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ELARA RITHELE

Fecho os olhos fortemente, tentando controlar a onda de ódio que ameaça me dominar.

— Eu não posso sumir por menos de uma hora que vocês fodem com a coisa toda! — Apesar da minha vontade ser gritar a plenos pulmões, consigo manter a voz contida e firme. — Você disse que ficaria responsável, Athos! Como deixou as coisas saírem tão do controle? Ao que parece, preciso repensar em quem deposito minha confiança.

Meu primo não demonstra nenhuma emoção, além do arrependimento. O querido está em pé no meio do círculo composto por aqueles que deveriam me ajudar nesse ofício, mas falham consecutivamente, me encarando como se estivesse de mãos atadas e realmente está.

A verdade é que estou completamente cercada por idiotas que não sabem fazer nada direito.

Eram ordens simples e diretas: manter tudo calmo até que eu retornasse, mas aí eu volto e meus prisioneiros viraram cinzas, há umas dezenas de mortos no centro da pequena cidade (porque esses ineptos permitiram que dessem início a um motim), minha barraca foi tomado pelo fogo, não um fogo acidental, um fogo provocado e o culpado é alguém diretamente ligado a tal Trevo que esteve em nossas mãos, mas adivinha quem o deixou escapar?

Tudo sempre precisa ser feito por mim. Sem a minha supervisão tudo sai do controle e isso é extremamente irritante.

Cada um aqui foi escolhido praticamente a dedo, incumbidos do maior dever e honra que qualquer idáliano conhece e espera: vingar seu rei. Mas a imbecilidade os faz falhar vez após a outra, decepcionando não apenas a mim e meus conterrâneos, mas aos deuses que sempre me apoiam incondicionalmente.

— Não vai tentar se defender? — Vou instintivamente em sua direção, o dedo indicador apontado para a sua face e a mão coçando para lhe dar um tapa, quem sabe assim ele acorde de seu delírio.

— Eu errei. Não há defesa para isso, mas o silêncio não quer dizer que não irei repará-lo, apenas que aceito suas represarias — Athos se mantém equilibrado, afinal sempre sabe as palavras certas a usar e essa é uma das razões do porquê o mantenho ao meu lado.

— Se agisse tão bem quanto fala, já estaria longe, priminho — lhe direciono um sorriso amargo, antes de abaixar a mão e dar as costas para ele, afim de conversar com todos ali presentes. — Preciso de voluntários para permanecerem aqui, não há como adiar a minha volta a capital, mas claramente o trabalho neste lugar ainda não acabou.

— Eu fico — Athos se prontifica, antes que qualquer outro possa sequer pensar em proferir as palavras.

— Você não, já tenho uma incumbência para ti — sequer me dou o trabalho de olhá-lo ao respondê-lo.

— Eu e meus homens nos oferecemos para permanecer aqui — diz, ao passo que recompõe sua postura antes ligeiramente desleixada. Ozias é o braço direito do ex-comandante Edgell, o mesmo que crê piamente que irá herdar o cargo do falecido, o meu futuro cargo. Não confio completamente nele, mas em sua defesa não confio plenamente em ninguém, mas tê-lo longe pode ser vantajoso. É como desfalcar a concorrência.

— Ótimo, junto a você deixarei algumas das minhas melhores Pugnadoras e espero que as mesmas sejam bem tratadas — informo, caminhando em sua direção.

Analiso o homem de cima a baixo. Não é tão velho quanto o antigo mestre e, apesar dos eventos atuais, a anos vem mostrando bons resultados que o tornam apto para o posto, mas lhe falta uma vagina entre as pernas, lhe falta determinação e predestinação, lhe falta ser eu.

— Não irei lhe decepcionar, majestade — ele abaixa a cabeça solenemente, curvando-se, mas algo dentro de mim sabe que é uma ação unicamente teatral.

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