Ana tropeçou antes de conseguir alcançar a saída do bosque, voou para o chão e caiu apoiando o peso do corpo sob as mãos, podia sentir a unha latejando, ela ainda estava em carne viva, a palma das mãos aferradas de pedras que a faziam arder e o queixo, não conseguira evitar bate-lo, levantou-se depressa tentando ignorar a dor que começava a lancinar como um pulso de força que diminuía e aumentava em ritmos alternados, então se deu conta de que havia perdido o papel, teria de encontra-lo, nem se quer sabia ao certo o que estava escrito nele! Em transe começou a olhar em volta, ele não devia estar muito longe, não podia ser uma maldição! Ajustando as vistas a escuridão ela se pôs a perscrutar cada centímetro ao seu redor, um papel branco não devia ser tão difícil de achar, começava a sentir o coração galopar outra vez sucedidas por aquelas descargas frias que perpassam a o corpo das pessoas quando o desespero começa a soar pelos poros, era isso que sentia, mas antes que o horror se instalasse em seu ser, suas vistas descobriram o bendito papel um pouco a frente entre algumas folhas amareladas, o vento devia tê-lo afastado até ali, sem pestanejar Ana o agarrou com todas as suas forças depois de se certificar que era realmente o papel que procurava e se pôs a correr outra vez, com todas as forças que era capaz de alcançar, deixando para trás o emaranhado de cipós e árvores, quando alcançou o que antes eram as pastagens de Redoma de Ouro, reduzido agora a uma grande planície negra de cinzas, sentiu uma lufada de ar fresco sobre o rosto e se esforçou para subir o aclive extenso, alcançou a planície e pode ver ao longe as luzes da residência de Estevão. Estava perto.
Estevão arriava o cavalo, precisava ir à casa do senhor Gregário, tinha coisas importantes a resolver, havia chegado à conclusão de que de qualquer forma precisaria de um empréstimo, o dinheiro conseguido daria para cobrir as dívidas mais urgentes, mas havia outras e Redoma de Ouro precisava de reparos imediatos se quisesse conseguir reergue-la, continuar ali parado de braços cruzados não era uma opção. As crianças já estavam abrigadas em volta da lareira na sala, protegidas do frio e da fome, havia se acostumado com elas, lhe aplacava um pouco a falta que Serafina fazia, estava imersa nos estudos e D. Suzana não andava bem de saúde, o que lhe impossibilitava sair a todo o momento como gostava, é claro que a boa senhora não lhe havia proibido, mas Serafina proibira a si mesma.
_Vista o casaco, Miguel, está frio._ Dalva tinha se tornado o seu novo calo, Estevão fez Catrion se virar enquanto ignorava o casaco que a mulher lhe estendia, estava com frio, mas ela devia entender mais cedo ou mais tarde que ser sua cozinheira não lhe dava o direito de lhe tratar como filho, por que não era filho dela.
_O casaco!_ ela grunhiu.
_Não quero!_ respondeu de mau gosto_ Vá cuidar de suas crianças Dalva, me deixe em paz._ disse antes de cutucar o cavalo com a bota para pô-lo em marcha, mas antes que pudesse se distanciar alguém gritou o seu nome ao longe, vinha do meio dos pastos queimados, uma mancha branca em meio ao caos que o fogo havia provocado, se movia com rapidez, corria. Ana Valverde. Estevão franziu a testa, o que ela devia querer? Não imaginava que fosse ver alguém da casa ao lado tão cedo.
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Os Estevãos (Em Revisão)
RomansaQuando Conceição Estevão falece todos acreditam que a velha e respeitável família do vale do pampa havia chegado ao fim, mas a despeito dos gananciosos vizinhos que pretendiam por as mãos em Redoma de ouro, a valiosa e cobiçada propiedade dos Estevã...