Os Estevãos (Em Revisão)

Capítulo 4

Eram quase uma da tarde quando Estevão se preparava para retornar a Redoma de Ouro, havia passado a manhã toda cavalgando para chegar a Ladário, viera na companhia dos irmãos Bonifácio, Jacó precisava escrever ao pai que estava fora a algumas semanas cuidando de seus interesses na capital, haviam tido um problema qualquer na fazenda, Flávio aproveitaria a estadia na cidade para desfrutar de alguns prazeres carnais, apesar de ser o mais velho lhe tocava bem menos a parte do bom juízo, mantinha algumas meretrizes na casa da fazenda enquanto o pai viajava, haviam contado a Estevão certa vez em uma dessas conversas de fim de tarde que as viagens eram longas devido a frágil saúde do patriarca da família, era cardíaco e mãe, bem a mãe vivia acamada a mais de 12 anos com uma enfermidade severa que não lhe saia do corpo, nada além da porta do quarto lhe era patente aos olhos. Estevão havia vindo com eles porque necessitava de auxílio para encontrar alguns titulares de algumas promissórias, não podia lidar com tudo aquilo sozinho, não conhecia ninguém pelas redondezas e algumas das promissórias não podiam levar muito tempo para serem pagas, o melhor a se fazer era procurar alguém que pudesse lidar com isso. Nonato Bulhões foi o nome sugerido por Jacó, era seu padrinho de batismo e havia sido padrinho de Maurilio Estevão quando este veio ao mundo. O homem era um tipo baixinho, gordo, bastante gordo, com uma barriga especialmente avantajada de um modo que caia por cima da sinta de couro, tinha um belíssimo estabelecimento em estilo barroco na avenida principal e era assaz e impertinente bem como Jacó havia dito, era esguio como uma foca e habilidoso como um gato, se é que a comparação pode ser possível.

_O problema está praticamente resolvido._ ele disse depois de narrar todos os fatos daquela manhã para Ernesto Duncan enquanto ele lhe ajudava a carregar a bagagem e a compra até o lombo de Catituta Tata, era um nome engraçado, mas Eugene a havia batizado assim e nada poderia mudar esse fato, era uma boa égua de carga.

_Precisa de uma carroça, o mais rápido possível.

_É por isso que estou levando pregos para concertar a antiga._ Ele gritou entrando novamente na casa, a casa de Ernesto distava não mais que dois quarteirões do grande rio Paraguai, podia-se ver o movimento animado da feira de pescadores a beira d'água, peixes custavam bem menos ali do que nos açougues da cidade alta, nos mercados perto do centro, uma boa e precisa economia a se fazer.

_Não vai pedir ajuda... Ao seu pai?_ Ernesto indagou de repente, Estevão tateou por entre as coisas espalhadas pelo chão ajuntando-as em um grande bornal que trazia a tira colo, a pergunta havia lhe transpassado os tímpanos como uma bala.

_Meu pai morreu antes mesmo de saber que eu havia sido gerado, acho que não posso contar muito com ele._ Um grande sorriso sarcástico estava estampado em seu rosto para não deixar vestígio do quanto lhe era incomodo falar qualquer coisa sobre Jeronimo Santana. Ernesto sentou-se junto a ele no chão em silencio enquanto ele continuava mecanicamente a separar os itens e a guarda-los com a devoção de um franciscano.

_O seu colete é marrom, mas consigo ver o quanto está sujo.

_Ossos do ofício._ ele disse dando de ombro.

_Ossos do ofício?

_É, estou me divertindo sendo o novo mestre.

_Você... Não se sente confortável em contar o que aconteceu, não é?_ Estevão terminou a tarefa na qual estivera empenhado até então, não havia mais nada a guardar certificou-se ele olhando em volta e se pondo de pé, em seguida estendeu a mão para ajudar Ernesto a fazer o mesmo.

_Não há nada para contar, nada de interessante ou nada que te interesse, então... Acho que isso é o bastante. O senhor tem sido um bom amigo e de uma ajuda imensurável, vai ter sempre a minha gratidão e o meu respeito, e me desculpe se estou sendo insolente estando debaixo do seu teto, mas não tenho absolutamente nada para te contar, senhor Ernesto.