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HERON LAWFORD

Meu estômago revira e a bile sobe.

Eu deveria estar acostumado com cheiros tão fortes por conta do trabalho com a pesca e ainda mais pela captura de caranguejos na qual me aventurava pelo menos uma vez por semana, mas isso aqui é pior que tudo aquilo.

Não poderíamos simplesmente desmontar o acampamento temporário e seguir em frente? Por que se preocupar com a manutenção de um lugar que não irá permanecer por muito tempo?

Ao menos não estou realmente tocando em nada.

— Não acha que está demorando demais? — Alexis está ao meu lado, supostamente me ajudando a limpar toda essa porcaria.

— Seria mais rápido se você me ajudasse — digo, o rosto virado na direção contrária do balde de merda que seguro, o nariz contorcido e a respiração presa.

— Você não deveria estar acostumado? Não quero te julgar pela cara, mas digamos que sua situação financeira não aparenta ser das melhores e muito menos o lugar de onde veio, certeza que lá todos jogam estrume nas ruas — Seamark está encolhido, com a mão direita tampando o nariz e olhando para cima, numa tentativa de fingir estar em outro lugar.

Respiro fundo, mas me arrependo no exato momento que o odor repugnante invade minhas narinas. Merda, literalmente.

— Não, nunca precisei fazer isso — tento manter a paciência antes que as coisas piorem.

— E quanto a sua mãe?

— Eu estou te implorando: cala a boca.

Não quero me lembrar dela, não quero me lembrar do fato de que precisei me separar da pessoa mais importante da minha vida. Não há espaço para isso.

— Ela está viva?

— Se não calar a boca vou tacar esse balde em você.

— Onde está toda a tremedeira de ontem à noite? — Há diversão em seu tom de voz, o que só me irrita profundamente. Talvez conviver com ele seja mais um extra no meu castigo, não sei o que fiz contra os deuses, mas de certo foi o maior crime de todos. — Achei que iria gozar só por ouvir meu sobrenome.

Trinco meu maxilar, a raiva fluindo junto ao meu sangue.

— Me diga: é comum caminhar pela sua cidade e do nada ser atingido por excrementos sendo jogados da janela?

Sequer pensei duas vezes, o balde em minha mão simplesmente voa e todo o conteúdo dentro dele acerta em cheio o peitoral e parte do pescoço do idiota.

Eu já tolerei demais! Fazem pelo menos quatro horas que fomos despertos praticamente a pontapés e incumbidos da pior tarefa possível e esse caralho está me atormentando, falando constantemente na minha cabeça e reclamando sobre o quanto a roupa que nos deram é de segunda mão, dizendo que é praticamente um "saco de batatas", agora ele vem querer me ofender? Ofender a minha cidade e talvez até minha mãe? Pra puta que pariu!

— VOCÊ É LOUCO? — Seus braços estão abertos, o corpo inclinado para a frente tentando fazer toda a bosta escorregar para o chão, o rosto numa careta evidenciando o próprio nojo, mas sua voz mostra os sentimentos predominantes: fúria com um pouco de indignação.

— Do que está reclamando? Não está tão diferente de ontem à noite — provoco-o com um sorriso no rosto. — A verdade é que até combina. Aquela história de semelhante com semelhante, sabe?

Alexis tenta revidar e pela primeira vez toca em um dos baldes, tomando impulso para despejar todo o conteúdo em mim, mas é interrompido por uma das Pugnadoras que nos está vigiando.

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