De repente tudo ficou em câmera lenta, ao longe percebia que algumas pessoas gritavam e saiam correndo do local mas eu não ouvia nada, até ter o desprazer de ver o corpo do Caio cair ao chão inerte, foi aí que tudo voltou ao normal, vi na hora que o bandido me olhou meio desorientado e então correu desaparecendo porta a fora junto com as pessoas, corri ao encontro de Caio deitado no chão, do lado esquerdo de sua barriga, creio eu, próximo ao fígado, uma enorme quantidade de sangue manchava sua camisa branca, me desesperei e comecei a chorar compulsivamente sem saber o que fazer, já tinha feito curso de primeiros socorros na escola mas naquele momento não se extraia nada da minha mente e era a pior sensação que eu poderia sentir em toda minha vida – sentimento de impotência.
- Você precisa fazer força sobre o ferimento.
Olhei para trás meio assustado para ver quem tinha falado e vi que era a moça do caixa, olhei de volta para o Caio e não pensei duas vezes e fiz pressão sobre o corte que jorrava sangue, ele gritou de dor.
Ele ainda estava acordado.
- Caio, Caio, tá me ouvindo? – praticamente gritava em tom exasperado.
- Estou – respondeu quase que inaudível fazendo uma cara de dor.
- Eu vou ligar pra uma ambulância – falou a moça do caixa se afastando.
- Você vai ficar bem – falei chorando.
- Não, me escuta – falou com os olhos semicerrados.
- Não fala nada – falei tentando me controlar pra não piorar a situação.
- Eu não vou conseguir... dói de mais lu.
Uma lágrima, a primeira até então escorreu do canto direito de seu rosto já tomado por uma cor pálida, eu que tentava me controlar pra ajuda-lo não aguentei e deixei as lágrimas voltarem a rolar, suas palavras carregaram tanta dor que me esmagou por inteiro. Aquilo de jeito nenhum poderia ser real, não podia, eu não estava preparado para isso, para perder alguém tão importante em minha vida, eu iria enlouquecer, literalmente enlouquecer.
- Não fala besteira Caio – falei com a voz embargada não tendo plena certeza do que falava.
- Me ouve... diz ao meu filho... que o amo, Eu te amo...
- Cala a boca Caio, cala a boca – gritei em total desespero. Era muita cena de filme sendo trazida a realidade e eu assim como todos que assistia filme romântico sabia o que acontecia no final.
- Até depois do fim... – pronunciou com a voz fraca enquanto eu me banhava em choro e pressionava o corte cada vez com mais força.
- Eles já estão vindo – falou a mesma garota passando por mim e se ajoelhando ao lado de Caio – ele está sem pulso – falou de uma só vez.
A olhei espantado com o coração a mil pois até então meus olhos estavam presos ao corte, não era possível, ele acabou de falar comigo.
- O que? – indaguei em descrença sentido o pânico me invadir.
- Eu vou fazer massagem cardíaca – falou já entrando em ação não me dando tempo de pensar, agir ou sei lá o que, eu apenas permaneci pressionando o corte enquanto olhava fixamente seu rosto, sua vida se esvaindo entre minhas mãos, nesse momento eu não chorava, não pensava, eu estava totalmente paralisado até ouvir passos se aproximando por trás, três pessoas ao total, mas não estava nem um pouco interessado em saber quem era, a moça do caixa falava comigo mas confesso que não entendia absolutamente nada. Uma mão envolveu meu peito e me puxou para atrás me afastando do corpo, olhei para garota e ela se levantava deixando de fazer a massagem cardíaca, em seu lugar se ajoelhou um cara que levou a orelha perto da boca do Caio, eu não estava entendendo nada, foi aí que comecei a gritar e me desesperar saindo do meu estado de paralisia, o braço que me segurava me apertou ainda mais forte me impossibilitando de me soltar.
- Calma, calma, nós vamos fazer todos os procedimentos necessários, você precisa tentar ficar calmo – falou por fim o cara que me segurava dando um click em minha mente, era uma equipe médica, provavelmente a que a garota chamou, toda extensão da sala havia adquirido uma cor que até então não havia notado, eram as luzes que entravam pela janela da sirene da ambulância. Parei de me debater mas a lagrimas não paravam de jeito nenhum, voltei minha atenção para baixo e vi o mesmo cara fazendo a massagem cardíaca e por vez ou outra checando o pulso, a garota estava um pouco de lado hora olhando pra mim, hora olhando o corpo do Caio no chão, com um olhar apreensível.
- Sinto muito – falou o cara que fazia massagem cardíaca após uma ultima checagem de pulso.
Meu corpo que permanecia calmo mas ainda sendo segurado por um cara não se conformou nem um pouco com aquilo e com toda minha força e desespero consegui sair dos braços da pessoa que me segurava, me joguei em cima da pessoa que mais amava na vida e comecei a fazer a massagem novamente, de uma maneira bem mais bruta da que foi feita pela garota e pelo homem.
- Não faz isso comigo Caio, por favor – chorava desesperadamente.
A dor que eu sentia era insuportável. Seu rosto mesmo não ter sofrido nem um ataque que o deixasse deformado estava irreconhecível por causa da cor que havia adquirido, uma cor muito pálida e eu não conseguia olhar, só de pensar que ele estava morto era enlouquecedor então fechei meus olhos enquanto continuava com incansáveis fricções sobre seu peito mesmo já sentindo um grande desconforto em meu braço.
- Não faz isso cara – falava o cara que antes fazia a massagem cardíaca segurando o meu braço de leve.
- ME SOLTA – gritei dando um solavanco em meu braço para me soltar.
Mas segundos após uma mão segura em meu pulso só que bem mais leve que antes e já estava pronto para dar outro solavanco quando escutei uma tosse. Tosse?
Abri os meus olhos e vi o... eu vi o Caio, olhei para o meu lado e vi o cara olhando abismado assim como a garota e o rapaz que antes me segurava, minha expressão não estava muito diferente da deles.
- Trás a marca, rápido! – falou o cara do meu lado ao que me segurava a pouco.
Voltei a olhar pra ele que tinhas os olhos um pouco abertos e me olhava, sua pele havia voltado a uma coloração normal, tinha voltado a ser o meu moreno e o melhor de tudo, seu coração estava batendo fazendo seu peito subir e descer. Me inclinei sobre ele e lhe abracei meio desajeitado, o que eu sentia naquele momento era muito mais que alivio, ia além da minha compreensão, não existia palavras pra descrever o que eu sentia naquele momento, eu só sabia que era bom, muito bom.
- Eu te amo – falei voltando a chorar depois de alguns minutos sem.
- O que.. aconteceu? Meu peito dói, meu corpo todo dói.
- Vai passar, vai passar meu amor.
Estavam o colocando na ambulância – Com vida. Entrei logo após e segurei com força sua mão, poderia segura-la para o resto de minha vida, fecharam a porta da ambulância com uma batida forte, olhei sobressaltado para a mesma e pela janela vi a moça que havia me ajudado, era alta, branca, cabelos pretos presos em um coque e aparentava ter mais ou menos 20 anos. Havia esquecido completamente de lhe agradecer, perguntar o seu nome mas agora era um pouco tarde, a cada segundo a via se distanciando, eu que estava na verdade. Eu tinha apenas duas certezas naquele momento, uma era que o Caio iria ficar bem e a segunda era que eu precisava voltar um dia para lhe agradecer mesmo que aquele lugar não me trouxesse boas lembranças.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Louco Amor (Lipe "Anjo Apaixonado" CDC)
Romance(+)18 🍃LIVRO UM 🍃 Um sentimento de repudio e imensa tristeza me inundava naquele momento, nem mesmo a água gélida que escorria pelo meu corpo me deixava melhor, as lembranças vivas na minha mente do que havia acontecido há pouco me atormentavam...