*Maratona 4/5
AILEEN YULE
É como um cortelho.
Em todos os meus quinze anos de vida, jamais estive em um lugar tão... rebaixado. Chega a ser um insulto.
E a pior parte é que eu poderia me jogar no chão e ninguém notaria a diferença.
Sinto que meu corpo está envolto numa extensa e grossa camada de sujeira. Meu próprio cheiro me dá ânsia.
Evito flexionar ou aproximar qualquer parte do meu corpo uma da outra para não piorar a sensação.
Estou completamente humilhada.
Como se tivesse sido expulsa e renegada, jogada na rua sem nada além do vestido do corpo que já não é tão glamuroso quanto fora um dia.
A pequena cidade é simples, com pessoas medianas e aparência básica, em suma: é uma introdução ao vácuo.
Ninguém olha para mim mais de duas vezes, ninguém se pergunta porque três homens de aparência perigosa estão com uma Melindrosa claramente forasteira. Ninguém sequer retribui minhas tentativas de pedir ajuda e eu só percebo o porquê quando um mercador cumprimenta o líder dentre os meus novos sequestradores — levando em conta que os dois anteriores foram levados misteriosamente por outro indivíduo que também não quis me salvar — como "seu lorde".
O grisalho, suponho, é o lorde secundário deste... peculiar lugar, enquanto os outros dois são apenas soldados.
Quando, por fim, desisto de qualquer tentativa fútil de encontrar ajuda, abaixo a cabeça e foco meu olhar nos pelos brancos do cavalo, me concentrando apenas em segurar sua cela com toda a minha força para evitar encostar mais do que o necessário no homem atrás de mim que tem suas mãos nas rédeas e consequentemente próximas das minhas laterais.
— Já estamos chegando — é a primeira vez que ouso a voz do meu mais próximo companheiro de viagem, ela é monótona e indiferente, mas o aviso foi dito em voz baixa unicamente para mim, soando como um pequeno ato de piedade.
Não sei dizer se isso é algo bom ou ruim.
Não tenho ideia do que essa gente quer comigo e muito menos o que irão fazer — colaborando ainda mais para o aumento do meu desespero.
Me limito a assentir, recordando-me dos ensinamentos que tive "sempre que solicitado, fale, mostre que ouviu, mas jamais desdenhe ou aparente saber mais do que ele, ninguém gosta de sabichonas".
Pouco tempo depois, paramos em frente a um casarão — o mais bonito e maior, pondo em comparação as outras casas pelas quais passamos —, ao contrário dos outros ambientes da cidade que são extremamente próximos, ela tem espaço a sua volta, com campos, árvores, flores, algumas plantações e até consigo avistar uma criação de animais nos fundos. Foi preciso atravessar uma ponte para chegar aqui — o rio que passava abaixo dela aparenta demarcar a propriedade.
Não chega a ter uma aparência como as que estou acostumada, mas é a melhor que os vi oferecer até o presente momento.
O semi-grisalho líder foi o primeiro a descer e focar seu olhar no meu.
— Sou lorde Rodwell, Calix Rodwell — apresenta-se, abaixando ligeiramente a cabeça. — Imagino que tenha muitas perguntas, mas primeiro lhe ofereço um banho e roupas limpas — Calix mantém um tom afável, o que me dá esperanças de que tudo acabe bem.
O guarda atrás de mim desce do cavalo, mas permanece segurando a rédea do mesmo, provavelmente se certificando de que eu não tente nada ou que algum acidente aconteça.

VOCÊ ESTÁ LENDO
IDÁLIA
Fantasy"O fogo está se espalhando, lento e impiedosamente, e nós ressurgimos das cinzas". Você é o que nasce, como o mundo te verá é definido antes mesmo de seu primeiro suspiro e não há nada a ser feito para mudar tal fato. Em Idália as pessoas são dividi...