Capítulo 03

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      Não será necessário dizer o quão insatisfeito Ernesto ficou com as atitudes de seu “pupilo” não que concordasse com as atitudes do govenador ou do senhor Francisco Freisbener, longe disso, as condenava com todas as forças de seu ser, mas uma coisa era discordar e outra agir, um homem não pode prometer o que não pode cumprir mais dolorido do que uma verdade crua é uma promessa falsa e Estevão havia acabado de alimentar esperanças em uma terra estéril, nada poderia nascer dali, palavras de encorajamento eram em vão elas só fariam a ferida daquele povo doer mais quando enfim descobrissem que não deveriam ter insistido naquele sonho que já se havia frustrado a tanto. E o pior, Estevão os havia acolhido, exatamente como lhe dissera para não fazer.

_O que queria que eu fizesse? Que os deixasse sem escolhas...

_Aqui ninguém tem escolhas fáceis!_ Esses foram os primeiros ecos da acalorada discussão que  travavam à chegar aos ouvidos de Serafina enquanto ela terminava o almoço, na ponta dos pés pode ver quando eles se aproximaram pelo caminho que dava a volta no celeiro, Ernesto na frente a passos rápidos e o rosto enfunado de como quando lhe desobedeciam, Estevão atrás gesticulando sem parar enquanto se defendia das acusações do outro, pelo visto algo não havia saído como planejado, “bem feito”, ela pensou “quem mandou não me esperar”, mas assim que Ernesto irrompeu pela porta como um raio todo o discurso a respeito de ética e palavra que havia preparado como sermão para o novo Estevão pelo qual aliás, não nutria a melhor das impressões, se secou, a maneira como falavam não era como em uma discussão normal.

_Você não entende!_ berrou Ernesto_ não estamos em uma cidade civilizada, os homens desse lugar não resolvem suas brigas com conversas garoto!_ Pela primeira vez Estevão estava quieto encarando Ernesto com uma cara de surpresa, as coisas pareciam finalmente ter ficado claras naquele cérebro de gelatina._ está pondo sua cabeça à premio.

_Está preocupado comigo? Que gentil! E quanto ao resto deles?! Que a sorte os levem para onde bem entender?

_Pois sim! É exatamente isso, que se danem... Não sou nenhum santo para socorrê-los.

_Mas és um bom homem._ Ernesto arregalou os olhos para ele com fingido espanto, Serafina revirou os olhos e terminou de por em ordem a louçaria na mesa sem desviar a atenção dos dois.

_Estevão..._ Ernesto passou a mão pelos ralos cabelos aloirados que ainda lhe restavam, duas nada discretas entradas avançavam nas laterais da cabeça, estava ficando cada vez mais calvo e o grande bigode que ele cultivava era algo engraçado e contraditório._ sente-se aqui meu querido, sente-se aqui_ e o puxou pelo braço apontando uma das cadeiras, Estevão franziu o cenho, “querido?” a última pessoa a lhe chamar assim fora a sua mãe e sempre em ocasiões que precisava ouvir algum sermão. Estevão se sentou e Ernesto arrastou outra cadeira, montou sobre ela e abraçou o espaldar enquanto o fitava e passava insistentemente a unha do dedão sobre os lábios, tinha uma séria vontade de bater a cabeça do infeliz na parede, era assim que lidava com pessoas que costumavam lhe fazer perder as estribeiras_ Há quanto tempo está aqui?_ Estevão bufou, era uma pergunta obtusa por demais para parecer séria e carecer de respostas._ Por favor, responda.

_Cheguei ontem a tarde, senhor.

_Bingo! Exatamente! Não te parece que para uma pessoa que não conhece o lugar onde acabou de por os pés o senhor não esta se precipitando? Seus ideais são louváveis, eu admito, mas é prudente ter ciência de como os seus atos irão afetar a sua vida!_ disse com o que julgava ser o resto da paciência que  tinha, Estêvão respirou fundo assimilando todas as suas discorencias daquelas últimas horas e por bem dizer lhe pareceu de repente atitudes bastantes impulsivas e enlevadas puramente em emoções que não conseguia controlar, talvez Ernesto tivesse razão afinal.

Os Estevãos (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora