~Capítulo 01~

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Afonso

Constância e Martinho estavam tão aflitos quanto eu. De repente, tudo que era um mar de flores virou nuvens negras. Isso soou... gay, eu sei!

Amália e eu estávamos felizes com a chegada de um filho, e no outro dia acontece essa queda sem circunstância. Ela perdeu o bebê, eu sei e sentia isso até que o doutor Lupércio veio até nós confirmando as suspeitas.

- Eu sinto muito, Afonso. Não deu para salvar o bebê – diz ele e fico desolado. Constância me abraça e Martinho aperta meu ombro.

- Que tristeza, Afonso. Nosso netinho – diz Constância.

Lupércio permite nossa ida até o quarto de Amália. Ela está dormindo. Constância se abaixa ao lado da filha e acaricia seus cabelos, até que ela desperta.

- Mãe, o que aconteceu? – ela pergunta.

- Você sofreu uma queda, filha – responde Constância triste com a situação.

- Você está bem, meu amor? – pergunto e me aproximo. Ela me olha com o cenho franzido, como se não soubesse quem eu sou.

- E quem é você? – pergunta ela e eu me surpreendo com tamanha falta de seu conhecimento a meu respeito.

- Meu amor, somos casados – digo e ela ri nervosa.

- Não. Impossível. Não posso ter ficado louca a ponto de me casar com quem não conheço – diz ela e essas palavras me arrebenta o coração.

Engulo o bolo que se forma em minha garganta e olho para os pais de Amália, que não sabem quais palavras usar nesse momento. Eles estão confusos como eu. Como uma queda pode causar uma consequência dessas? Perda de memória?

Se não bastasse a perda do bebê que estávamos esperando, agora mais essa situação. Peço licença e me retiro do quarto, atordoado com tantos acontecimentos nos últimos minutos em sua vida. Ela toma um gole grande água e sai da pequena casa, monta em seu cavalo e segue em direção a floresta, onde havia uma cachoeira. Gostava de ficar ali pensando um pouco e refletir.

Abdiquei um trono e uma coroa para viver o amor incondicional com Amália. Graças a ela, consegui entender o árduo trabalho desse povo tão humilde e aprendi muitas coisas ao longo desse tempo juntos.

Milhares de lembranças invadiram minha mente e me permitir chorar.

- Por quais motivos o cavalheiro sofre? – pergunta uma voz aveludada e suave.

Ela senta ao meu lado e vejo que é Catarina, a princesa de Artena e filha de meu grande amigo Rei Augusto.

- Alteza, o que faz por aqui? – pergunto e ela sorri de canto.

- Sem formalidades, Afonso. Estamos fora de um castelo no momento – diz ela.

- Ainda sim, devo tratá-la pelo cargo de respeito – respondo e dou um fraco sorriso – Em alguns minutos, tudo fora jogado pelos ares. Tudo que vivi e passei por um amor tão grande, de repente, virou de cabeça para baixo. Deve imaginar como é isso, Princesa?

Ela estava longe dos pensamentos e vi uma lágrima solitária escorrer pelos olhos. Catarina enxugou rápido para que eu não percebesse, mas já era tarde para o ato.

- Sabe Afonso, meu pai quer me arranjar um marido. E ele não liga muito para os meus sentimentos. Não tenho a minha mãe para ir chorar no colo, o homem que achei que poderia compartilhar de um grande amor me traiu e tentei ao máximo me aproximar de Rodolfo – diz ela ríspida – Então sim, imagino tudo pelo que passa. Você é um nobre, Afonso. Íntegro, honrado e me atrevo dizer que carrega consigo uma inteligência maior que a minha.

As palavras de Catarina ganhavam força, que me atingiu como um soco. Um nobre, íntegro, honrado e inteligente? Será?

Depois de ter dado a coroa de mão beijada a meu irmão e decepcionado minha querida avó Crisélia, ao deixarem pensar que estava morto. Não. Não sou um homem que merece tais palavras.

- Acho que parte do que disse não cabe a mim, Catarina – digo, reconhecendo ser até rude – Rodolfo ganhou a coroa de mão beijada e jamais terá a responsabilidade de se aproximar de uma mulher tão inteligente como você. Ainda encontrará o homem que deseja.

- Talvez ele esteja perto o bastante, Afonso – diz ela e seus olhos brilham, combinando com a luz do sol na água da cachoeira. O que ela estava pensando?

Não pude deixar de notar a beleza de Catarina: uma mulher alta, jovem, cabelos longos puxados para uma cor castanho escuro, sorriso largo e um rosto delicado. Uma mulher muito bonita.

- Preciso ir, Afonso. Obrigada pela conversa – agradece ela e prepara para subir ao cavalo – Nos faça uma visita ao Castelo de Artena. Será muito bem vindo – diz ela e sai.

Sorrio e acabo por pensar na ideia que Catarina me fez ter: ir para o castelo e me juntar a guarda do Rei Augusto. 

Você Pertence a MimOnde histórias criam vida. Descubra agora