HERON LAWFORD
Meus tornozelos ardem.
Posso apostar que essas cordas de merda estão deixando uma marca das feias.
Talvez se eu parasse de me mexer ajudaria, mas... Porra!
O que eu tenho na cabeça? Deveria ter ficado quieto, deveria ter deixado as coisas como deveriam ser: eu, um pescador em Hedda e a desgraçada daquela sardinha devia ir para Ivor ou qualquer outro lugar, desde que bem longe da minha presença.
Se ela estivesse aqui na minha frente, agorinha, iria escutar muitas coisas e depois eu partiria pra cima dela, torcendo pro elemento surpresa me permitir uma ferida, um pequeno ferimento, por ela ter desgraçado minha vida.
A plebe não faz caridade, mas nãããão eu tinha que fazer. Tinha que evitar que a garota fosse enviada para a morte certa e acabei enviando a mim.
Pra puta que pariu!
— Pare de resmungar, Heron! — A voz irritante e aguda de Aíbil adentrou o estabulo onde eu estou passando uma magnifica noite. Rá. — Sabe fazer alguma outra coisa?
Me virei e a encarei, seus olhos cor de merda — no caso uma merda estranhamente verde — vasculhavam o lugar extremamente sujo, ela torce o nariz, mas para ao ver que a estou encarando.
— Você tá péssimo — resmunga.
— Você sempre está horrível — respondo. Vejo uma de suas sobrancelhas se erguer e seu nariz soltar ar.
— Você é um amor.
— Venho ver a desgraça que causou? Espero que seja a altura das atrocidades que tenha imaginado — baixo o olhar para meus pés, enquanto tento afrouxar um pouco a corda.
Não funciona, posso ver uma parte da minha pele vermelha.
Meu coração bate forte contra o peito, pela tamanha raiva que sinto.
— Não venha jogar a culpa para cima de mim, o que você queria ser? O herói? — Sua voz carrega um tom de ironia e, ao erguer meu olhar, pego-a revirando os olhos. — Não sou uma Melindrosa em apuros, Lawford. Sei me cuidar.
Quis passar as mãos no cabelo, mas elas também estão amarradas, então me limito a jogar a cabeça para trás, claramente impaciente.
— Não fale meu sobrenome.
— Não me trate como uma toupeira! — Retruca.
Uno minhas sobrancelhas em confusão.
— Uma o quê? — Pergunto, minha voz sai mais aguda do que o esperado.
Ela se joga em um dos cantos e encosta a palma de sua mão na testa.
— Vai me explicar por que fez isso? — Sua voz está cansada, foi quando notei as marcas em seu pescoço, elas são retas e extremamente roxas.
— Parece que alguém apanhou — acuso, me acalmando um pouco.
A mão esquerda da Pugnadora vai para o local do ferimento, seus olhos ficam vazios.
— Foi por isso — admito.
Perdi as contas de quantas vezes a vi repleta de marcas por não ser suficiente, por não ser uma Pugnadora extraordinária e adorada pela tutora.
Não que eu ligasse muito, Pugnadoras precisam ser treinadas e não há espaço para fraquezas, mas eu tenho dó, Aíbil sempre fica com as tarefas nojentas e é excluída de tudo. Lembra a mim mesmo e talvez seja por isso que me aproximei da garota extremamente esquisita e suja. Por piedade, afinal, insignificância atrai insignificância.

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IDÁLIA
Fantasy"O fogo está se espalhando, lento e impiedosamente, e nós ressurgimos das cinzas". Você é o que nasce, como o mundo te verá é definido antes mesmo de seu primeiro suspiro e não há nada a ser feito para mudar tal fato. Em Idália as pessoas são dividi...