logo ao lado. Sem tirar os olhos da casa, sentou-se e pediu uma porção de fritas com um suco natural de abacaxi. As horas corriam e nenhum sinal dos seguranças que conhecia dos sétimos. O sol começava a se pôr e Alana, impaciente na cadeira de plástico da velha lanchonete de esquina, não aguentava mais a agonia, imaginando o que Ian deveria estar passando. Mas nada passou pela sua mente que tivesse sido tão trágico, afinal, o que os sétimos poderiam fazer de tão grave?

Um carro estacionou em frente a mansão. Alana mandou embrulhar o pedido para viagem e pagou às pressas quando viu a cabeça ruiva de Rupert descer do carro. Ainda bem que reconheceu suas madeixas, pela distância que o via não o reconheceria pelo rosto. Pegou o hambúrguer, as coxas de frango frito e uma terceira porção de fritas, tudo empacotado em um saco de papelão reciclado, e levou ao carro. A conversa com Marvin foi breve, mas o chefe dos sétimos ainda bateu um longo papo com um outro segurança na portaria.

— Vamos logo, ruivo. - Balbuciou Alana no carro. E, como se tivesse a ouvido, Rupert se despediu do segurança e voltou para o carro.

O caminho foi um pouco longo, o sol terminava de se pôr quando Rupert estacionou. E a Doutora, no carro de trás, rezava para que ele não percebesse ser seguido, parecia estar distraído demais para notar qualquer outra coisa que não fosse a letra doentia da música hardcore que tocava no rádio de seu carro. Mantendo sua distância, Alana estacionou e se aproximou a pé do que parecia ser um pequenino museu ou uma galeria abandonada. Examinou o ambiente, cada passo dado com cuidado, conseguiu adentrar o lugar sem emitir sons notáveis, mal controlando sua respiração. Não poderia se aproximar mais, precisava se esconder e esperar todos deixarem o lugar novamente para tentar chegar até Ian. Mas onde se esconderia? Explorou um pouco mais a frente até encontrar uma saleta. Se esconder no banheiro seria muito arriscado, por mais que não funcionasse, "Se algum deles tiver um piriri, posso ser descoberta.". A sala, com apenas uma mesa e uma cadeira corroída por cupins, um armário de ferro destruído no canto e uma lâmpada queimada, cheirava a mofo, aliás, o lugar todo cheirava a mofo, o que a fez desejar não estar ali. O dia caíra e as janelas não eram suficientes para iluminar o lugar. Ficou atenta aos barulhos para saber exatamente quando todos deixassem o local, mas acabou ouvindo os gritos incessantes de dor no andar de baixo. Era a voz de Ian, tinha certeza. Se acostumara o suficiente com a voz do rapaz para reconhecê-la. E aqueles gritos eram similares aos resmungos que ouvia sempre que fazia um curativo ou o costurava, mas muito mais carregados e muito mais roucos, como se ele já estivesse cansado de gritar, como se já não tivesse mais forças e não encontrasse outra maneira de aguentar a dor a não ser gritando. Alana tampou a boca com a mão e fechou os olhos com força, lacrimejando por imaginar a dor do rapaz e se segurando para não descer e fazê-los parar à força, primeiro, porque não conseguiria parar Rupert e, segundo, não poderia se expor, seria expulsa e não conseguiria soltar o rapaz. A espera e os gritos duraram por algumas horas. Ela não sabia o que fazer para chamar a atenção dos seguranças e obrigá-los a parar com a tortura. Ficar ali parada estava deixando a Doutora ainda mais nervosa e impaciente. Tentava se convencer de que eles não o matariam, não o matariam, precisavam dele vivo. Precisavam descobrir tudo e Ian não cederia por nada. Conhecia o rapaz. Olhou no celular e eram onze da noite quando ouviu Rupert subir as escadas conversando sobre assuntos aleatórios com Isabela. Ouviu a porta bater, o carro dar partida e se afastar. E, então, silêncio.

O Fim Do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora