Seeing Blind || N.H.

Capítulo 14

– Então, surpresa!

Depois de praticamente fazer meu carro aprender a voar pra chegar na revista no horário que Melissa queria, descobri que nosso voo não era na próxima hora, mas sim que ela estava apenas sendo precavida.

Não reclamei nem um pouco. Nem quando ela discutiu com aeromoça da classe executiva — até porque eu estava aproveitando ali. Ou quando a sua bagagem demorou na esteira e ela me fez andar pelo terminal inteiro perguntando se algo havia acontecido. Ou até mesmo quando ela pediu para que eu ficasse em sua companhia até se instalar no quarto de hotel, e encheu o saco de todos os atendentes para ter um atendimento melhor; eu até que me diverti um pouco nessa parte, a culpa de algo que Melissa não gostou finalmente não era minha.

Portanto, finalmente liberada para viver minha própria vida, acabei por perceber um detalhe pequenininho: eu não falei pra minha família que eu vinha.

Depois de toda a confusão na festa, acabei esquecendo de mencionar que precisava ficar em casa pelo final de semana. Mas tudo bem, porque as coisas pareciam iguais as de sempre quando cheguei; mamãe mandou Lizzie abrir a porta quando eu toquei a campainha, minha irmã falou que estava ocupada, minha mãe então disse que ela realmente estava ocupada, andando no caminho da porta para abrir e ver quem estava tocando a campainha, Annelise se rendeu e finalmente abriu a porta.

Minha irmã mais nova pularia no meu colo se tivesse oito anos novamente. Ainda bem que ela tinha noção do tamanho que tem. Bem, nem tanto, porque ela de fato me abraçou e quase tirou os pés do chão, apoiando os braços em volta de meu pescoço.

– Sua louca, por que não avisou que estava vindo?

A pergunta, que inicialmente era para ser feita com um tom inconformado, saiu mais para uma exclamação de surpresa. Vejo seus cabelos, mais claros que os meus, balançarem de um lado para o outro enquanto minha irmã me guia pela casa adentro.

Não consigo deixar de sorrir. Eu realmente sentia saudade da sala bem arrumada que mamãe se orgulhava, do corredor cheio de quadros de paisagens que meu pai sempre sonhou em visitar, de como os dois sempre cuidavam nos finais de semana da pequena área no terraço que dividia espaço com o telescópio que minha irmã precisou guardar dinheiro por dois anos para comprar... De tudo isso.

Sei que muitas coisas mudaram desde que eu me mudei para a capital. Entretanto, saber que esse pequeno costume continua do mesmo jeito, importante. Era saber que minha família estaria lá, não importa quanto tempo passasse.

Meu pai, August, para de admirar os belos cabelos loiros que minha mãe possui assim que me vê. Ele levanta, e vem minha direção para abraçar. Consigo ter um vislumbre de seus olhos azuis antes de sentir seus braços circulando meus ombros.

É claro que minha progenitora não poderia ficar fora dessa. Com poucos segundos de diferença, também sinto sua proximidade.

– Meu bem, que surpresa boa! - diz Giselle. Ok, eu sempre a chamei de mãe, mas também sempre achei seu nome muito lindo para não ser dito. – O que faz aqui?

– Sabe aquele festival que sempre acontece na Califórnia? - começo, animada - Aquele em que alguém da revista sempre vem com um editor chefe? Então... Eu fui escolhida desse ano!

Eles comemoram da mesma maneira em que foi recebida por meus amigos.

– Isso é incrível, Tara! - papai me abraça de lado enquanto vamos andando até o sofá novamente. - Por que não avisou que viria? Podíamos ter arrumado a casa um pouco melhor.

– Foi o que eu acabei de perguntar! - Lizzie fala, se jogando ao meu lado no sofá. Sorrio para ela.

– Eu ia falar, ia mesmo... - suspiro, explicando. - Mas ontem, o pessoal queria comemorar comigo... Acabamos tendo alguns imprevistos, vamos dizer assim. Eu esqueci, desculpe, já estava tarde quando chegar em casa, e realmente não passou pela minha cabeça.