Capítulo 13

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— Desculpa, eu acho que não ouvi direito. A senhorita poderia me dizer o que a minha filha tem, por favor? — Meu pai pediu e eu desejei ter me afogado na piscina mais cedo.

— A sua filha está...

— Não, não ouse repetir a mesma coisa. Isso só pode estar errado. O exame deve ter sido trocado. Eu já vi isso acontecer em muitos hospitais. Já ganhei muitos processos do tipo. E saiba que não hesitarei em processar esse local se a senhorita não achar o verdadeiro exame que pertence à minha filha! — Exigiu enérgico e a médica me lançou um olhar piedoso. Encolhi na maca desejando desaparecer.

— Senhor, nós até podemos repetir o exame, entretanto lhe garanto que não houve troca alguma. Talvez se o senhor tentar se acalmar, podemos conversar os três e...

— April, diz a ela que esse resultado é impossível. — Ele a interrompeu se aproximando de mim. — Anda, diz para ela!

Eu senti meus olhos embarçarem novamente, mas não por uma nova vertigem ou desmaio, dessa vez eram lágrimas.

Lágrimas de reconhecimento do quanto eu fui imbecil por um mês antes ter ficado com Ray James pela primeira vez.

— April, por favor, diz! April! — Meu pai gritou e eu não consegui mais segurar as lágrimas.

— Desculpa, pai!

— Desculpa pelo o quê? Você... Eu não posso acreditar nisso. — Começou a andar de um lado para o outro.

— Eu sugiro que ambos mantenham a calma. Eu sou obstetra e recomendo que conversem em outro ambiente, mais tranquilos e em particular. Sei que é uma situação difícil, principalmente por April ainda ser uma adolescente, mas não é o fim do mundo. — Sugeriu calmamente e me olhou com atenção. — Você agora está carregando uma vida aí dentro. Precisa se alimentar, dormir bem e evitar situações de estresse. — Pontuou olhando novamente para o meu pai que parecia em choque.

Ela me recomendou mais um milhão de coisas, porém meu pensamento estava próximo de marte. Meu pai não disse absolutamente nada. Recebi alta e segui também em silêncio ao lado dele até o carro. As lágrimas ainda eram minhas fiéis companheiras.

— Pai...

— Não fala comigo! — Ele me interrompeu olhando para frente enquanto dirigia veloz.

— Eu sinceramente não sabia. Eu não imaginei que isso pudesse acontecer.

— Ah não? Jura? Você achou que iria transar sem camisinha e iria acontecer o quê? Ganhar um bolo? De chocolate talvez. — Zombou amargo e eu sequei as lágrimas.

— Não me odeie, por favor!

— Vamos conversar em casa. — Replicou entredentes e eu tentei abafar os meu soluços com as mãos. Não falamos mais nenhuma palavra.

***

Minha mãe estava no meio da sala de estar com roupa colorida de ginástica, tão colada ao corpo que mais parecia ser uma segunda pele. Repetia os movimentos de exercício físico que assitia.

Meu pai chegou já desligando a TV e ela reclamou passando a pequena toalha no rosto, secando o suor.

— Posso saber o motivo de tamanha falta de educação, querido? — Ela debochou e ele apontou com o dedo indicador em minha direção. Ela franziu a testa quando me viu sentar no sofá, chorando copiosamente.

— April está grávida.

Minha mãe tinha um misto de confusão e incredulidade no olhar.

— Era só o que me faltava! Eu não vou criar outra criança. Não foi à toa que eu tomei todo cuidado do mundo para não ter um segundo filho. Eu prezo muito minhas noites de sono e meu corpinho. — Comentou orgulhosa passando a mão na barriga definida. Então ela voltou a me olhar com atenção. — Quem é o pai? — Perguntou fazendo meu pai também me encarar.

Eu abaixei a cabeça, pensei em mentir, entretanto me sentia especialmente incapaz de inventar qualquer história que fosse.

— Ray James. — Respondi e minha mãe explodiu uma gargalhada.

— Eu realmente estava acreditando nessa pegadinha. Parabéns aos dois, ambos foram bastante convincentes! — Ela comentou ainda rindo, entretanto meu pai e eu continuamos sérios.

— Como... Como vocês se... relacionaram? — Meu pai perguntou e minha mãe franziu a testa.

— Mês passado eu... Não dormi na casa da Ellen. Na verdade nós sequer somos amigas. Eu... Fui ao show do Ray e nós saímos juntos no final. — Contei e minha mãe olhou do meu pai para mim e arregalou os olhos.

— Espera um momento! Isso tudo é mesmo verdade? Não pode ser. Como diabos Ray te engravidou? — Ela perguntou e meu pai lançou um olhar fulminante para ela. — OK, sem detalhes sórdidos. Porém se isso for real é maravilhoso!

— Como maravilhoso, Francine? Nossa filha mente para nós, vai escondida em um show, engravida e você acha maravilhoso?

— Claro que em uma situação normal teria sido uma tragédia, mas pensem além. — Pediu nos deixando confusos. — Nosso neto é filho de um homem rico e famoso. Nossa vida está feita a partir de agora. — Fantasiou radiante e eu revirei os olhos.

— Pelo amor de Deus, Francine! Não me estressa mais do que eu já estou! — Meu pai pediu e ela enganchou o braço no dele.

— Seremos famosos também. Já até posso ver as manchetes com nossas fotos estampadas: os avós do herdeiro do rock. Se bem que não quero ser chamada de avó.

— Francine, chega de asneiras! A situação é séria.

— Pai, eu sei que eu fiz tudo errado, entretanto me perdoa, por favor! — Interferi na discussão.

— Eu vou ligar para o advogado dele e exigir uma audiência!

— Uma audiência? Isso não é um processo. — Retruquei e ele soltou o braço que minha mãe insistia em segurar.

— Pois se ele não assumir a criança, irá se tornar um. — Respondeu determinado.

— Desculpa por te decepcionar, pai! Eu juro que não queria te fazer passar por isso. Desculpa! — Me levantei do sofá e o abracei de surpresa.

Ele não falou mais nada, se afastou me deixando ainda mais arrasada.

Depois Daquela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora