Capítulo 17

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Estevão encarou o homem a sua frente tentando ordenar os pensamentos e ignorar a presença de Salete, há quanto tempo não o via? Há muito tempo, sentia a sua garganta raspar, não podia estar acontecendo, não de novo

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Estevão encarou o homem a sua frente tentando ordenar os pensamentos e ignorar a presença de Salete, há quanto tempo não o via? Há muito tempo, sentia a sua garganta raspar, não podia estar acontecendo, não de novo.

_Não vai me dar um abraço?_ o velho indagou abrindo os braços, Estevão se forçou a sorrir e o abraçou, a garoa começava a evoluir para uma fina chuva agora._ você está completamente mudado dês da última vez que o vi_ o velho o afastou o suficiente para poder olhar para ele_ ouvi dizer que se casou! Fiquei feliz por você, mas nunca vou perdoar o fato de não ter dado uma bela festa como combinamos que daria, e ao final de tudo, nem, a saber, fiquei!_ ele exclamou, Estevão continuava a fingir um meio sorriso mecânico na completa ignorância do que fazer._ e onde esta ela? Há? Onde esta minha neta?_ Venâncio Santana era conhecido por ser um homem bonachão, mas com uma série de defeitos e um deles era a indiscrição, Estevão voltou a engolir em seco procurando apresentar Ana ao avô, Ana continuava ali do lado, estava um pouco surpresa e um pouco apavorada pela aparição daquela nova figura assim tão de repente.

_Fico feliz em vê-lo, Venâncio_ ele mentiu, então depois, puxando Ana pelo braço e a colocando ao seu lado continuou: ¬_ esta é minha esposa, Ana._ Venâncio mirou Ana por um momento, depois a mediu dos pés a cabeça, só então Ana se deu conta de que estava completamente imunda e descabelada, seu coração disparou dentro do peito, Venâncio se esforçou para sorrir para ela e então disse de forma pouco convincente:

_Encantado._ um pequeno silencio correu a partir daí enquanto ele rodava o chapéu nas mãos massageando as pequenas abas de feltro como se para desviar sua atenção para ali._ Tenho certeza que em um raio de mil quilômetros não encontraria moça melhor._ ele disse sem deixar de encara-la, Ana sentiu o ar enchendo os seus pulmões enquanto ela sustentava o olhar nele apenas por dignidade, para não parecer frágil e começar a chorar, por que era isso que tinha vontade de fazer.

_Certamente que não._ Estevão disse._ se tivesse não estaria casado com ela. Por favor, entremos._ Ana o cumprimentou brevemente e então se dirigiu rumo a Salete no intuito de se livrar da presença daquele homem.

_Estevão, vejo que não recebeu a minha carta._ Fernão disse acompanhando-o, Estevão meneou a cabeça negativamente, estava muito fora de si para articular qualquer frase de importância._ que estranho, enviei uma carta dizendo que vínhamos, espero que não seja problema.

_É claro que não._ ele respondeu, Ana baixou as vistas para os próprios pés e continuou a andar calada enquanto deixava de escuta-lo, Estevão era péssimo em contar o que sentia, não lhe admirava mais que ele mentisse tanto a todo o momento, talvez até para si mesmo.

Deus havia aberto as comportas dos céus e a chuva caia interruptamente lá fora com o barulho de uma fúria marítima, tanto Serafina, que havia postergado a volta para casa para poder brincar um pouco mais com as crianças quanto Flávio teria que pernoitar em Redoma de Ouro, Estevão estava mais perturbado do que estivera até então, estava quieto e taciturno como Ana se lembrava de tê-lo visto meses atrás com a visita dos Santana, mas o que o incomodava realmente agora é que dali em diante não teria mais despedida, Salete, Fernão e o pequeno Jorge, pois assim haviam batizado a criança, não iriam mais embora, dentro de poucos dias a casa de Bela Manhã estaria pronta e os Deodatos se estabeleceriam por lá como o novo senhorio daquelas terras, uma hora ou outra isso iria acontecer, o fato é que as coisas haviam acontecido mais rápido do que Estevão esperava e agora essa era a nova realidade da sua vida, teria que se adaptar a ela, ou enlouquecer.

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