AILEEN YULE
— O príncipe Kael deve estar arrasado — comenta Seren, minha dama de companhia, enquanto caminhamos pelo jardim com os braços entrelaçados. — Ter o pai morto de forma tão desonrosa... — ela nega com a cabeça, como se rejeitasse a verdade. — É, no mínimo, perturbador.
— De fato — concordo, olhando-a diretamente nos olhos. — Mas tenho certeza de que tal atentado não passará em branco e logo veremos as cabeças dos traidores sendo arrancadas de seus corpos.
— Os boatos são de que a princesa Elara está surtada, sedenta por sangue — Seren tem os olhos azuis, como a Áster cultivada no castelo, levemente arregalados. — Todos sabem que a Pugnadora não é famosa por sua compaixão.
— Não devia falar assim dela.
Elara Rithele não é alguém de gênio fácil, isso não há como negar, mas ela inspira respeito e honra pelo nome, pelo o que é, uma Pugnadora.
— Só porque ela será sua cunhada não precisa defendê-la, Milady.
— Não sabemos se ela será — me apressou em dizer enquanto foco meu olhar no chão, apesar de sempre me pegar pensando nessa farta possibilidade. Uma Melindrosa jamais pode parecer minimamente desesperada, ninguém gosta de tal característica.
—Você já tem idade para se casar, assim como ele, Milady — ela diz, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e realmente o é. — É um casamento vantajoso que sempre foi considerado.
— Eu sei, eu sei, mas temo que as coisas mudem, Seren — continuo na defensiva, revelando sem querer o receio que me domina desde a repentina movimentação política.
"Não demonstre sentimentos negativos, Aileen, ou não gostarão de ti" a voz da minha tutora de infância surge de pronto e me arrependo do comentário, mas o que está feito, está feito.
Seren demora alguns segundos para voltar a falar.
— Não irão, Milady — afirma, afagando meu ombro. — Já conversou com o príncipe depois do ocorrido?
A cena na sala de jantar do dia anterior fora de embrulhar estômagos.
Todos já estávamos no ambiente e conversávamos sobre banalidades, até a rainha notar a caixa de odor desagradável e tudo desmoronar após os gritos de uma das criadas ao constatar o que havia ali dentro.
Tudo o que veio a seguir foi rápido demais.
Perturbador demais.
— Não, as coisas estão corridas — me limito a dizer.
Os preparativos para a cerimônia que unirá o rei aos deuses — que acontecerá hoje ao entardecer — estão sendo feito às pressas, o estado de luto foi decretado e todos os distritos estão realizando as tradições, honrando o falecido.
Enquanto isso o castelo está mais agitado que o normal, a segurança foi redobrada, os nobres e o clero correm contra o tempo para organizar tudo e isso reflete no geralmente calmo jardim.
Costumo vir aqui todas as manhãs para relaxar, deixar as coisas se acalmarem e permitir que minha mente vague por lugares inóspitos.
É, de fato, interessante, observar as pessoas trabalharem ou caminharem despreocupadas e realmente olhar para elas, prestar atenção nas mesmas e pensar em suas vidas por trás de toda a máscara que a maioria sustenta.
Encaro isso como um jogo — imaginar as pessoas além dos rumores e os falsos sorrisos —, mas hoje, definitivamente, não é um bom dia para isso.

VOCÊ ESTÁ LENDO
IDÁLIA
Fantastik"O fogo está se espalhando, lento e impiedosamente, e nós ressurgimos das cinzas". Você é o que nasce, como o mundo te verá é definido antes mesmo de seu primeiro suspiro e não há nada a ser feito para mudar tal fato. Em Idália as pessoas são dividi...