Capítulo 15

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Inalar. Exalar.

São duas ações completamente normais, todo mundo as faz todo dia. Tem horas, quando outras coisas chamam atenção, que essas ações se tornam automáticas.

Nesse momento, acho que esqueci como se faz.

Tara?

É um grito. Mesmo pelo celular, é um grito muito potente.

Tara, responda e me prove que você não é uma imprestável que não consegue simplesmente absorver uma informação!

Pisco, acho que umas três vezes rápido.

– Sim, sim... - no começo, minha voz sai sussurrada. - Estou aqui. Ouvi tudo. Estou indo.

Ela não tem tempo de responder, ou me xingar — coisa que acho mais provável que acontecesse. Ouço mais uma vez o barulho que me embrulhou o estômago da primeira vez, e a ligação se encerra.

Minha cara definitivamente não é uma das melhores, porque assim que saí do banheiro no corredor de meu quarto — o qual ele também tomou posse, depois de entrar em casa, conversar com meus pais e derreter o coração de minha família inteira com o jeito fofo, além de roubar minha sobremesa, e o amor de minha irmã, aparentemente —, Niall pede para que eu respire fundo.

Passamos pelo espelho que tenho na porta do guarda-roupa, e vejo que realmente estava com os olhos arregalados.

– Tara? - ele me balança. - Tara, está me ouvindo?

Pisco rápido, de novo.

– Não, eu não aguento mais uma rodada disso. - penso alto. Finalmente, encaro-o. - Preciso sair. Minha chefe me ligou agora, e se eu não for até o hotel dela, é bem provável que eu volte pra Los Angeles desempregada.

Meus pais ainda estavam acordando, e tenho que fazer mais uma rodada de "Aonde está indo? Preciso garantir meu emprego" antes de sair pela porta da frente. Bem, isso e pedir a chave do carro de meu pai.

No caminho, imploro pra toda e qualquer entidade superior que exista para que eu esteja errada, para que aquilo seja frescura, drama, uma maneira de me punir, que estejamos em abril e eu não saiba, tudo. Rezo pra descobrir que isso não é verdade.

Entretanto, assim que dou meu nome no hall de entrada, os funcionários já sabem para onde me levar. Isso não é um bom sinal.

Não é um bom sinal, porque Melissa já deve ter gritado para todos eles perguntarem aonde eu estava, mesmo não me conhecendo. Não é um bom sinal, porque assim que o elevador se abre no andar em que ela está, mais pessoas desesperadas passam pelo corredor. Não é um bom sinal, porque quando eu entro no quarto, ela realmente está passando mal.

– Resolveu vir de jegue? - grita, mais uma vez, assim que fecho a porta.

– Não, eu... - abro minha bolso rapidamente. Vasculhando lá dentro, pego a sacola da farmácia. - Eu comprei remédios.

A ruiva pega a sacola da minha mão, olha as embalagens e até pega um dos comprimidos que trouxe, mas ainda me xinga mais um pouco. Quer dizer, ela está com intoxicação alimentar, praticamente não sai de perto de um banheiro por causa do enjoo que sente. Para quem já fez pior por um estagiário esquecer de pontuar uma frase, eu estou bem satisfeita com a reação.

Acho que acabou encarando demais, no final das contas. Porque a Melissa sobe o olhar pra mim, do jeito assustador que só ela consegue fazer, e começa a falar.

– Você vai ficar parada feito uma árvore me olhando, ou vai fazer alguma coisa, Courton?

Balanço a cabeça. - V-vou fazer algo, claro. O-o que... Uh, o que quer que eu faç...

Seeing Blind || N.H.Onde histórias criam vida. Descubra agora