AILEEN YULE
Eu tive a certeza de que ninguém viria dois dias depois de ver o bilhete do meu pai.
Antes disso eu nutria a mais indestrutível esperança e olhava para a janela imaginando as inúmeras formas com as quais eu poderia ser resgatada, mas agora há apenas... incerteza.
Chorei praticamente o tempo todo, não me arriscava a sair do quarto — não que eu tenha qualquer liberdade aqui dentro, eles me mantem sob vigília constante e a única vez em que consegui ficar sozinha do lado de fora para caminhar, vi ele. Queria saber algo sobre Mitram, saber se existia alguma possibilidade de ele se apiedar, de me deixar voltar, e o observei por algum tempo, mas então ele me viu e eu descobri que não consigo encará-lo. Por medo, talvez, não exatamente dele, mas sim pelo o que ele representa.
Fora fácil me manter afastada de Mitram em todas as vezes em que o mesmo esteve aqui, em parte porque ele também não demonstrou qualquer interesse em me ver (e eu agradeço por isso), mas eu sempre soube que não sustentaria essa situação por muito tempo, então quando Zandra entrou no quarto retesada e com o olho roxo, soube que algo ruim tinha acontecido e que, de alguma forma, isso se estenderia à mim.
— Eu tentei te ajudar — murmura ela tristemente, meu coração se parte no mesmo instante. Isso é culpa minha. — Mas lorde Rodwell não me escutou. Precisará sair daqui hoje, irá caminhar no centro da cidade com o seu noivo.
— Ele não é meu noivo — me prontifico em dizer de forma afobada.
— Ah! Pelos deuses, Aileen! — Exaspera repentinamente, a voz ríspida de uma maneira que nunca a vi usar. — Não entendo qual o grande problema em se casar com um líder. Ele não é feio, nem velho, está no auge dos vinte e três anos e também não parece o tipo de homem que bateria em uma esposa. Oh! Pobre de ti, destinada a ficar recoberta de joias e quem sabe até se tornar rainha! A maioria de nós não tem sua sorte, sabia? Obedeça a seu pai e se case, pare de choramingar, cumpra seu dever como Melindrosa. Pare de pensar no que perdeu e aproveite o que tem, ao menos lhe restou alguma coisa.
Zandra é a única que me traz algo semelhante com conforto aqui, a única que me ajuda na medida do possível, está comigo o tempo todo e evita que eu enlouqueça, mas essa aproximação trouxe uma intimidade que as vezes me arrependo de ter cedido. Ela é uma boa pessoa, mas simplesmente não entende o meu lado.
— Eu não o amo.
— Humpf! Ninguém se casa por amor, Aileen, não de verdade. Pare com suas fantasias bobas.
— Não pareciam bobas para ti no começo, muito pelo contrário, sempre que tocamos no assunto posso ver seus olhos brilharem. Você também acredita no amor e está diante de uma dessas histórias românticas e quer me empurrar para o cara mal da história? Quer separar o casal feliz e destruir as chances de um "felizes para sempre"?
— Lorde Rodwell está certo, você fica colocando ideias idiotas na minha mente. Chega de ilusões, Aileen, histórias não passam de fantasia, não existem. Eu ganhei um olho roxo por me deixar levar por suas investidas, mas isso não tornará a acontecer! Se não posso colocar juízo na sua cabeça, pois bem, que você sofra as consequências de suas próprias escolhas de maneira violenta.
— Não vou me desculpar — digo com firmeza, ao passo que dou as costas para sua presença. Não preciso de uma empregada de onze anos como aliada, quando tudo isso passar não farei questão de defender ninguém nessa residência.
— Não preciso das suas desculpas, milady.
Sua réplica me deixa nervosa e instintivamente começo a mordiscar a parte interna da minha bochecha. Não deveria ser tão severa, ela tentou me ajudar...
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IDÁLIA
Fantasy"O fogo está se espalhando, lento e impiedosamente, e nós ressurgimos das cinzas". Você é o que nasce, como o mundo te verá é definido antes mesmo de seu primeiro suspiro e não há nada a ser feito para mudar tal fato. Em Idália as pessoas são dividi...