Eu e Clara dividimos o colchão extra que eu tinha guardado no cômodo que carinhosamente chamava de escritório – estava mais para o quartinho da bagunça. Marie tirou o palito menor e ficou com o sofá. Depois de todo o tempo que passamos acalmando Jade em meu quarto, ninguém teve coragem de tirá-la de lá.
Mesmo com o desconforto da posição que passei a noite, levanto tentando fazer o menor barulho possível. Encontro a outra morena na sala também já de pé, massageando a parte do ombro. Marie apenas pergunta se pode pegar alguma roupa emprestada antes de desaparecer pelo corredor do banheiro com minha resposta positiva.
Clara aparece ao meu lado logo depois. Acho que meu alarme a acordou. Como seu horário é bem parecido com o meu, ela não necessariamente reclama.
- Eu odeio não ter nascido herdeira de uma fortuna e precisar acordar cedo.
- A vida não é justa, Graysen. - brinco. - E falando nisso, não acho que vai dar tempo para preparar um café da manhã decente aqui, é melhor comprarmos no caminho.
- Eu te acompanho nessa.
- Bom dia.
Sua voz era um sussurro no meio de nossas vozes arrastadas de sono. Jade estava com o cabelo bagunçado e olheiras aparentes, mas seu nariz não estava mais vermelho.
- Hey, linda. - Marie cumprimenta. - Que horas você entra hoje?
- Nove. - ela se senta no sofá.
- Quer que eu fique aqui com você até então?
Ela balança a cabeça. - Não, Tara, você precisa trabalhar. Está tudo bem.
- Posso pedir para Clara inventar algo para mim.
A loira confirma. - Eu sou ótima nisso. Emergência familiar?
- Ninguém usou essa semana, certo? - ela confirma. - Ótimo.
- Isso é sério? - Marie questiona, rindo.
- Funcionários que se ajudam, prosperam juntos. - sorrio. - E em meu setor todos se amam. - viro-me para Jade. - O que me diz? Vamos comprar algo para comer e deixar as responsáveis da relação irem trabalhar?
Ela sorri.
Ou pelo menos tenta.
- Eu poderia aproveitar uma conversa.
- Ótimo! - comemora Clara. - Acho que isso já deixa implícito que eu também vou precisar de uma roupa emprestada, certo?
- Se divirtam.
•°
Melissa acreditou na história que Clara inventou. Acho que principalmente pelo fato de eu nunca ter feito isso – tenho que lembrar agora de tomar cuidado ao falar de minha família, pelo menos por um tempo.
Contudo, enquanto eu passava pelas pastas e mais pastas das que precisava organizar para entregá-la até o final do dia, eu só conseguia pensar na conversa que tive com Jade.
Não consigo contar nos dedos quantas vezes vi seus olhos azuis ficaram marejados. Nós comemos alguma coisa no café de esquina que normalmente vou quando eu estou atrasada, mas ela parecia inquieta; como se quisesse falar alguma coisa que não sabia se estava tudo bem dizer ou não.
Eu segurei sua mão, e falei que ela podia dizer o que estava sentindo ou simplesmente fala sobre qualquer outra coisa. A mulher de cabelos cor de mel queria me fazer uma pergunta – como eu reagir a tudo isso, há tantos anos atrás. Suspirei e antes de responder fiz a pergunta que mais importava.
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Seeing Blind || N.H.
FanfictionAo se conhecerem na calçada dos fundos de um bar, Tara e Niall não sabiam quem estava mais na pior: ela, por presenciar o cara que gostava beijando outras bocas; ou ele, que entendia que sua noite iria de mal a pior por conta das pessoas com quem vi...