Tudo passou pela mente de Estêvão. Como uma névoa.
Havia deixado Ana na cama naquela manhã. Dormir tinha sido impossível.
Contou impacientemente as horas até a aurora de o dia começar a surgir pela janela entre aberta.
Saiu quando ainda estava escuro, a casa inteira dormia silenciosamente, deixou bilhete. Pelo menos em uma coisa Ernesto tinha razão: Não podia pensar como um perdedor.
Faria exatamente o que a mãe planejara meticulosamente há 22 anos: Um empréstimo no banco Solimões. Tudo bem que agora, tal como o banco do Valverde, depois que o Smith se estabeleceu na cidade, os Solimões não passava de uma portinha em um canto entre os prédios grandes do centro. Mas esperava que eles pudessem ajudá-lo, afinal a quantia da qual necessitava não era assim tão imensa. Melhor emprestar do banco do que de Jacó, não teria necessidade de pagar toda a quantia de uma só vez ao banco como teria se optasse pela facilidade dos irmãos Bonifácio.
Voltou frustrado, a papelada exigia tempo para aprontar-se e tempo era uma coisa que não tinha. A casa estava tão silenciosa quanto ele deixara, as franjas das cortinas das janelas ainda estavam serradas e a casa na penumbra do dia chuvoso, secou a sola da bota de cano alto no tapete fronteiriço conforme seu terrível mau costume e escutou o silencio que passava em volta de sua cabeça, a neblina que caia lá fora deixava a casa toda com aquele cheiro característico de mofo por causa das infiltrações. O peito de Estevão pesou. Aquele já era o seu lar, já havia se apegado demasiadamente aquele lugar para simplesmente deixar-se vencer, se houvesse pelo menos uma forma de contornar a situação...
_Dalva!_ ele chamou fazendo a voz ecoar e retumbar pela casa silenciosa_ Dalva!_ dessa vez a cozinheira robusta e vermelha veio depressa com seus passos de pata choca apressada.
_Pois já voltou? Não o esperávamos para tão cedo.
_Eu sei, as coisas não saíram conforme o planejado, onde estão todos?_ Ele indagou se poupando de maiores explicações.
_Senhora dona Ana ainda está na cama, amanheceu aperreada como sempre que faz alguma viagem, com a diferença que está mil vezes pior. Pelos céus, ajude-me com isso_ ela disse passando para ele uma toalha úmida._ não posso me dividir em duas para cuidar do almoço e da patroa._ Estevão suspirou, já havia se esquecido das terríveis dores de cabeça que Ana tinha quase todas as vezes que precisava passar mais que quatro horas dentro de uma carruagem.
Subiu sem protestar com Dalva, de nada adiantaria reclamar do cansaço e das dores na coluna e no final das contas a idéia de deixar Ana sozinha não era a mais atrativa, assim que abriu a porta do quarto avistou Ana, estava sentada na poltrona estofada de espaldar longo e vermelho que sempre ficava junto à escrivaninha, mas que agora estava posta de frente à janela. Ana abraçava os joelhos e mirava o sol que brilhava baço através da cruviana. Estava pálida e quieta, mas não parecia doente, não conforme Dalva alegara.
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Os Estevãos (Em Revisão)
RomanceQuando Conceição Estevão falece todos acreditam que a velha e respeitável família do vale do pampa havia chegado ao fim, mas a despeito dos gananciosos vizinhos que pretendiam por as mãos em Redoma de ouro, a valiosa e cobiçada propiedade dos Estevã...