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CELESTE TROLLOPE

Com a cabeça orgulhosamente erguida, ela caminha graciosamente até a entrada do local. Os passos confiantes e calculados quase a faz parecer um airoso ser da luz, é de se admirar, como uma pessoa pode sustentar tantas facetas.

Eu estou num canto oposto do lugar, coberta por um manto quente (com capuz), enquanto observo o comportamento das pessoas a minha volta. Sim, pessoas, pois no final das contas todos somos pura essência e é nisso que as Sagradas acreditam. É engraçado o quanto todos evitam usar termos generalistas, pois a mistura é uma ofensa, a comparação é uma ofensa.

Seguro uma das pontas de meu cabelo cobre, demorando-me em meus pensamentos, antes de resolver, por fim, acompanhar a infanta. Preciso desesperadamente sair desse lugar sujo, não literalmente pela sujeira e sim pelas pessoas sem moral ou respeito aqui presente "se divertindo" — palavras deles, não minhas — com mulheres e bebidas que, apesar de poderem ser compradas, não os pertencem.

Algumas Sagradas eram como as mulheres libidinosas frequentadoras deste bordel, mas encontraram seu caminho, encontraram algo pelo qual vale defender e morrer, caso preciso. Para as Sagradas não existem distinções, desde que uma mulher, pode se candidatar ao grupo, a causa, e fazer parte dessa família.

Até eu como uma filha renegada de um inimigo estou prestes a conseguir.

Eros Trollope cometeu muitos crimes contra coroa, acreditou ser a voz dos lordes e do povo, mas se enganou terrivelmente e foi encurralado e derrotado numa noite onde as estrelas brilhavam e Selena estava completa no céu, mas — de alguma forma desconhecida por mim — conseguiu negociar sua vida em troca de quase todas as suas riquezas, sendo exilado junto ao filho, supostamente eu deveria estar junto a eles, mas o homem me deixou para trás junto ao cadáver da minha mãe — morrera durante o conturbado e inoportuno parto —, como um presente para seus inimigos e cá estou eu, pagando por seus crimes e servindo aos Rithele, por enquanto. Ao me juntar as Sagradas estarei livre de tal obrigação.

Entretanto, não o culpo, ter uma família de verdade sempre fora meu sonho, mas em quais condições? Talvez a essa altura os dois já estejam mortos, as notícias sobre os mesmos pararam de chegar a pelo menos três anos — ao menos é o que Elara me conta.

Não há muito quanto ao que reclamar, apesar do trabalho integral, nunca fui abusada ou seriamente machucada, Elara me trata consideravelmente melhor do que as outras servas e principalmente do que as Melindrosas, talvez seja porque sempre estive ao seu lado e a mesma tenha se acostumado com o meu jeito.

— Majestade — saúdo-a ao me aproximar o suficiente, reverenciando-a rapidamente.

— Pensei que estaria do lado de fora, evitando toda a podridão desse espetacular lugar — ela diz, casualmente.

Há olheiras abaixo de seus olhos, denunciando as noites sem dormir, mas em momento algum ela dá indícios de cansaço, é como se sua mente estivesse a mil, mais acessa do que nunca.

— Pediu para que eu permanecesse lá — lembrei-a, a voz calma como sempre.

Foi rápido, mas pude ver o canto direito da sua boca se erguer.

— Estava testando-a, qualquer outra já teria dado uma desculpa qualquer e escapulido para o lado de fora — admitiu, ainda caminhando como se o universo se moldasse a ela. Já tentei caminhar dessa maneira, nunca o fiz com tal ímpeto.

— E é por isso que eu sou sua favorita — arrisco dizer, com um rápido sorriso e uma dose de pretensão na voz.

Vejo-a dar de ombros.

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