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CELESTE TROLLOPE

Baixo meu olhar ao chão.

Sei que não devo sentir isso, mas o sentimento cresce involuntariamente dentro de mim e finca suas garras em cada pedaço do meu ser.

Inveja.

Posso sentir minhas bochechas queimarem por ousar ter tal pensamento.

Eu sei que é apenas encenação, mas mesmo assim, a quero para mim.

Apesar de qualquer imprevisto, os Rithele são uma família. Tem algo em seu sangue que os torna forte, existe uma ligação, existe algo e é exatamente isso o que invejo.

Erguendo novamente o olhar, os vejo desfazer o toque entre si e devolver os cetros enquanto retornam aos seus lugares.

A rainha Suri Ivey é a primeira a se aproximar, com os longos cabelos ruivos presos no topo da cabeça e os olhos acinzentados sem qualquer expressão, me apresso em ajudá-la a descer alguns degraus e ergo minha mão para a mesma que sequer me direciona algum olhar, sou completamente ignorada.

— Saia da frente, bastarda! — Murmura Lorde Idril Ivey, me empurrando para o lado. Tropeço em meus próprios pés, mas não chego a cair. Graças aos deuses!

Observo o pai estender a mão para a filha e ela, graciosamente, aceitar o gesto, apoiando-se no mesmo para descer os poucos degraus a sua frente.

O herdeiro Kael Rithele vem logo atrás, ele tem os olhos levemente vermelhos como se os coçasse demais e, sem grandes cerimonias, retorna ao seu lugar sem ajuda alguma.

Quando Elara Rithele está prestes a descer, me recomponho e vou até a infanta, mas a princesa me direcionou um olhar duro, erguendo discretamente uma das mãos, ordenando que fique onde estou.

Recolho minhas mãos e as coloco atrás do meu corpo, esperando-a.

— Já lhe disse: não sou inválida, jamais me ajude com essas coisas toscas como descer um curto lance de escadas. O que irão pensar de mim? Sou uma Pugnadora! — Repreende a jovem princesa ao se aproximar o suficiente, tentando disfarçar a raiva e com o tom de voz diminuído.

— Me perdoe, majestade — peço. — Deseja alguma coisa para recompensar? — Questiono enquanto observo os cachos castanhos de seu cabelo penderem em seu rosto e balançarem sempre que a mesma se movimenta.

— Vá comer algo, está com uma péssima aparência — diz Elara, me analisando com os lendários olhos âmbar e fazendo um rápido sinal para que me apresse. — Retorne ao final do meu treinamento noturno.

— Não acha inadequado treinar após o funeral de seu pai?

— Não acha inadequado se intrometer onde não é chamada? — Retruca a Pugnadora de pele negra, ignorando-me completamente em seguida.

Comemoro internamente e começo a caminhar para fora do salão principal do templo.

O local funciona como uma extensão do castelo, mas não fica muito próximo à habitação real localizado no centro da cidade, estávamos no topo de um dos pontos mais altos de toda a capital.

A primeira coisa que qualquer um vê ao se aproximar.

A proteção que os deuses tem para conosco.

Enquanto caminho o vejo, a oportunidade perfeita, e vasculho o local até encontrá-las e sinalizar para que estejam prontas.

E nesse momento não restam dúvidas, simplesmente é ele e não haverá escusas.

O uniforme da guarda real lhe é grande demais e seus olhos me capturam assim que passo a sua frente.

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