Capítulo 14

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Por acaso ou castigo Salete Deodato não pode retornar ao Rio de Janeiro como pretendia, a viagem de volta a Ladário lhe ocasionou o mesmo que ela havia fingido naquele dia: Um perigo para a sua gestação. Por segurança Fernão e Salete permaneceram em Ladário enquanto Jeronimo Santana seguiu viagem, isso Estevão soubera por intermédio dos colonos e de Marcos que algumas vezes se deslocava até a cidade para visitar a irmã, depois as notícias trazidas por ele também se ralearam quando entendeu que não devia tocar no nome dela em Redoma de Ouro.

E o tempo correu como é costume que o tempo corra, correu como corria nos primórdios e como correrá no futuro até o dia do juízo final.

O mês de Agosto principiava com suas ventarolas e seu sol fulgido sobre os céus, era o pior mês do ano, era o mês em que a vida de Miguel Estevão completava mais um ciclo de sua existência a cada 365 dias, Estevão buscava não pensar nisso na manhã do dia 17 de agosto de 1891, concentrava-se apenas em terminar aquele eito do roçada que haviam começado e limpar os campos que restavam. O mês das plantações estava próximo, não podia se dar ao luxo de parar nem se quer por um segundo, havia ajudado os italianos na construção de suas casas e agora alguns devolvia os favores, pagaria um a um, moeda por moeda do que devia, à Dalva também, principalmente à ela, de resto as coisas corriam bem, o Vale do Pampa havia voltado a ser o que era, Ulisses Valverde já não corria o risco de falir, Francisco Freisbener espumava a sua raiva contra Estevão e qualquer coisa que dissesse respeito à Redoma de Ouro, Gregário retomara a sua amizade com Estevão e as coisas começavam a se assentar outra vez, ninguém o mirava como a um vagabundo quando passava pelas ruas, Ana ganhara status de senhora Estevão na boca de todos e o Vale do Pampa vivia tempos de paz sem ninguém se metendo na vida de ninguém, a família de Milena Oliveira também havia retornado ao Vale e ao contrário do que se esperava, não encontraram hostilidade no povo, Milena era outro assunto. Outra notícia feliz que corria a boca miúda era o milagroso progresso na saúde de D. Leopoldina Bonifácio, a mulher que nem se quer levantava da cama há 12 anos agora já tinha ânimo, ainda que frágil, de se assentar junto sacada à tarde para ver o por do sol, os Bonifacio não podiam estar mais felizes, Carlos Alto se estabelecera de vez como agregado da família Bonifácio e a sua fama corria de casa em casa fazendo o antigo médico de Ladário se morder de despeito, e como era imprescindível o jovem médico se tornara a não muito, o mais novo amigo do inquieto proprietário de Redoma de Ouro, se identificavam em muitos aspectos, tinham ideias próximas.

_Estevão!_ exclamou Serafina ao longe enquanto corria para ele sem se importar com os garranchos que a prendiam pelo caminho, Estevão a avistou.

_Pare ai!_ ele gritou e então correu ao seu encontro, depois de abraça-la Estevão a afastou enquanto admirava lhe o chapéu cheio de fitas e o vestido rosa esvoaçante combinando com a luva da mesma cor, Serafina parecia outra e ela estava orgulhosa disso._ Como esta diferente Serafina!_ ele exclamou fazendo-a rir não só com os lábios, mas também com os olhos que brilhavam.

_Não é bonito?_ disse ela dando uma volta_ sempre sonhei em ter um vestido dessa cor e luvas!_ ela disse pondo a mão em frente ao rosto. Estevão sorriu, Serafina, Suzana e Ana haviam viajado para Corumbá há algumas semanas, os homens haviam ficado sozinhos em sua própria companhia, somente na última semana Hermes havia ido ao encontro das três.

_Venha, quero lhe mostrar uma coisa!_ disse ela puxando-o pela mão.

_Não posso ir, Serafina._ ele disse tentando não parecer rude.

_Ma como não?_ indagou Geovane fazendo todos os outros homens concordarem com ele._ vá ver sua esposa, uomo. _ Os outros seguiram em coro forçando-o a desistir de ficar, Estevão acompanhou Serafina, por mais que tentasse não ficar, estava nervoso, ansioso talvez, assim que ultrapassou o limiar da porta Serafina o puxou mais depressa até a cozinha.

Os Estevãos (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora