Capítulo 12

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O dia amanheceu luminoso depois da noite chuvosa, a casa estava espanada e limpa com cada detalhe minimamente apurado, Ana mordeu os lábios, talvez devesse ter acordado mais cedo para ajudar na limpeza de sua própria casa, a sua vida de princesa mimada ficara para trás há algum tempo. Estava aos poucos tomando consciência disso.

Estevão estava parado entre a mesa redonda que ficava em um canto da sala sobre a qual estavam empilhados alguns livros velhos e o sofá, vestia uma camisa branca de boa costura e estava limpo e pela maneira como tencionava os ombros de momento a momento enquanto olhava para a porteira, estava tenso. Ana tomou coragem e continuou a descer os lances dos degraus compassadamente.

_Senhora, que bom vê-la tão cedo._ Dalva sorriu, vinha da cozinha e trazia com sigo um balde de água, certamente acabara de limpar a casa, Ana a cumprimentou com um gesto de cabeça, era bom ter com quem conversar em casa, seguindo o olhar da empregada Estevão voltou-se para ela, Bem, não podia dizer que ele ficava exatamente bonito de cabelos penteados, talvez sim, de qualquer forma ela não o encarou para ter certeza.

_Cedo? Achei que havia perdido a hora._ Ana estendeu a mão aceitando o braço que ele a oferecia.

_Imagino que esteja curiosa para, digamos conhecer o meu pai._ Estevão disse ignorando a tensão que havia se formado entre eles na noite passada, Ana suspirou fundo.

_Estou apavorada._ E estava. A julgar pela impressão que tivera de Jeronimo Santana ela não esperava amizade nem simpatia de sua parte, Estevão refletiu um instante consigo mesmo o que ela havia dito, era compreensível que estivesse com medo._ Eu nunca recebi ninguém antes_ Ana continuou agora sem esconder o quão aflita estava_ Não sei o que dizer ou como me comportar.

_É muito simples_ Estevão respondeu com bom humor_ Basta oferecer chá e falar sobre o tempo, as conversas da minha mãe sempre começavam assim._ Ana deixou um riso escapar, Estevão suspirou aliviado por faze-la rir, deveria ter uma preocupação a menos naquela manhã. Ana demorou os olhos em seu rosto observando as linhas que o sorriso dele deixava como um rastro e ele percebeu sem se importar, o fato de que os Santana estavam todos a caminho de Redoma de ouro naquela manhã drenara toda a sua disposição e tempo para se importar com algo a mais. O silencio predominou no café da manhã, Ana debatia internamente se aquele era o melhor momento para esclarecer algumas coisas, mas ao final, percebendo a agitação em que ele parecia estar imerso, decidiu que de fato não era uma boa hora.

_O que lhe preocupa?_ Indagou ela tomando coragem, Estevão olhou para ela sentada à sua direita na mesa, Ana seria uma presença constante em sua vida, é claro que precisavam criar laços de amizade, por mais mínimos que fossem, e ela parecia se esforçar rumo a isso.

_Somos duas pessoas com pouca sorte no quesito família._ Ana sorriu com tristeza, talvez fosse aquela a única coisa em comum que tinham._ Eles não são uma parte boa da minha vida... Mas... São importantes.

_Todos são. Eu sinto muito.

_Não sinta, como minha mãe costumava dizer: Enquanto há vida há esperanças.

_Se faz sentido para você._ Estevão engoliu em seco, sabia bem que coisas quebradas estavam quebradas para sempre, nenhum objeto frágil volta a ser como antes depois que toca o chão, ele não voltaria, ela não voltaria por que o ser humano é frágil, mais frágil do que as coisas que nós mesmos costumamos quebrar.

_Ana..._ Estevão começou colocando a sua mão sobre a dela._ eu quero que saiba...

_Miguel Estevão!_ Exclamou Jeronimo Santana estendendo os braços na direção dele, Estevão o mirou incrédulo enquanto sentia seu coração disparar dentro do peito, não os esperava tão cedo até mesmo por que para chegar a Redoma de Ouro antes das nove era necessário pegar a estrada de manhã, o que eles certamente haviam feito._ Pedi para não ser anunciado._ ele disse depois de afasta-lo depois que Estevão se recuperou do choque e foi até ele._ Você parece muito bem.

Os Estevãos (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora