~Capítulo 23~

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Reino de Lastrilha

Otávio estava em sua biblioteca pensativo e entendendo por que o Príncipe Henrique odiara tanto Afonso de Monferrato. E por que quer tanto se vingar de Catarina de Lurton, sendo essa sua antiga noiva e Rei Augusto fazia um apreço tanto para que a aliança saísse perfeita entre Artena e Brúnis.

Então reunira estas dúvidas, molhando a ponta de sua pena no tinteiro e colocando em plenas escritas no papel. Escrevia com entusiasmo cada palavra, que chegava a segunda folha na metade e com uma despedida formal de todo soberano.

Sabia que ficaria nervoso em esperar pela tal resposta, mas a carta levava no máximo poucas luas até chegar nas mãos corretas.

- Aires – chama o conselheiro.

- Sim, majestade – responde com reverência, sempre naquele medo da arrogância de seu rei. Otávio não costumava tratar ninguém com devido respeito a sua volta e muito menos não economizava palavras pesadas aos seus servos.

- Peça ao mensageiro que envie esta carta até Brúnis – ordena e Aires estranha o jeito "mais manso" do soberano.

- Claro, majestade – responde e o reverencia mais uma vez – Com vossa licença.

O Conselheiro sai na velocidade mais alta da biblioteca, pois não estava nem um pouco interessado ser alvejado pelo mau humor repentino do Rei.

O soberano desvia o olhar para o quadro a sua direita, aonde os traços desenhavam o belo rosto de sua falecida esposa e mãe de sua filha. Aliás, filhos.

- Só queria entender porque me traiu desta forma grotesca, Heloísa? – diz acariciando o quadro – Eu te amei tanto, coisa que não fiz nem pela minha antiga noiva. Mãe do meu primeiro herdeiro, a qual você criara como filho. Amor sempre foi dedicado aos fracos, e eu fui enlaçado por vossos carinhos. E no primeiro momento, esquiva tudo isso ao meu primo?

Seus olhos ardem numa fúria descabida e quebra o vaso caríssimo de barro que se encontrava na mesa.

O filho de Otávio, mais velho e primogênito, apaixonou-se por uma jovem Condessa de um Reino distante. Casou-se, até o momento soube que ela estava esperando o primeiro filho e logo não recebia mais cartas.

Sofia, a pequena princesa, foi deixada para adoção após todo o corrido trágico e nunca soube quem foi o casal que criara sua filha.

Otávio vivia amargurado pela vida, usando sua extrema arrogância e desprezo pelos demais para viver os dias que o seguiam. Menos a governanta que o amava como filho.

Queria a todo custo casar-se com a Princesa de Artena, apesar de que não iria demonstrar nenhum sentimento na união, somente queria um herdeiro e um reino com alta potência em poder unido a ele. Era interesse político. Porém, o Rei Augusto recusou seu pedido e jogou-lhe na cara tudo que sabia sobre ele.

Seus crimes não eram poucos, disso os mais íntimos do seu Reino sabia bem.


Reino de Montemor

A Rainha estava em dias melhores, pois o Conselho da Cália aceitou Rodolfo como um futuro Rei e ele aprendera muito as lições passadas. Continuava com suas aulas, agora com um mestre mais experiente e passava algum tempo concentrado na biblioteca estudando os livros de leis e regência.

Escrevia cartas como treinamento e Crisélia avaliava cada dedicação de seu neto. Lembrou-se dos tempos de sua falecida filha Isabel e de seu marido, deixando cair lágrimas teimosas pela face na falta que sentia dos dois.

Lembrança on

- Mamãe, me sinto exausta – diz Isabel, sentando na cama e acariciando sua grande barriga. Tinham chegado de um baile de aniversário de outro Reino vizinho.

- Imagino, minha filha – responde a Rainha – Este pequeno príncipe está ficando espoleta – as duas riem.

Crisélia acaricia os cabelos da filha e beija sua testa, acariciando o ventre crescido da princesa. Ela sorri quando sente seu neto mexer-se.

- Vovó bem coruja – diz e elas sorriem.

- Aonde está seu marido, minha filha? – pergunta a Rainha, notando a ausência do genro.

- Tomando uma taça de vinho com o papai. Esses dois são iguais em termos de conversar, política e tempos de solteiros – responde Isabel e riem novamente.

No momento seguinte, a porta dos aposentos se abre e por ela entra dois homens rindo e jogando conversa fora.

- Olha só, meu querido marido e meu querido genro. Estávamos até agora falando de vocês - diz Crisélia.

- Minha rainha dizia o que sobre mim? – pergunta Guilherme abraçando Crisélia, beijando sua têmpora.

- Nada demais, querido marido – responde ela e lhe dá um selinho.

- E meu garotão, como está? – pergunta Maurício, sentando ao lado de Isabel e acariciando seu ventre.

- Quietinho e agora deve ter dormido – responde Isabel, acariciando o rosto do marido que lhe retribui com um beijo.

O momento é preenchido com um pequeno garoto, empurrando a porta e entrando no quarto.

- Mamãe, papai – chama o pequeno.

- Aqui, Afonso. Vem com a mamãe – diz ela e corre, subindo na cama dos pais.

- Oi vovó e vovô – abraça os avós, que sorriem.

- Não deveria estar dormindo, rapazinho? – pergunta o pai.

- Estava com saudades de vocês, papai – responde ele. Afonso era bem inteligente para seus 4 anos – Prometo que vou ficar só um pouquinho.

Isabel abraça o filho mais velho e Maurício, bagunça seus cabelos tirando um riso do menino.

- Meu pequeno príncipe, mamãe ama você – diz beijando-o na bochecha.

- Também, mamãe. E amo meu irmãozinho – responde ele e todos ali se emocionam.

A Rainha não conteve seu choro e a dor invade seu peito. É tanta saudade que sentia de sua única filha, do marido e daquele genro amoroso. Perdera os três em curto espaço de tempo, fazendo sua saúde se fragilizar com tanto sofrimento que passara. O que erguia a Rainha todos os dias, os dois netos que ficaram em seus cuidados e se policiava de dar atenção e amor para eles.

E sabia que logo partiria desta encarnação, sentia em seu peito e por isso fazia questão de viver todos os dias como se fossem os últimos.

- Vovó, está pensando neles novamente, não é? – perguntara Rodolfo, referindo-se aos pais e avô. Crisélia assente e o neto a abraça – Eu sinto saudades deles todos os dias também, vovó. Penso em como seria meu pai aqui com a gente e a minha mãe com aquela doçura rara que tinha.

- Meu neto querido, foi tão pouco o tempo em que partiram. Meu coração só suporta os dias seguidos graças a você e seu irmão – acaricia o rosto de seu neto – Vejo os traços de sua mãe em você, a forma como se aplica em tudo que quer aprender e a natureza forte de seu avô e de seu pai no Afonso. Vocês dois são as misturas dos três em cada detalhe.

Rodolfo abraça a avó emocionado pela declaração, porém a Rainha sente uma fisgada no peito e sussurra um gemido.

- Vó, o que há? – pergunta Rodolfo.

- Uma fisgada no peito – responde puxando o ar e quase cai ao tentar andar, mas Rodolfo a ampara.

- Vó, vamos deitar. Venha – começa a andar com ela até seus aposentos. Rodolfo fazia uma prece silenciosa para que não seja nada grave. 

Você Pertence a MimOnde histórias criam vida. Descubra agora