Capítulo 4

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Ray estacionou na frente de um Pub bastante movimentado. Eu particularmente jamais tinha entrado em um bar em toda minha vida, entretanto intimamente eu já sabia que na companhia de James, eu deixaria para trás muitas coisas que não costumava fazer.

— Aposto que aqui tem a sua cerveja artesanal favorita. — Comentei olhando pelo vidro da janela do carro e ouvi uma risada baixa ao meu lado.

— Você sabe tudo sobre mim? — Questionou e eu voltei a encará-lo há tempo de flagrar um brilho sinuoso de interesse em seus olhos.

— Nem tudo. Sei que você é fã de Ozzy Osbourne desde os quatro anos de idade, mas não sei qual sua música favorita dele. — Contei tirando o cinto de segurança. Só então percebi que Ray sequer tinha colocado o cinto dele.

— Isso é fácil de resolver. Minha música favorita é a que ele canta com Black Label Society. Stillborn, conhece?

— Sim. É uma boa música, porém é uma letra um pouco pesada, não acha?

— Não necessariamente. Acho que no fundo todos nós um dia já desejamos não ter nascido. — Respondeu causalmente e eu me perdi um instante observando seus lábios se moverem. Ele pareceu notar, pois sorriu de maneira sugestiva. — Você curte Ozzy?

— Sim. Adoro Mr. Crowley. — Respondi e ele franziu a testa, pensativo.

— Você sabe da história por trás dessa música, certo?

— Sim, o ocultista Aleister Crowley que defendia a liberdade pessoal e espiritual com o lema "Fazes o que tu queres. Há de ser tudo da Lei". — Respondi e ele sorriu concordando com a cabeça.

— Você concorda com esse lema?

— Claro. Acho que devemos ser livres para então sermos nós mesmos.

— Gosto bastante da sua linha de raciocínio, April. — Ele sussurrou aproximando do meu ouvido. Senti um leve arrepio percorrer minha pele e ele afastou um pouco me olhando intensamente nos olhos. — Vamos beber um pouco antes de seguirmos por aí.

Eu seguramente achei que nunca fosse experimentar álcool na vida, mas estava errada. Entretanto também nunca achei ser possível entrar abraçada com Ray James em um bar, e isso também estava acontecendo. Vários olhares curiosos nos encontraram assim que passamos pela porta. Ray me guiou para o balcão onde eram servidos os drinks. Com toda a música e o falatório ao nosso redor eu mal podia o ouvir. Ele então aproveitou a oportunidade para ficar ainda mais próximo. Ficou em pé atrás de mim e eu senti o seu peito encostar em minhas costas. Seu queixo roçou em meu ombro e sua voz rouca me perguntou ao pé do ouvido o que eu queria beber.

Eu me sentia embriagada antes mesmo de provar qualquer drink. Era como se meu corpo estivesse leve e a qualquer instante começaria a flutuar ali mesmo.

— O que me sugere?

— Que tal uma Bourbon County Stout? É uma cerveja rara, produzida apenas uma vez no ano. — Respondeu afastando meus cabelos e chegando os lábios mais próximos do meu ouvido. — É considerada a melhor cerveja do mundo. Perfeita para essa noite.

Eu estava em choque. Sua voz parecia fazer parte do meu organismo, ritmando meu coração a retumbar cada vez mais veloz no peito. Assenti sem capacidade de verbalizar qualquer coisa e ouvi o riso dele. Ele sabia que sua proximidade estava me desestabilizando. Eu tinha certeza disso.

Respirei fundo procurando por forças no universo para me manter de pé, um barman barbudo serviu a tal magnífica cerveja. Ray apontou para um banco que acabara de ficar vazio e me incentivou a sentar. Sentei virando de frente para ele e seu olhar recaiu sobre mim como uma granada, despedaçando qualquer mísera partícula de juízo que tivesse tentando sobreviver dentro de mim nessa noite.

Seu sorriso era enigmático, ele me observou cruzar as pernas e então subiu o olhar para meu rosto novamente, me observando com atenção. Senti minhas bochechas aquecerem, provavelmente estava ficando vermelha.

Peguei a garrafa de cerveja e virei de uma vez o gargalo na boca. Senti o forte sabor rasgar a minha garganta e acabei engasgando.

Ray riu jogando a cabeça para trás, me deixando constrangida. Ele se aproximou de mim novamente.

— Não está acostumada a beber? — Perguntou desconfiado e eu neguei com a cabeça.

— Não achei que o sabor fosse tão forte. — Tentei me justificar e ele colocou uma mecha do meu cabelo para trás e me olhou nos olhos.

— Você é bem interessante!

Eu senti um leve desapontamento me atingir em cheio. Será que com interessante ele quis dizer que eu era idiota? Sim, porque só uma idiota põe banca que bebe qualquer coisa e engasga no primeiro gole de cerveja.

Ray voltou a refazer o caminho para os meus lábios. Eu me senti novamente elétrica. Eu queria tanto um beijo dele para coroar a noite mais incrível da minha vida, entretanto o destino parecia não querer cooperar comigo, como sempre. Mais uma vez fomos atrapalhados. Desse vez porém por um flash de uma foto.

Ray se afastou rapidamente de mim e olhou em volta à procura do fotógrafo de plantão. Foi quando ele identificou no meio das pessoas que bebiam tranquilas, um homem com uma câmera profissional pendendo no pescoço.

O que aconteceu em seguida foi como um borrão. Ray partiu para cima do cara dando um murro bem na boca dele, fazendo sangue deslizar pelo pescoço do homem, que cambaleou atordoado. Depois arrancou a câmera e jogou com força no chão, pisando em cima em seguida. O rapaz gritou desesperado e tentou recuperar seu objeto, entretanto Ray o pegou pelo colarinho da camisa e o jogou sobre uma mesa, fazendo cair copos e garrafas, partindo tudo em um milhão de cacos de vidros por toda parte. Por sorte o homem não se feriu mais.

— Vamos sair daqui! — Ray me chamou quando os seguranças surgiram, ele puxou minha mão me arrastando em meio às pessoas que estavam assustadas com a confusão.

Entramos rapidamente no Camaro, Ray começou a dirigir veloz como se fosse um fugitivo da polícia. Seu maxilar estava cerrado evidenciado sua fúria.

— Eu odeio paparazzis. — Declarou e só então eu saí do topor que estava imersa e percebi o que tinha acontecido.

— Ah droga!

— O que houve? Você se feriu? — Perguntou me olhando de relance, acelerando cada vez mais.

— Não, nessa confusão toda eu acabei trazendo a cerveja que estava na minha mão. E nós não pagamos por ela. Sem querer eu roubei uma maldita cerveja! Mas que droga! — Reclamei e ele explodiu em gargalhada jogando a cabeça para trás. Eu o olhei irritada. — Não ri! Eu nunca roubei nada antes na minha vida.

— Para tudo há uma primeira vez. — Ironizou e eu olhei para a garrafa em minhas mãos e suspirei inconformada.

— Eu não pretendo me tornar uma ladra de cervejas. — Rebati e ele riu novamente.

— Tarde demais, April. Você já é.

Depois Daquela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora