Capítulo 16

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– Agora entende por que gastei tanto tempo te dando transcrições?

Não fiquei sabendo como minha chefe voltou para a capital, mas sei que não deu um trabalho fácil para seu assistente. Eu, entretanto, voltei naquela mesma noite, quando o festival acabou, precisava fazer muita coisa.

Sei que precisava deixar as duas entrevistas impecáveis, transcritas e com a melhor de formatação possível para que Melissa não implicasse com o fato de que eu, sem autorização (o que foi apenas um detalhe), entrevistei mais uma pessoa naquela tarde. Então, por mais que me doesse sair tão rápido de minha cidade natal, deixa a minha família para sabe-se lá quando voltar a visitá-los, logo eu estava em meu apartamento, virando a noite para deixar tudo perfeito.

Na segunda de manhã, quando entrei na sala de Melissa Pryth, eu esperava que ela gritasse comigo. Esperava que me dissesse o quanto ainda me falta experiência, e ameaçasse demitir-me de novo. Mas quando ela começou a ler as duas entrevistas que coloquei em cima de sua mesa, nada me surpreendeu mais do que o meio sorriso que vi sendo formado em seu rosto.

Ela perguntou se criei todas as perguntas sozinha na entrevista de Shawn, e afirmo. Antes de olhar para mim novamente, ela analisou mais um pouco os papéis na sua mão, e fez algo que eu pensava ser impossível até agora. Parabeniza-me.

Se houvesse algum espelho em minha frente agora, eu não precisaria olhar para ele para saber o que estou fazendo uma careta. Mas não é uma careta ruim, pelo contrário, era de pura surpresa. Por algo muito, muito bom.

– Por ter sido obrigada a transcrever todas aquelas entrevistas que eu te dei durante o ano, você teve ideia de quais perguntas fazer nessa entrevista não programada que você conseguiu. - continuou ela. - Parabéns por isso também, aliás. Shawn Mendes? Nossas vendas vão estourar.

Sorrio. Ou acho que estou sorrindo. Foi tudo muito rápido, sabe, passar de medo para felicidade.

– É, eu... Eu estava lá com um amigo, que acabou sendo um amigo de Shawn também.

Ela levanta a sobrancelha. - Alguém disponível para ser fonte?

– Não. - digo, prontamente. - Sinto muito, mas não.

– Pelo menos você segue firme em não revelar suas fontes. - ela dá de ombros, sussurrando. - De qualquer modo... Você finalmente fez algo certo, Courton. Não vai precisar se preocupar com seu trabalho hoje.

Assinto, preparando-me para sair de sua sala.

– Tara.

Viro, encarando minha chefe, logo antes de abrir a porta de sua sala.

– Passe no setor de Graysen. Peça para ela colocar seu nome nos dois artigos que saírem dessas entrevistas. - quero sorrir. Quero muito sorrir. Mas fazer isso na frente dela não seria apropriado. - E depois fale com Ansel. Quero que o demita para mim. E dê todo o trabalho dele para minha outra assistente. Depois disso, não se esqueça de falar com os fotógrafos, preciso das melhores fotos do festival. 

Concordo, anotando mentalmente a ordem das coisas. Seria um dia corrido, especialmente porque cada uma das coisas que ela me pedia para fazer era em um setor.

Mas eu não estava em posição nenhuma de reclamar. Não quando seu escravo de transcrições não era mais eu.

Eu não acredito! – Clara comemorava comigo durante o almoço. - Ela realmente te pediu para fazer tudo isso? - assinto, alegre. - E demitir Ansel? Quer dizer, as únicas pessoas que demitem alguém para Pryth são as que estão prestes a ganhar uma promoção!

Seeing Blind || N.H.Onde histórias criam vida. Descubra agora