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CELESTE TROLLOPE

Não tive tempo sequer para refletir.

A Sagrada me interceptou antes mesmo que eu pudesse chegar ao meu aposento — na ala dos criados — e me deu apenas um segundo para decidir se iria me juntar a elas nas missões do dia ou não.

Nunca fui convidada para tal, antes eu era apenas cotada para o grupo, mas agora que fiz o primeiro passo para a iniciação, é normal que comecem a me inserir cada vez mais em seu mundo. E eu absolutamente amo isso.

Amo a perspectiva de fazer parte de algo maior do que eu mesma.

Aceitei sem pestanejar, sequer me importando com o fato de ter acabado de chegar de uma viagem e estar horrível e particularmente cansada.

E em menos de dez minutos fui enfiada em uma carruagem, junto à outras três futuras irmãs, rumo aos lugares menos frequentados da capital — por não expressar toda a sua grandiosa beleza e riqueza.

— Nervosa? — Pergunta Cerys, uma das minhas companheiras, a postura reta, mas o olhar na direção das minhas mãos, as quais estão unidas em meu colo efetuando pequenos movimentos repetitivos.

— Um pouco, não sei ao certo o que esperar — confesso.

— Nada bonito, disso tenha certeza — esclarece Dariela. — As pessoas que iremos ver foram abandonadas à própria sorte, desde bebés à idosos, não é algo fácil ou empolgante. Ao contrário da maior parte das Sagradas, cresceste envolta de riquezas, mesmo que elas não te pertençam, logo sua reação é de imensa importância.

— Arisco dizer que é mais uma maneira de Yeda te pôr à prova — diz Cerys.

Mais testes?

Como se lesse meus pensamentos, Cerys retoma:

— Mas não se preocupe, a iniciação está praticamente completa, não há mais volta. Entretanto Yeda precisa descobrir no que a senhorita se tornaria mais eficiente.

Assinto e foco meu olhar no lado de fora da carruagem.

A cada minuto nos afastamos cada vez mais do castelo, indo para o Oeste. É notável o quanto o pavimento vai ficando cada vez mais danificado e a beleza nas mais simples casas diminuindo drasticamente — agora a maioria é feita de madeira com falhas remendadas por outros pedaços de madeira. É mais deplorável do que Bjorn e eu não acreditava que isso fosse possível, ainda mais na tão esplêndida capital.

— Falta muito para chegarmos? — Questiono, ainda focada nos acontecimentos do outro lado da charmosa janela.

— Dez minutos, no máximo.

Algumas pessoas param o que estão fazendo e olham para a carruagem com certa desconfiança, atrevem-se até a sussurrar entre si e apontar para nós. Ninguém parece exatamente satisfeito com uma carruagem do castelo por este lado da cidade.

E aproveitando essa ligeira distração, uma criança — a qual julgo ser uma menina por conta do cabelo, já que aquilo que deveria ser seu vestido assemelha-se mais a um pedaço de pano amarelado, curto e cheio de buracos — se aproxima sorrateiramente de uma das únicas barracas de alimentos aparentemente não-tão-saborosos e furta um deles, enfiando-o dentro de algo que um dia pôde ser chamado de bolso.

Os eventos a seguir ocorreram de forma rápida. O vendedor se vira bem na hora, a menina põe-se a correr, mas é pega por um homem que ouviu o vendedor gritar "ladra". Ela esperneou, gritou, mordeu, tentou de tudo, mas o alimento é tirado de seu poder e devolvido ao dono.

— O que vão fazer com ela? — Pergunto, praticamente colocando minha cabeça do lado de fora para continuar observando a cena que está cada vez mais para trás.

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