Capítulo 32

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Do sexto mês até o momento do parto pareceu demorar uma eternidade. Isso talvez se atribua ao fato por eu ter descoberto a gravidez muito cedo, ou por conta de ser muito ansiosa mesmo. A única coisa que eu sabia era que depois de esperar por nove meses e uma semana, finalmente iria conhecer o meu bebê.

As contrações começaram na noite do último dia de janeiro, e se estenderam pela manhã do primeiro dia de fevereiro. Eu tinha a doce ilusão de que assim que sentisse a primeira dorzinha iria para o hospital e o bebê nasceria, e fim da história, mas eu estava enganada. Muito enganada.

Kristen me disse que era normal ter longos trabalhos de parto, foi até o que aconteceu com ela, porém eu já estava na mesma situação há quase quinze horas no hospital e não suportava mais.

— Ajuda a mamãe, meu amor! Sai logo daí de dentro. — Pedi suando frio.

Ray permaneceu o tempo todo ao meu lado, segurando minha mão. Na recepção meu pai, Kristen e Joshua esperavam ansiosos pela chegada de Noah Denver James, que como o pai decidira também ter um parto complicado.

Eu sentia como se meu corpo estivesse encolhendo e estendendo simultaneamente debaixo da minha pele. Eu não achei que fosse possível, entretanto as contrações aumentaram muito. Na minha barriga o bebê queria espaço, liberdade. Queria poder escrever sua própria história.

Respirei fundo várias vezes seguidas, tentando a todo custo me acalmar. A equipe estava toda preparada. Meu rosto estava banhado em suor. Foram horas de dor, sofrimento e angústia, o médico até me perguntou se eu não queria fazer uma cesária, mas o meu pequeno pareceu até ter escutado, pois no mesmo instante minha bolsa estourou.

Desse momento em diante foi tudo muito rápido. A dor triplicou, Ray apertou ainda mais a minha mão. Após um último e exaustivo movimento de força, ouvimos um chorinho forte e tempestivo invadindo a sala de parto.

Minhas lágrimas desabaram, não sei ao certo se de alívio ou de emoção. Talvez os dois juntos. Ray também chorou em silêncio observando quando o médico mostrou aquele lindo bebê, que chorava confuso sem saber o que estava acontecendo ao seu redor. Sem saber porque tiraram ele de sua zona de conforto, do seu "lago" de tranquilidade. Lágrimas e mais lágrimas molharam o meu rosto e de Ray que parecia hipnotizado pelo filho.  

Após me levarem para o quarto e fazerem os exames por qual os recém-nascidos passam, a enfermeira o colocou nos meus braços. Ele ainda estava de olhinhos fechados, tinha o corpinho avermelhado e chorava copiosamente. Eu sabia de toda a dor por qual ele estava passando, pelos seus pequenos pulmões que estavam aprendendo a respirar no mundo exterior. Por cada novo toque em seu corpinho que soava confuso, estranho. E também por cada som que incomodava profundamente os seus sentidos.

Eu estava um pouco tonta e fraca, entretanto ainda assim me sentia radiante.

— Bem-vindo ao mundo, Noah! — Murmurei com o coração em festa.

Recostei na cabeceira da maca. Sentia o meu corpo inteiro reclamar de exaustão. Desejei um longo banho e minha cama. Porém meus pensamentos foram dissipados no exato momento em que ele finalmente abriu um olhinho, toda preguiçoso. Era de um azul tão lindo e vibrante que mais parecia o céu em uma manhã tranquila.

Ray e eu ficamos observando ele. Notei o narizinho semelhante com o nariz de Ray, não era algo muito visível, porém eu sabia que futuramente ficaria mais evidente. Os cabelos eram ralos e louros como os meus. Conferimos as mãozinhas minúsculas perfeitas, os pezinhos tive até vontade de morder.

— Quando eu ganhei o disco de ouro por vender quinhentas mil cópias do meu primeiro álbum, eu achei que não sentiria outra felicidade tão grande retumbar no peito, mas eu estava enganado. Ouvir o choro desse carinha me traz um êxtase sem igual. — Ray comentou emocionado pegando na mãozinha do filho. De repente nosso pequeno começou um choro incrivelmente alto. — Vai ser vocalista, olha a potência desse agudo. — Brincou sorrindo e eu concordei.

Ele estava com fome, na verdade faminto. Coloquei meu peito na boca dele e ele demorou um pouco para começar a mamar. Estava aprendendo a sugar o seu alimento. Tudo era muito novo para ele, aliás, para nós dois, afinal estávamos aprendendo juntos, coisas diferentes. Enquanto ele aprendia a se adaptar ao seu "novo" mundo, eu aprendia a me adaptar a ideia de ser mãe, de ser responsável por outra vida e de amar incondicionalmente outro ser.

Fiquei admirada observando o quanto ele se sentia confortável nos meus braços. Após amamentar meu pequeno, a enfermeira me ensinou a colocar ele para arrotar, pouco depois Noah adormeceu. Havia um pequeno berço de hospital ao lado da maca e Ray me ajudou a colocá-lo no seu cantinho.

Ele beijou minha testa e eu senti as minhas pálpebras pesarem. Aproveitei para dormir um pouco, ao menos antes de Noah acordar faminto novamente. Era só o início de uma longa, linda e louca jornada.

Depois Daquela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora