Capítulo 33

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 Ian pensava em diversas maneiras diferentes para fugir daquele lugar, mas estava fraco demais e os seguranças estavam armados do lado de fora. Nada adiantaria, nem sua ideia mais brilhante de esfregar as próprias fezes na cara de ambos para distraí-los enquanto corria.

Segundo as gotas, quatro horas depois de ter despertado, em vez de Isabela vir lhe entregar a refeição catastrófica do dia, Bravo e o ruivo entraram novamente, colocando-o na mesma posição amarrado à cadeira de madeira.

— Resolveu falar? - Perguntou o ruivo. Bravo sempre com os braços cruzados atrás dele, esperando pela ordem de acertar um soco na mandíbula do rapaz.

— Pode me trazer um copo de água, por favor? - Pediu Ian nada abalado.

Um aceno de cabeça foi o suficiente e Bravo acertou Ian no estômago.

— Quer mais um copo ou esse lhe satisfez? - O ruivo ria como se estivesse em um show de entretenimento.

Ian contraiu o corpo o tanto quanto conseguiu, o que não foi muito por tendo os braços amarrados, em seguida, recebeu outro soco de Bravo na bochecha. Cuspiu o sangue, sentindo o gosto de ferro e a dor em todos os cortes de sua boca, levantou o rosto, ainda se mostrando nada abalado.

— Quem lhe enviou? - O ruivo tirou o canivete do bolso e, com ele, levantou o queixo do rapaz um pouco mais.

O silêncio pairou enquanto ambos se encaravam. Até o ruivo se abaixar perto de Ian e sentar no chão de frente com ele. Ian sentiu a lâmina do canivete deslizando levemente pelas costas de seu pé dormente, como uma ameaça.

— Se querem me matar, por que continuam me alimentando? - Sua voz falhou.

— Não queremos lhe matar, querido. - Respondeu. - Queremos apenas saber quem lhe enviou e por que está fazendo isso. Vamos libertar você assim que soubermos. - Mas era mentira, eles não lhe libertariam, eles lhe matariam, Ian sabia; assim que sua vida não fosse mais necessária, eles lhe eliminariam. Melhor então prolongar o quanto pudesse para dificultar ainda mais a vida desses miseráveis.

— Eu não sei do que estão falando. Ninguém me mandou fazer nada.

— Ora, - Ele ria como se tivesse o contado uma piada. - não me venha com essa. Já disse a você que minha paciência é curta?

E, com toda raiva que sentiu da resposta imbecil de Ian, enterrou o canivete em seu pé. A dor fez Ian gritar. Pensou que não sentiria por seu pé já ter congelado, mas nada como um pequeno corte para mostrá-lo que ainda estava vivo. O suor corria frio pela testa do rapaz. Sua respiração estava pesada e as dores só aumentavam, no estômago, nos braços, agora no pé, que achou que nem voltaria a senti-los, e sua cabeça latejava, não sabia se era fome, sono ou um possível tumor que o consumiria até a morte.

— Eu não quero ter que fazer essas coisas, Ian. - Reclamou o ruivo, ainda sorridente. - Mas são ordens do patrão. Então, me diga logo para que ambos possamos descansar.

— Meu nome não é Ian, não sei do que está falando.

Outra enterrada de canivete em seu pé. Outro grito ecoou pelo ambiente vazio. A dor subia do pé caminhando por toda a perna, como se tivesse acertado um nervo conectado a todo seu corpo. O homem tirou um isqueiro do bolso da jaqueta e acendeu. Respirou fundo.

— Me ajude a lhe ajudar. - Ele encarou insatisfeito a respiração ofegante de Ian.

A resposta do rapaz foi cuspir em sua cara com toda sua fúria e rir. O ruivo limpou o rosto ligeiramente com o pulso e não esperou ser debochado, acendeu o isqueiro e aproximou da mão de Ian. O rapaz não moveu um músculo sequer, sabia que não adiantaria desviar. O fogo estava inicialmente apenas o aquecendo, mas eram dois extremos dolorosos, não conseguia mover a mão pelo frio ter congelado suas juntas e o fogo começava a arder nas pontas de seus dedos, o suor corria gelado em sua testa e em seu peito. Seus dentes rangeram tentando suportar a dor.

— Você sabe o quão fácil é para essa dor acabar. - Disse, sem desviar a atenção do isqueiro. - Só basta... - Aproximou um pouco mais o fogo. - Você responder... - Um pouco mais. - Quem lhe enviou?

— Eu vou fazer você pagar por isso. - Ian soou rouco com a mandíbula contraída. - Guarde minhas palavras. Você vai sofrer, pelas mesmas mãos que você queima.

— Rupert, pare, está o queimando. - Interrompeu Isabela, entrando e assistindo ao show de camarote quando os dedos de Ian já estavam quase queimados.

Então seu nome era Rupert, combinava com a cara do miserável. Ian contraiu os dedos pulsantes e vermelhos os esfriando na palma gelada de sua mão.

— Você ouviu o chefe. - Rupert se voltou a Isabela. - "Faça-o dizer.". A propósito, ele teria lhe apagado no restaurante, porque está do lado dele agora?

— Não estou do lado dele. E no restaurante estávamos lutando de igual para igual. Eu teria o maior prazer de acabar com a raça dele se não estivesse nessa situação lamentável.

— Quer que ele recupere suas forças? Para conseguir derrubar você novamente, pegar uma arma e puxar o gatilho na sua boca?

— Ah, - Reclamou Ian - por favor, calem a boca. Suas vozes são piores do que aquele isqueiro. Me queimem até a morte se estiverem a fim de continuar essa conversa aqui dentro.

Rupert levantou as sobrancelhas para Isabela com um sorriso irônico e acertou um soco no olho de Ian. O cheiro de sangue naquele momento era mais forte que o cheiro de mofo que tinha se acostumado nas narinas do rapaz. Ian sentiu falta do gosto de vinho, agora o único gosto que sentia era o de ferro. Alguém precisava tirá-lo dali. Mas quem notaria sua ausência? Vincent ficaria dias esperando que ele entrasse em contato, só para não se dar ao luxo de o filho achar que ele se importa demais. Eliot estava ocupado demais com os estudos. Provavelmente já havia sido demitido e substituído na boate. Talvez Angie reclamasse para Alana e a Doutora seria obrigada a procurar por ele quando, vendo que ele não atendia os telefonemas, seria forçada a ir à casa do rapaz à sua procura e encontraria uma casa arrombada. Zoey talvez se preocupasse, mas o máximo que ela faria seria mandar algumas mensagens querendo saber sobre seu paradeiro ou até mesmo terminando o relacionamento por deixá-la sem notícias por tanto tempo. Nolan também era uma opção, mas este não se preocupava quando não incomodado. Era isso, seu futuro estava nas mãos de uma louca que o odiava, mas que, estranhamente, tinha lhe despertado uma vontade que há muito não sentia, talvez pelo ódio, talvez por ser errado ou contra, talvez por ela não querer, talvez por ambos quererem e nenhum assumir.

— Jeff, - Rupert acenou para Bravo. - Faça-o dizer. - Repetiu as palavras de seu chefe.

Bravo, agora Jeff, com toda sua paciência e calma, se aproximou de Ian e bateu uma mão em cada orelha sua com toda sua força, isso causou um vácuo que abalou todos os miolos do rapaz e o deixou fora de órbita por um longo momento, com um apito soando em sua mente, antes que pudesse voltar a si, Jeff pegou impulso de baixo e deu um murro em seu queixo.

— Ele não vai dizer. Continuar o espancando não trará resultados. - A voz de Isabela soou abafada em seus ouvidos ainda entupidos.

— O que você sugere, então?

— Ele tem filhos, se você não sabe. Melhor do que o torturar é torturar alguém que ele ama.

Ian a encarou perplexo, com os lábios moles e sangrentos. Seu coração parou e acelerou em seguida. Não, ela não tinha dito aquilo. Como teria coragem? Talvez só quisesse assustá-lo. Alana agora mais do que nunca teria que manter os olhos na menina. O que estava em seu estômago, a pouca comida do dia anterior, voltou à tona pela sua garganta e se esparramou de forma grotesca pelo chão, sobre os pés de Jeff. Tudo de repente era um borrão. Seu pescoço já não era o suficiente para sustentar a cabeça, deixou-a cair para trás e, se não estivesse sentado e amarrado, teria caído. Não ouvia mais nada, não via mais nada, não sentia mais nada. Desmaiou e, para seu descanso mental, foi o sono mais longo que teve naquele lugar.

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