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SURI IVEY

Desde pequena fui avisada de que o mundo seria cruel, para mim, em especial, mais doloroso ainda, já que havia nascido na lua errada.

E acima de tudo severo porque os deuses não me abençoaram como aos outros.

Mil e uma razões pelas quais eu sou insignificante.

Errados. Todos estão errados.

Mas jamais irão admitir isso, não até que a mais graciosa das víboras os esteja apertando até os ossos.

Esse foi o primeiro erro do grande soberano Kabir Rithele, agora rei dos mortos: me subestimar.

Todos acham que me resumo a uma Melindrosa nascida do sangue dourado e com a sorte de me elevar como rainha, o maior status social que mulheres como eu podem alcançar, eles me rebaixam a uma figura inanimada e mal veem as minhas mãos moldarem o destino de cada infeliz.

— Não entendo porque se prestam a todo esse espetáculo — Lorde Idril Ivey, meu pai, está com um dos braços entrelaçados aos meus enquanto observa o templo com seu olhar marcado pela idade. — Ninguém se importa com o maldito Kabir — há desprezo em cada silaba, se cuspir na direção da pintura de meu falecido marido não chocará ninguém.

— Tenha mais respeito pelos mortos, papai, ou o levarão consigo — minha voz sai num subliminar aviso, meu rosto permanece com as falsas marcas de cansaço.

Idril sempre fora o único a acreditar em meu potencial.

Quando todos, inclusive minha mãe, o julgaram como louco por dar-me a mesma importância do que a meus irmãos, ele não vacilou.

Desde pequena o ouço dizer sobre como seus olhos brilharam ao me ver e de como, desde o princípio, viu algo na pequena garota com inteligência para as palavras e sutileza para farsas.

Ele sempre soube que eu seria o princípio para a elevação da casa Ivey e não está errado.

— Jamais houve morte mais vergonhosa do que esta — comenta meu pai enquanto organiza os fios grisalhos em sua cabeça. — Morto por mortos de fome? — Ele bufa. — Não sei como conseguia encarar o fracasso diariamente.

— Depois de um tempo você aprende a tolerar.

— E onde estão os imprestáveis dos seus filhos? — A impaciência está evidente em sua voz.

— A última vez que ouvi falar em Kael ele estava galopando.

— Sério? Em quem? — Provoca. — As visitas masculinas ao quarto do príncipe vêm aumentando drasticamente nos últimos anos, se alguém o descobrir seu nome cairá em desgraça.

— Deixe o garoto aproveitar, logo estará preso a insuportavelmente alegre Aileen Yule — encaro a infame Desirée do outro lado do templo, com as mãos postas atrás de seu vestido sem qualquer volume e o cabelo prezo em tranças. — Aquela garota é boba demais, me irrita mais do que a mãe.

— Você nunca gostou de pessoas felizes demais — observa.

— Pessoas felizes são alheias a realidade e morrem cedo — justifico, pousando meu olhar em outro canto do templo.

— E Elara?

— A egocêntrica deve estar soltando fogo pela boca, achando que pode tudo — desdenho. — Logo estará aí, irritando-me.

— Seu amor por seus filhos é, de fato, admirável.

Reviro os olhos.

— Meus filhos são a maior decepção da minha vida e, além do mais, não pertencem a casa Ivey, não nos honram como ao pai morto.

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