ALERTA DE GATILHO: ABUSO (Não é algo explicito e completamente pesado em minha opinião, mas cada um é cada um e nunca se sabe, por isso resolvi avisar [é apenas no começo do capítulo, então para indicar o fim da cena eu coloquei uma frase em negrito)
SURI IVEY
Suas mãos deslizam pela saia do meu vestido.
Apesar de não ser um contato direto contra a minha pele, posso sentir o incomodo se instalar, junto ao costumeiro nojo.
Sua respiração se aproxima do meu ouvido — ela é acelerada e involuntariamente me dá nos nervos.
A outra mão agarra meu pescoço, puxando-o para trás contra a minha vontade.
E num piscar de olhos estamos sozinhos. Não que haja qualquer pudor ou vergonha, os empregados apenas não querem testemunhar o que vem a seguir — mas não se confunda: eles não se importam. Afinal é algo normal, algo esperado de uma esposa, ainda mais de uma rainha. Herdeiros e a satisfação de meu marido é tudo o que realmente importa, jamais a minha vontade ou integridade. Tenho uma posição elevada e mais direitos do que outras Melindrosas, mas isso não me dá a liberdade de negar ou ter qualquer superioridade sob meu proprietário — pois no final das contas é como realmente me enxergam: uma propriedade.
Apenas opto por fechar os olhos e permanecer calada.
Já tentei lutar contra isso em todas as outras vezes e falhei em cada uma.
Por mais que meu instinto grite veementemente para tentar, para não compactuar com isso, não ajo. Já está bem claro que, não importe o quanto eu tente, entre essas paredes todo o meu poder se torna nulo e cada protesto apenas pioro as coisas, prolongando o pesadelo e suas certeiras marcas.
— Estou domando a fera? — A voz de Kabir desperta em mim o meu pior lado, um ódio profundo impossível de descrever em palavras. Pelo seu tom, sei que ele está se deleitando da situação e que obviamente se encontra bêbado. — Vamos lá, torne isso divertido.
Ao perceber que não iria responder suas provocações, o homem aproxima os lábios cuidadosamente do meu ouvido direito, mordiscando-o com uma falsa gentileza e em seguida circula meu pescoço com seu braço, antes de apertá-lo com uma força esmagadora.
Consigo sentir cada centímetro que ele toca queimar. A dor se alastrar. As lágrimas começarem a cair, enquanto minha busca instintiva por uma mísera partícula de ar se tornava completamente audível.
— Se você respira, é porque eu permito que o faça — sopra contra minha orelha, o tom ameaçador e calculado. — Nunca se esqueça disso.
Ao longo dos anos desenvolvi a habilidade de me manter neutra, de nunca me exaltar frente aos outros, mas foi apenas com Kabir que a luz em meus olhos se apagou. Com ele aprendi da pior forma a fazer joguinhos emocionais e a permanecer fria, pois, como meu marido diz, sentimentos são uma fraqueza e enquanto você os demonstrar outras pessoas estarão ali para pisar neles.
Kabir se diz altruísta, diz fazer todas essas coisas para o meu bem, para ensinar sua esposa a se proteger de seus inimigos, mas tenho a perfeita consciência de que ele faz isso porque gosta, porque em sua mente doentia é algo que o proporciona prazer, mais do que se deitar com suas inúmeras prostitutas.
— Melhor assim — diz, ao passo que desfaz seu aperto e toma uma de minhas lágrimas em seu indicador esquerdo, admirando-a.
Tento me curvar quando sinto o ar voltar a preencher meus pulmões e a constante sensação de morte diminuir um pouco, mas Kabir me prende contra seu corpo, me obrigando a senti-lo de uma maneira que jamais quis.

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IDÁLIA
Fantasy"O fogo está se espalhando, lento e impiedosamente, e nós ressurgimos das cinzas". Você é o que nasce, como o mundo te verá é definido antes mesmo de seu primeiro suspiro e não há nada a ser feito para mudar tal fato. Em Idália as pessoas são dividi...