Reino de Lastrilha
Otávio estava em sua biblioteca pensativo e entendendo por que o Príncipe Henrique odiara tanto Afonso de Monferrato. E por que quer tanto se vingar de Catarina de Lurton, sendo essa sua antiga noiva e Rei Augusto fazia um apreço tanto para que a aliança saísse perfeita entre Artena e Brúnis.
Então reunira estas dúvidas, molhando a ponta de sua pena no tinteiro e colocando em plenas escritas no papel. Escrevia com entusiasmo cada palavra, que chegava a segunda folha na metade e com uma despedida formal de todo soberano.
Sabia que ficaria nervoso em esperar pela tal resposta, mas a carta levava no máximo poucas luas até chegar nas mãos corretas.
- Aires – chama o conselheiro.
- Sim, majestade – responde com reverência, sempre naquele medo da arrogância de seu rei. Otávio não costumava tratar ninguém com devido respeito a sua volta e muito menos não economizava palavras pesadas aos seus servos.
- Peça ao mensageiro que envie esta carta até Brúnis – ordena e Aires estranha o jeito "mais manso" do soberano.
- Claro, majestade – responde e o reverencia mais uma vez – Com vossa licença.
O Conselheiro sai na velocidade mais alta da biblioteca, pois não estava nem um pouco interessado ser alvejado pelo mau humor repentino do Rei.
O soberano desvia o olhar para o quadro a sua direita, aonde os traços desenhavam o belo rosto de sua falecida esposa e mãe de sua filha. Aliás, filhos.
- Só queria entender porque me traiu desta forma grotesca, Heloísa? – diz acariciando o quadro – Eu te amei tanto, coisa que não fiz nem pela minha antiga noiva. Mãe do meu primeiro herdeiro, a qual você criara como filho. Amor sempre foi dedicado aos fracos, e eu fui enlaçado por vossos carinhos. E no primeiro momento, esquiva tudo isso ao meu primo?
Seus olhos ardem numa fúria descabida e quebra o vaso caríssimo de barro que se encontrava na mesa.
O filho de Otávio, mais velho e primogênito, apaixonou-se por uma jovem Condessa de um Reino distante. Casou-se, até o momento soube que ela estava esperando o primeiro filho e logo não recebia mais cartas.
Sofia, a pequena princesa, foi deixada para adoção após todo o corrido trágico e nunca soube quem foi o casal que criara sua filha.
Otávio vivia amargurado pela vida, usando sua extrema arrogância e desprezo pelos demais para viver os dias que o seguiam. Menos a governanta que o amava como filho.
Queria a todo custo casar-se com a Princesa de Artena, apesar de que não iria demonstrar nenhum sentimento na união, somente queria um herdeiro e um reino com alta potência em poder unido a ele. Era interesse político. Porém, o Rei Augusto recusou seu pedido e jogou-lhe na cara tudo que sabia sobre ele.
Seus crimes não eram poucos, disso os mais íntimos do seu Reino sabia bem.
Reino de Montemor
A Rainha estava em dias melhores, pois o Conselho da Cália aceitou Rodolfo como um futuro Rei e ele aprendera muito as lições passadas. Continuava com suas aulas, agora com um mestre mais experiente e passava algum tempo concentrado na biblioteca estudando os livros de leis e regência.
Escrevia cartas como treinamento e Crisélia avaliava cada dedicação de seu neto. Lembrou-se dos tempos de sua falecida filha Isabel e de seu marido, deixando cair lágrimas teimosas pela face na falta que sentia dos dois.
Lembrança on
- Mamãe, me sinto exausta – diz Isabel, sentando na cama e acariciando sua grande barriga. Tinham chegado de um baile de aniversário de outro Reino vizinho.
- Imagino, minha filha – responde a Rainha – Este pequeno príncipe está ficando espoleta – as duas riem.
Crisélia acaricia os cabelos da filha e beija sua testa, acariciando o ventre crescido da princesa. Ela sorri quando sente seu neto mexer-se.
- Vovó bem coruja – diz e elas sorriem.
- Aonde está seu marido, minha filha? – pergunta a Rainha, notando a ausência do genro.
- Tomando uma taça de vinho com o papai. Esses dois são iguais em termos de conversar, política e tempos de solteiros – responde Isabel e riem novamente.
No momento seguinte, a porta dos aposentos se abre e por ela entra dois homens rindo e jogando conversa fora.
- Olha só, meu querido marido e meu querido genro. Estávamos até agora falando de vocês - diz Crisélia.
- Minha rainha dizia o que sobre mim? – pergunta Guilherme abraçando Crisélia, beijando sua têmpora.
- Nada demais, querido marido – responde ela e lhe dá um selinho.
- E meu garotão, como está? – pergunta Maurício, sentando ao lado de Isabel e acariciando seu ventre.
- Quietinho e agora deve ter dormido – responde Isabel, acariciando o rosto do marido que lhe retribui com um beijo.
O momento é preenchido com um pequeno garoto, empurrando a porta e entrando no quarto.
- Mamãe, papai – chama o pequeno.
- Aqui, Afonso. Vem com a mamãe – diz ela e corre, subindo na cama dos pais.
- Oi vovó e vovô – abraça os avós, que sorriem.
- Não deveria estar dormindo, rapazinho? – pergunta o pai.
- Estava com saudades de vocês, papai – responde ele. Afonso era bem inteligente para seus 4 anos – Prometo que vou ficar só um pouquinho.
Isabel abraça o filho mais velho e Maurício, bagunça seus cabelos tirando um riso do menino.
- Meu pequeno príncipe, mamãe ama você – diz beijando-o na bochecha.
- Também, mamãe. E amo meu irmãozinho – responde ele e todos ali se emocionam.
A Rainha não conteve seu choro e a dor invade seu peito. É tanta saudade que sentia de sua única filha, do marido e daquele genro amoroso. Perdera os três em curto espaço de tempo, fazendo sua saúde se fragilizar com tanto sofrimento que passara. O que erguia a Rainha todos os dias, os dois netos que ficaram em seus cuidados e se policiava de dar atenção e amor para eles.
E sabia que logo partiria desta encarnação, sentia em seu peito e por isso fazia questão de viver todos os dias como se fossem os últimos.
- Vovó, está pensando neles novamente, não é? – perguntara Rodolfo, referindo-se aos pais e avô. Crisélia assente e o neto a abraça – Eu sinto saudades deles todos os dias também, vovó. Penso em como seria meu pai aqui com a gente e a minha mãe com aquela doçura rara que tinha.
- Meu neto querido, foi tão pouco o tempo em que partiram. Meu coração só suporta os dias seguidos graças a você e seu irmão – acaricia o rosto de seu neto – Vejo os traços de sua mãe em você, a forma como se aplica em tudo que quer aprender e a natureza forte de seu avô e de seu pai no Afonso. Vocês dois são as misturas dos três em cada detalhe.
Rodolfo abraça a avó emocionado pela declaração, porém a Rainha sente uma fisgada no peito e sussurra um gemido.
- Vó, o que há? – pergunta Rodolfo.
- Uma fisgada no peito – responde puxando o ar e quase cai ao tentar andar, mas Rodolfo a ampara.
- Vó, vamos deitar. Venha – começa a andar com ela até seus aposentos. Rodolfo fazia uma prece silenciosa para que não seja nada grave.
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Você Pertence a Mim
RomanceAfonso abdica de seu trono para viver como um plebeu, em nome de seu grande amor por Amália. Protagonizando lindos momentos como casal, porém Amália sofre uma queda provocando perda de memória e de seu bebê. Desolado e com o coração partido, Afonso...