Capítulo 3

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Eu sentia que iria explodir em um milhão de fagulhas brilhantes antes que o beijo fosse de fato consumado. Meu sangue corria veloz nas minhas veias fazendo meu coração bater mais rápido.

Mas tudo não passou de um suave encostar de lábios, pois graças à um intrometido que entrou no camarim, Ray se afastou rapidamente de mim. Eu abri os olhos, completamente confusa, ainda podia sentir a sensação de tê-lo tão perto.

— O carro que você pediu está pronto. — Um homem mais velho, com cabelos minuciosamente penteados com gel, e vestido com roupas sociais avisou. Depois arqueou uma sobrancelha ao notar minha presença. — Quem é a garota? — Perguntou como se eu não fosse suficientemente capaz de responder por mim.

— Minha maior fã. — Ray respondeu usando minhas palavras e eu sorri sem jeito.

— Mais uma essa semana? Ela ao menos é maior de idade? — Detectei um certo sarcasmo no tom de voz dele e Ray revirou os olhos.

Eu sabia que jamais poderia exigir nada de James, afinal ele havia acabado de me conhecer. Entretanto não gostei de ouvir que eu era mais uma.

— Não enche, Mitchell! — Ele rebateu efusivo e foi a vez do homem revirar os olhos. — Vamos sair logo daqui, April!

Ray voltou a vestir a jaqueta de couro e inesperadamente abraçou os meus ombros, me conduzindo para fora do camarim. O tal Mitchell nos seguiu por alguns metros, argumentando que James não deveria se envolver em mais nenhum escândalo. Discursou sobre questões judiciais e sobre ele estar na mira da mídia, porém Ray não parecia dar a miníma para nada daquilo. Fomos guiados por alguns seguranças por um longo corredor e saímos pelos fundos da casa noturna onde acontecera o show.

A brisa fria da noite nos atingiu em cheio quando alcançamos a rua. Não era à toa que Chicago era conhecida como a cidade dos ventos. Me amaldiçoei mentalmente por ter decidido usar um vestido relativamente curto nessa noite. Ao menos eu estava calçada com meu bom e velho All Star vermelho, caso fosse preciso caminhar muito seja lá para onde estivéssemos indo.

De repente um homem super alto e forte entregou à Ray uma chave. Ele sorriu grato e se aproximou de um belíssimo Camaro preto estacionado próximo à calçada. Antes de entrar no carro ele me lançou um sorriso cúmplice. Entrei também sentindo o aroma de carro novo me receber.

Ray ligou o carro e ouvimos o impressionante ronco do motor potente, que parecia deixá-lo animado como uma criança que acabou de receber de natal o presente que tanto ansiava.

— Para onde vamos? — Questionei ansiosa e o olhar dele voltou a me encontrar, tão intenso quanto antes.

— Vamos terminar o que começamos, April.

Sua promessa ecoou na minha mente e abraçou o meu interior como um cobertor térmico, me aquecendo instantaneamente.

Parecia até que eu tinha previsto que iria demorar à voltar para casa. Obviamente meus pais não sabiam que eu tinha ido ao show do cara que meu pai considerava um desordeiro. Eu menti dizendo para eles que iria dormir na casa de Ellen Renée, inventei que éramos amigas. Eles nem desconfiaram que a minha única ligação com Ellen era Frank, e muito menos que ele basicamente me abandonou para ficar com ela.

Apesar de toda essa história fajuta, meus pais jamais iriam suspeitar da verdade. Isso porque em dezessete anos eu nunca havia mentido para eles antes. Então meu álibi estava à salvo.

— "Oh, minha garota sexy 
Venha comigo 
Vamos incendiar a cidade 
Essa noite..." — Ray cantou a introdução de sua música enquanto acelerava o carro pela avenida principal.

Eu podia sentir que havia entrelinhas e mensagens ocultas em sua canção nesse momento. Queria poder gravar a situação no fundo da minha alma que seria eternamente reservada para ele.

— Eu amo essa música. Digo, amo todas as outras que você compôs também, porém essa em especial é minha favorita. — Confessei e ele me olhou por cima dos ombros com seu lindo sorriso que me fazia derreter.

— Sabia que é minha favorita também?

— Você... Escreveu para alguém em especial? — Questionei com receio de estar sendo invasiva, entretanto o olhar despreocupado que ele me lançou brevemente me fez relaxar.

— Não. Foi apenas uma confissão do meu desejo em ter alguém ao meu lado. Alguém sem medo de saltar no escuro comigo. — Respondeu calmante e eu o olhei intrigada.

— Como assim no escuro?

— A vida é o escuro para mim. É aquela linha tênue entre o que está acontecendo agora e o que pode nos surpreender depois. E você sabe, sem a escuridão não existe possibilidade de luz. — Respondeu parando o carro em um sinal fechado e eu o observei pensativa.

— A luz no caso seria o incêndio sugerido na música? — Perguntei e ele assentiu. — Jamais imaginei que pudesse ter esse significado. Agora gosto mais ainda da letra.

— Você aceita ser a minha luz na escuridão essa noite, April? — Ele perguntou pousando a mão sobre a minha perna e a apertando sutilmente.

Seu toque irradiou ondas de eletricidade por toda extensão da minha pele. Meu coração voltou a bater descompassado.

— É tudo que mais quero. — Respondi extremamente extasiada e ele sorriu sedutor.

Ray voltou a acelerar o carro terminando de cantar sua música. Eu cantei junto, mas timidamente, enquanto sorria feito uma boba.

Eu mal conseguia acreditar que tudo aquilo era real e não se tratava apenas de um sonho incendiário. Eu e Ray James estávamos juntos em uma noite fria de primavera. A minha estação favorita combinada com o meu cantor favorito, com certeza seria a noite mais inesquecível da minha vida. Eu só não podia prever o quanto seria, mas estava prestes a descobrir.

Depois Daquela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora