Capítulo 11

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Ana adormeceu sob o ombro de Estevão. O trajeto era longo e inóspito com estradas cheias de valetas e a distância que tornava a viagem ainda mais insuportável.

Marcos Vinicius havia escrito a carta implorando pela ajuda do pai há alguns dias sem que o irmão nem se quer desconfiasse de suas intensões, o que ele não sabia era que todo o resto da família viria junto e com ela uma avalanche de recordações que Estevão queria superar, mas que agora lhe atormentava o espírito como se nunca tivesse as deixado para trás.

_Chegamos._ Anunciou o cocheiro parando a certo ponto da viagem, Estevão não havia percebido as horas se passar perdido em seus próprios pensamentos.

_Ana..._ ele chamou a chacoalhando de leve_ Ana, chegamos._ mas ela continuou imóvel em seu sono profundo, Estevão respirou fundo e a tomou nos braços.

_Precisa de ajuda?_ indagou o homem solicito quando ele fechou a portinhola da carruagem com o pé.

_Pegue as malas de minha esposa, por favor._ Lavínia abriu a porta da casa e Estevão passou por ela ignorando o que devia estar pensando._ Diga a ele que deixe as malas na sala._ pediu, Serafina havia sido uma professora incansável e ao fim daqueles meses a mulher já podia entender o básico do que ele falava. Estevão subiu as escadas com cuidado para não bater a cabeça de Ana em algum lugar, só então se deu conta de que já havia a carregado no colo algumas vezes, mas essa era a primeira vez que ela era mais que uma simples garota precisando de ajuda, ela era a sua esposa, sim, havia acabado de se casar, a aliança dourada em seu dedo na mão esquerda era prova disso, mas então meneou a cabeça espantando os pensamentos.
A porta estava aberta, assim que entrou Estevão se deu conta de que Lavínia havia levado a sério o seu pedido para arrumar o quarto, havia solicitado que ela trocasse os lençóis e espanasse a poeira, mas pelo que via ela havia entendido como algo a mais. A colcha branca estava repleta de pétalas vermelhas e o ar levemente perfumado com alguma colônia de jasmim, havia muito cuidado e zelo em cada canto. Um casamento de verdade, era isso o que todos imaginavam que seria e pensar nisso o fez ficar levemente ruborizado, uma grande bobagem.

Com cuidado para não acorda-la, Estevão assentou-se na cama e apoiou a cabeça de Ana sob o seu peito, em seguida puxou a coroa de flores de seu cabelo com delicadeza para não engarnachar nos fios, e então depois o desprendeu soltando os grampos, o cabelo de Ana era macio ao toque e tinha um agradável cheiro de flor de laranjeiras. Estevão sorriu com tristeza, era exatamente o mesmo cheiro que os cabelos de sua mãe costumavam ter, ela se moveu um pouco quando ele a colocou sobre a cama, parecia mais bonita enquanto dormia, ou ele nunca havia reparado de fato em seu rosto de traços delicados. Depois de retirar as pétalas de sobre a cama, Estevão a cobriu e se retirou. O seu quarto ficava duas portas depois, estava empoeirado e desorganizado, era ali que dormiria a partir daquele dia, sem ânimo para tomar banho, ele se jogou sobre o leito e encarou o teto, sua mente estava confusa, estava rodando, então pouco a pouco as lembranças foram chegando, chegando, chegando e o invadiu por completo.
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Quando Miguel Estevão apareceu naquela manhã a conversa entre as mulheres cessaram como que por encantamento, Lavínia continuou a esfregar a mesa de madeira rústica junto a janela em silencio, Dalva por sua vez se encaminhou até o patrão e lhe serviu um copo do leite que acabara de ferver. Estevão tinha uma expressão cansada, não pelos motivos que elas pensavam saber, a verdade é que não dormira mas não pelos motivos que um noivo não costuma dormir em sua noite de núpcias, bem diferente disso, passara a noite em claro, os Santana martelavam em sua cabeça e ainda tinha tantos problemas a resolver.

_A senhora não vem?_ indagou Dalva depois de muito excitar, Estevão arqueou as sobrancelhas enquanto bebia o primeiro gole de leite, havia pensado pouco em como seria aquela manhã.

Os Estevãos (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora