prólogo

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Aos que nos apoiam: comemorem o triunfo,

"Protejam o REI!"

Os gritos dos guardas reais ecoavam pelo vilarejo, mas eram inúteis. Qualquer um com olhos podia ver a morte se aproximar, mórbida e lentamente, daquele considerado o intocável, o ser mais protegido de toda Idália e detentor da vida mais valiosa de todo o reino.

Alguns olhavam com admiração e diziam que aquele era o destino de quem vai contra os deuses, outros fugiam imaginando que seriam os próximos, mas poucos sabiam da verdade como nós.

O Rei tinha as pupilas dilatadas e o característico amarelo alaranjado, o âmbar, de seus olhos quase se esvaia pelo medo. Ele sabia que estava perdido, sabia que ia morrer e que era uma peça descartável sendo jogada no lixo.

Logo todos os guardas estavam mortos e o Rei possuía apenas uma espada em mãos e zero vantagens ao seu favor. Seus dedos tremiam e por um segundo ele cogitou lutar contra nós, mas surpreendentemente largou sua arma no chão e arrancou toda a vestimenta que mostrava o quão poderoso ele deveria ser. Sua dignidade não existia mais e constatamos isso no momento em que se ajoelhou e com lágrimas rolando em seu rosto juntou as mãos suplicando pela vida.

De fato, é curioso ver alguém implorar em prantos pela própria vida da mesma forma que seus condenados, nosso povo, implorou antes de encontrar seu fim nas mãos do digníssimo Rei.

É esse covarde quem deveria ter todo esse poder em mãos? Um Rei nefando, fraco e egocêntrico "cuidando" da nossa pátria? Não.

Todos sabem que não é ele, e muito menos seus herdeiros, quem deveria desemprenhar este papel e é nosso dever evitar que isso aconteça, mesmo que demore muitos ciclos nós iremos acabar com a erva daninha que a casa Rithele se tornou e trazer novos ares para um país que está à beira da decadência.

E é por isso que nenhum fiel se opôs ao momento em que cravamos uma espada no pescoço do que um dia chamaram de Rei, o matando pelas costas, tão covardemente quanto o mesmo sempre fora para com os seus próprios súditos.

O grito da vitória, da emoção de um grande passo como esse ecoou por todo o lugar e arrepiou absolutamente todos. Nada apaga a emoção de uma conquista como essa e irei lhe poupar dos detalhes da comemoração, mas acredite: ela foi grande e graciosamente doce, assim como o gosto da vingança.

Colocamos a cabeça do Rei reduzido a nada numa estaca e bebemos olhando-a durante toda a noite, mas pessoalmente me certifiquei na manhã seguinte de que a mesma fosse mandada numa bela caixa de presente para a preciosa e supostamente íntegra, família real. Garanto que eles terão um ótimo apetite.

Meu aliado, só não vê quem não quer, a ascensão está mais próxima do que nunca e nós estamos sedentos por ela.

O fogo está se espalhando, lento e impiedosamente, e nós ressurgimos das cinzas.

Essa foi a primeira gota de sangue significativa derramada, o primeiro passo rumo à ascendência e ao novo mundo, mas ele foi o mais fácil perto do que está por vir e tudo o que desejo aos que não estiverem ao nosso lado, é que rezem clamando por piedade, pois nós não a teremos.

Trevo

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