CAPÍTULO O6

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O vendaval estava começando a se formar, na verdade estava em formação a muito tempo, começara no dia em que Dorca Oliveira tinha encontrado Conceição Estevão sem vida em seu leito, no dia em que Ernesto havia feito Maria telegrafar para o Rio de Janeiro avisando Estevão do ocorrido e partido em seguida para ajuda-lo nos tramites legais que o fariam o novo senhor de Redoma de Ouro, havia tomado forma quando Estevão havia sido imprudente o bastante a ponto de se propor auxiliar os colonos italianos que perturbavam os fazendeiros do vale do pampa a lutar por seus direitos e estava eclodindo agora dentro do peito de Ulisses Valverde.

O sol estava a pino na tarde que sucedeu os acontecimentos do piquenique, a roda de viola não havia acontecido e aquele tornou-se o piquenique mais desastroso que os moradores de Ladário conseguiam se lembrar. Desastroso. Era essa a palavra que se encaixava para descrever tudo que havia acontecido depois que Miguel Estevão havia posto os pés em Redoma de Ouro, Ulisses passou a mão pela testa limpando o suor que começava a gotejar, podia ver as águas correntes do igarapé que passava de frente a casa, o sol começava a avançar alcançando quase toda a varanda, um dia terrível, terrivelmente quente. Os italianos não queriam mais trabalhar pelo preço estabelecido, agora tinham a quem recorrer, Miguel Estevão estava de braços abertos para acolher todos que recorressem a ele, como o bom salvador... Talvez se Gregário conseguisse convence-lo, talvez! Mas algo mais martelava dentro de si. Passara os anos planejando ter Redoma de Ouro em suas mãos, quanta coisa poderia ter feito se a possuísse? Eram terras que iam além dos limites de Ladário, muito além, quanto gado não poderia criar? Havia esperado anos a fio com paciência o momento em que aquela velha desenxabida deixasse esse plano para finalmente...! E nada, não era justo. O que era Planaltina perto de Redoma de Ouro? Nada! Não era nada menos que uma das menores propriedades de todo o vale, se não fosse a influência de seu nome ninguém o respeitaria.

Os pensamentos giravam em sua cabeça, havia ouvido falar qualquer coisa a respeito do assentamento dos italianos, Ernesto havia convencido as autoridades que o melhor a se fazer era assenta-los, isso acabaria de vez com a insatisfação e com as revoltas que ocorriam no interior, e isso também dificultaria as coisas, quem é que trabalharia a terra? Quem cuidaria do gado? Quem ceifaria o trigo? Os negros estavam livres agora, talvez os progressistas quisessem que os senhores se misturassem com a ralé e descessem ao mesmo nível que os criados, tal como Estevão fazia e isso era repulsivo de se imaginar, os homens são diferentes por natureza uns estão acima de outros, é loucura querer equipara-los. Pensava nisso quando uma ideia lhe acudiu a cabeça.

_Álvaro!_ ele gritou impulsionando o corpo para frente, Álvaro era seu mordomo, compartilhavam alguns ideais, e ele estava sobre os serviços dos Valverde muito antes que Ulisses pudesse se entender por gente.

_Pois não, o senhor me chamou?

_Ordene que o Cezar prepare o cavalo, tenho negócios a tratar.

_ A essa hora meu senhor? Com esse sol?

_Que lhe importa?!_ Indagou ele sem disfarçar o mau humor, Cezar assentiu com a cabeça e se retirou. Daí meia hora Ana pode ver, da janela de seu quarto, quando o pai deixou Planaltina no lombo de Escorpião, ele tinha algo para resolver, algo sério, ou se não, não sairia no meio da tarde com aquele sol.

 Daí meia hora Ana pode ver, da janela de seu quarto, quando o pai deixou Planaltina no lombo de Escorpião, ele tinha algo para resolver, algo sério, ou se não, não sairia no meio da tarde com aquele sol

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