Em Montemor
- Rodolfo, meu neto – chamo-o em voz firme.
- Minha vó. Algo lhe aflige? – pergunta ele preocupado. Tento esconder minhas aflições, mas não há disfarce para elas e logo se é acompanhada de uma agonia sentimental misturado com o amargo de saudades.
São poucos meses, não sei ao certo, em que meu neto Afonso abdica de sua nobreza para viver em meio a plebe. Um escandâlo majestoso, um vexame. Deuses! Isabel se estivesse viva, morreria em prantos ao desgosto da escolha do filho mais velho.
- A ausência absurda e vergonhosa de seu irmão – digo temendo as lágrimas que desceram.
- Minha vó, a senhora não pode ficar remoendo essa situação todos os dias – diz ele.
- Tem razão, meu neto. Preciso pensar em sua ascensão como Rei – digo-lhe e ele empalidece, aparentando estar passando mal – Está tudo bem, Rodolfo? Parece estar tendo um ataque.
- Vó, eu... eu não... – ele engole seco e gagueja.
- Desenrola, Rodolfo. Você o que? – me irrito, sendo até estúpida com meu neto.
Parecia temer me dizer a verdade. A dura verdade.
É evidente seu despreparo para subir ao trono e assumir o peso que traz a coroa de um Rei.
- Eu não posso. Esse lugar foi destinado a Afonso. Ele foi preparado para tudo isso, minha vó – diz ele e começa a expor o choro – Eu mal sabia escrever meu nome, enquanto Afonso já escrevia uma carta. Ele sempre foi o bom homem e cheio de qualidades. Eu sou só o Príncipe irresponsável e imaturo.
Ouvia cada palavra com aperto no coração. Rodolfo fora deixado para trás por tanto tempo, que não via o quão importante era pra ele tudo que ensinamos a Afonso. Via meu pequeno Rodolfo pedindo toda a atenção pra ele quando brincava de luta de espadas com o irmão, este último o deixando vencer para vê-lo feliz e correr pelos jardins. Que amarga é essa saudade da época feliz. Isabel era viva, mesmo andando triste com a morte prematura de seu marido, passava horas observando os filhos.
Acaricio o rosto do meu neto Rodolfo e aconchego seu semblante triste em um forte abraço. Meu pequeno príncipe e neto amado. Como ser tola em deixá-lo para trás?
- Perdoe-me, meu neto. Sou uma péssima tutora e avó por isso – digo e beijo sua bochecha – Estou velha e cansada. Eu já vivi muito. Perdi minha filha amada, a qual os dias passam e a saudade aperta. E seu irmão vai embora para Artena viver a vida como ferreiro e deixa tudo para trás. Espero que ele conheça alguém que o faça desconhecer a falta de juízo que teve.
- Minha vó, eu a amo muito. Não sabe como queria poder ter minha mãe conosco nesse momento – diz ele e sorrio fraco.
- Vamos, meu neto. Precisamos tratar das suas habilidades, para quando for a hora de assumir um cargo grande – digo e ele sorri.
Em Artena
Ainda estava confusa após acordar de um sono profundo e estranho. Parecia que faltava algo por ali e desconhecia o homem que dizia ser meu marido. Da onde o conhecia?
A sensação de mágoa batia forte em meu peito ao pensar tais situações, um sentimento de tristeza que me surpreendia ao olhar aquele rapaz jovem a minha frente e não conhecer.
- Filha – chama minha mãe.
- Oi mãe – respondo e ela se senta ao meu lado.
Tinha me afastado de casa para espairecer a mente dos ocorridos aos últimos minutos.
- Não há qualquer memória sobre Afonso, por menor que seja? – pergunta ela e vejo que se preocupa.
- Não. Mãe, como posso lembrar que alguém que não conheço? – falo, um pouco ríspida.
Minha mãe me repreende com o olhar de mágoa. Sentia que ela tinha uma admiração pelo... Afonso. Só desconhecia o motivo para tal sentimento.
- Amália, vocês se conheceram há um tempo e são casados. Porém, é inútil minhas palavras nesse momento – diz ela frustrada – Espero que essa... falta de consciência seja provisória. Fique bem, filha – beija minha testa e entra em casa.
Vejo Afonso se aproximar e parecia um tanto triste.
- Desejaria nesse momento ter o poder de trazer suas memórias de volta, mas isso não está ao meu alcance – diz ele engolindo seco – Só quero agradecer a hospitalidade que você e sua família me ofereceram. Você se esqueceu, mas me salvou de morrer no meio do desconhecido ferido por uma flecha. Portanto, serei sempre grato a você por isso.
Perdi as palavras no momento em que ele termina de falar comigo. A única reação que teve foi de apoiar as mãos em seu ombro e sorri educada. Não me lembrava de tê-lo salvo de nada.
- Não me lembro, mas fico feliz com sua gratidão. E minha família também – digo e ele sorri de canto.
- Vou para o castelo de Artena. Trabalharei lá como Conselheiro do Rei – diz ele e pega minha mão, beijando-a em seguida. Aquele toque me fez ficar surpresa e emocionada. Tão cavalheiro e simpático – Adeus, Amália.
Ele sai em direção ao seu cavalo e o vejo partir em direção ao seu destino. A sensação de dor se fez presente, me dando a estranha sensação de abandono e resolvi ignorar voltando aos meus afazeres.
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Você Pertence a Mim
RomanceAfonso abdica de seu trono para viver como um plebeu, em nome de seu grande amor por Amália. Protagonizando lindos momentos como casal, porém Amália sofre uma queda provocando perda de memória e de seu bebê. Desolado e com o coração partido, Afonso...