Capítulo 22

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Ulisses estava tendo um colapso.

Não a muito Ana e Mariana se dirigiram às pressas até o gabinete depois de ouvir alguns ruídos, o encontraram prostrado na poltrona com os braços caídos dos dois lados do móvel, a cabeça pensa sobre o peito e as cores do rosto esbranquiçadas. Sob os comandos da irmã mais velha, que grunhia repentinamente tomada pelo amor filial que ressurgia dos recônditos para onde fora mandado a tanto, Ana correu até a estante mais próxima, zonza sentindo as vistas se escurecerem, e trouxe de lá um pote de álcool com o qual Mariana o fez reagir dentro de segundos, voltou mais esbaforido do que em qualquer outro instante, os outros ocupantes da casa logo surgiram na porta atraídos até ali pela confusão que ecoava por todos os cantos.

Ulisses espumou, gaguejou, esperneou e por fim soltou um grunhido quase animalesco em direção à Ana, a filha acompanhada da pequena mendiga que o Estêvão tivera a audácia de adotar, aparecera ali ainda na noite passada com a desculpa de que passaria um tempo com a irmã na capital, mas lógico que não poderia ser só isso! Elaa viajara até Corumbá apenas para vê-lo derrotado, essa sim era a verdade!

_Como Estêvão conseguiu o dinheiro?!_ ele grunhiu jogando a promissória sobre a mesa, seus olhos faiscavam de ódio. Ana franziu a testa e sem entender, recolheu os papéis de sobre enquanto sentia os olhos de seu pai arder sob si.

_O que isso significa?_ indagou confusa, então deixou os olhos correrem pelo texto e uma máscara de incredulidade lhe foi tomando a face_ O que é isso!? Teve a audácia de adquirir esta promissória apenas para importuná-lo?! Não consegue deixar Estêvão em paz!?_ ela grunhiu com ódio e despeito, Ulisses ergueu o braço e deixou-o cair em direção a filha, mas antes que conseguisse atingi-la Mariana a puxou para trás depressa livrando-a do ataque.

_Pare com isso meu pai! Está se tornando um homem doentio!_ exclamou horrorizada.

_Essa desgraçada veio aqui apenas para zombar de mim, não foi?! Confesse sua miserável! Mas hei de conseguir reaver isso, aquele crápula não pode ter conseguido toda essa quantia de maneira honesta, não mesmo, não com as migalhas do que tem, nem que economizasse por anos!

_O pai de Estêvão lhe compraria três vezes e ainda lhe sobraria uma fortuna sobrepujante!_ Esbravejou Ana, pois para ela não podia haver outra explicação.

_Seu marido que tome tento Ana! Seu marido que tome tento, mais hora menos hora perco o que me resta de paciência, assunte bem, assunto bem o que lhe digo!_ ele exclamou deixando-a paralisada e em seguida se retirou a passos trôpegos rumo a sala enquanto dispensava ordens aos gritos aos empregados que lhe aprontassem o cavalo, iria verificar ele mesmo no banco a veracidade dos fatos que a ele chegara.

Ana deixou um soluço escapar e o mundo ficou ainda mais turvo diante de seu olhar, sentindo a fronte zumbir, cambaleou até uma cadeira e deixou-se cair exausta. Devia estar com Estêvão agora, devia estar ao lado dele.

_Por que ele não me contou?_ ela indagou franzindo a testa sem entender.

_Se acalme Ana, certamente há uma explicação.

_Oh Mariana, eu devia estar com ele, devia ter esperado...

_Se acalme, não há nada a fazer além de arcar com as consequências.

_Devo voltar para casa, ou escrever, Estêvão pode estar em perigo...

_Não se atreva Ana! Da carta cuido eu mesma depois, quanto a sua volta a Redoma de Ouro, Pode até ter sido infantil e mimada, mas teve uma boa razão para isso, só vai retornar para aquela casa se ele vir por si mesmo explicar-se, não lhe deixarei descer a esse nível. Precisa encarar suas próprias ações Ana, pode ser que não saiba, mas quando saiu de casa imaginou que ele viria atrás de você, não? Como nos sonhos infantis em que fantasiávamos nossos príncipes encantados, esse tipo de homem é muito raro, quase não existem, e seu querido Estêvão faz mais o estilo do ogro grotesco.

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