Capítulo 42

1 1 0
                                    


Ian acordou sábado, abraçado com Angelina debaixo de cobertas felpudas. Não sentiu vontade de levantar, mas precisava botar sua vida em ordem. Tentou não fazer barulho ao levantar para não acordar a pequena e, após uma rápida rotina matinal, imprimiu alguns currículos, mas deixou-os sobre a mesa, não os entregaria em lugar algum até estar zerado com seus assuntos pendentes.

Colocou a filha no carro e, antes de dar a partida, teve uma conversa séria com a menina sobre Vincent não ser o pai verdadeiro do rapaz. Explicou a diferença entre pai adotivo e pai biológico, o que não era novidade para Angelina, sempre muito inteligente. A menina não achou nada ruim, mas ficou triste ao saber sobre o estado crítico de Vincent e que ele provavelmente não voltaria. Não disse nada sobre Marvin, afinal, nem ele mesmo saberia o que dizer ainda. Dirigiu até a mansão do governador. De mãos dadas com a menina, chamou no portão por ele.

— Meu nome é Ian Hergie. Preciso conversar com o governador Price.

— O governador não se encontra no momento. - Soou uma voz masculina no identificador.

— Posso aguardar?

— Não tenho autorização para liberá-lo, senhor. E não temos previsão de quando ele voltará.

Ian voltou para o carro sem insistir mais. Ficou brincando com a filha um jogo de palavras à espera de Marvin, e o tempo passou rápido. O governador levou aproximadamente duas horas até dar sinal.

— Não saia daqui, macaquinha. Voltarei num segundo. - Ele ajeitou o vestidinho da filha e desceu do carro, se apressando atrás do carro de Marvin, prestes a entrar pela garagem. - Senhor governador, senhor governador. - Chamou.

Marvin abaixou a janela e tirou os óculos de sol para mirar no rapaz.

— Olá, garoto. Algum problema?

— Preciso conversar... Sobre Vincent. Tem um minuto?

— É claro. Vou liberá-lo na portaria.

— Não, senhor. É bem urgente.

Marvin o encarou insatisfeito, desligou o carro e desceu, esperando pelas palavras de Ian. O rapaz controlou a respiração ofegante para depois começar a falar.

— Qual o nome de sua esposa?

— Por quê? O que tem ela?

— Qual o nome dela? - Perguntou ele, firme, porém terno.

— Grace.

Fim. Era o que o faltava para suas suspeitas se concluírem.

— Senhor, há 26 anos, - a emoção transpareceu nos olhos de Ian. - o senhor teve um filho, - Marvin endireitou a coluna, interessado e lacrimejante por ele ter trazido memórias infindáveis. - Um filho que foi roubado? - Marvin assentiu lentamente. - Acho que a vingança de Vincent foi bem mais planejada do que pensávamos. Eu não sou filho dele, senhor.

— Você... - Sua voz falhou. - Você é o meu Lucas? - O governador pegou nos ombros de Ian, talvez ele estivesse mentindo, talvez a vingança ainda estava em jogo, mas, após a conversa na cada da Doutora, podia sentir a sinceridade no tom do rapaz.

— Lucas? Esse é o meu nome? - Ian assentiu esboçando um sorriso. - Eu não quero o seu dinheiro, eu não quero nada que... Posso até fazer um teste de DNA para comprovar. Só achei que o senhor e sua esposa deveriam saber. - As lágrimas lutavam para cair. Marvin interrompeu os pensamentos humildes do rapaz com um abraço apertado.

— Eu não acredito. - Marvin xingava Vincent mentalmente e sorria por ter o filho que nunca pensou que veria novamente nos braços. - Rezo todas as noites para que Deus tenha lhe dado uma vida boa. Para que tenha valido a pena aquele sofrimento.

O Fim Do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora