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*Maratona 1/5

AILEEN YULE

Há ásteres por todo canto.

Não importa a direção que olhe, sempre consigo vê-las e senti-las tocarem minha pele enquanto seu característico cheiro invade minhas narinas.

É bom, é confortável, é familiar.

— A beleza delas não se compara a sua — a voz de Kael surge docemente, acalentando minha alma como nenhuma outra.

Viro ansiosamente a cabeça para todos os lados, buscando-o, mas meus olhos são incapazes de encontrar a familiar silhueta.

Sorrio.

— Está jogando comigo? — Pergunto num tom alegre, caminhando graciosamente e buscando-o entre as flores, ainda-não-tão-altas, que batem na minha cintura. A melhor hipótese é de que talvez ele esteja escondido, caído entre elas.

— Eu jamais jogaria com você — há um tom de divertimento nele.

— Então apareça — digo, parando para analisar novamente à minha volta.

Sinto mãos agarrarem meu pescoço e fico tensa no mesmo instante.

Ela começa a subir, aumentando seu aperto gradativamente, consigo sentir meus ossos contra sua palma.

Chiiiiiu — reconheço de imediato o sussurro de Kael e tento me acalmar, mas há um nó se formando na minha garganta e a tensão não se dissipa.

— O-o que está fazendo? — minha voz sai falha e baixa.

— Cala a boca — seu aperto se intensifica e jogo minhas mãos em volta das suas, tentando arrancá-las com toda a minha força.

Meu pulmão parece queimar e busco instintivamente por ar.

Tento bater minha cabeça contra a dele.

Uma.

Duas.

Três vezes.

Ele sequer vacila.

A mão direita voa para trás, tentando acertá-lo na face.

Inútil.

Começo a pular.

Chutar.

Jogar todo o peso do meu corpo contra o dele, até me sentir ser jogada contra o chão.

Meu pulmão começa a se encher, minha respiração está pesada e as mãos tentam massagear o local do ferimento.

Kael desaparece, mas não fico sozinha por muito tempo.

— Eu te avisei — Desirée se estende a minha frente, imponente como sempre, ao passo que as flores em volta começam a murchar de forma anormal. — Agora precisa lidar com as consequências.

Ela estende a mão em minha direção, mas num piscar de olhos a mesma já não está lá e dá lugar a um guarda real segurando um ferro quente, a conhecida frase vindo em minha direção: "Nós estamos chegando".

Tento me levantar num impulso, mas algo me segura.

Um rápido olhar e percebo as correntes, nas mãos e pernas.

Estou estendida numa mesa, totalmente exposta e a mercê do guarda.

As flores deram lugar a uma sala fechada, com apenas uma pequena janela com grades no topo da parede. O local é extremamente quente e com odor duvidável.

IDÁLIAOnde histórias criam vida. Descubra agora