Duas semanas depois...
Eu odiava qualquer esporte que envolvesse bolas, redes, água, tacos, saltos, corridas, esforço físico e suor. Então era óbvio que meu calcanhar de Aquiles no boletim escolar era o meu questionável desempenho em educação física.
Vesti meu maiô e me enrolei na toalha. Sentei quietinha na esperança da professora Henderson não me notar, afinal era o nosso último dia de aula, talvez ela finalmente me deixasse em paz. Porém eu estava enganada. Percebi isso quando ela apontou para mim, usando a porcaria do apito para demonstrar publicamente que eu deveria parar de ignorá-la. Então eu não tive escapatória. Joguei a toalha sobre a cadeira e lamentei por ser obrigada a jogar Biribol, a combinação terrível de vôlei com piscina: minhas duas especialidades de fracasso juntas. Formidável!
E meu antecipado pensamento de que a situação não poderia piorar foi entendido como desafio pelo universo, já que a senhora Henderson decidiu me colocar no time de Ellen Renée.
— Essa sonsa vai ser justo do meu time? Vai ser apenas um peso morto. — Ellen reclamou e a professora fingiu não ouvir.
Como o meu dia de azar estava apenas começando, eu fui a escolhida para fazer o primeiro saque. OK universo, eu prometo não lhe desafiar nunca mais!
Me afastei o que julguei suficiente e fiz o saque da melhor forma que pude. Mas era óbvio que a minha melhor maneira não era a maneira correta.
Sem querer acho que coloquei um pouco de força demais, a bola começou a curva bem antes de chegar na rede, caindo na cabeça de Ellen. Foi uma pancada que até eu me desesperei.
— Ah meu Deus! Me desculpa! — Pedi e ela me olhou furiosa vindo em minha direção.
— Você fez de propósito, Denver! Eu vou acabar com você! — Gritou possessa e eu tentei me afastar o mais rápido que pude.
— Ei, parem já com isso! — A professora gritou se aproximando da borda onde eu estava.
— Eu juro que não foi de propósito. — Tentei me defender e as garotas do time a seguraram.
— Você. Me. Paga. — Ameaçou pausadamente e eu tentei sair da piscina.
— Nada disso, Denver, pode voltar! E Renée, acidentes acontecem. — A professora comentou como se ela fosse realmente capaz de compreender isso. — Lancelot, assuma o saque!
Brianna seguiu para assumir o meu lugar e sussurrou quando estava bem próxima de mim. — A Renée vai acabar com você, menina gênio.
Respirei fundo totalmente comovida com tamanho incentivo e segui para o lugar que ela estava, perigosamente ao lado de Ellen. Brianna sacou perfeitamente bem, marcando ponto para a gente. O jogo prosseguiu sem mais nenhum acidente, entretanto o meu desempenho desastroso fez questão de ser destaque.
Assim que a aula acabou eu corri para o vestiário e troquei rapidamente de roupa. Peguei minha mochila e quando virei, me deparei com as outras garotas ainda vestidas de maiô. Elas tinham um sorriso satisfeito nos rostos e Ellen tinha o semblante fechado. Ela se aproximou de mim determinada.
— Aqui não tem nenhum professor para defender a queridinha deles. — Zombou perigosamente.
— Eu não fiz de propósito, Renée. Avisei que não sabia jogar desde o ano passado.
— Eu já estou de saco cheio de você, sabia? Aliás, passou da hora de acertamos nossas contas. — Ameaçou puxando meu cabelo enquanto sua pequena gangue me cercava.
Senti meus batimentos mais rápidos que o normal. Eu costumava ser boa de briga no passado, mas estava bem enferrujada, além do mais eu não tinha chances contra um time inteiro de garotas. Elen desferiu um tapa no meu rosto, me deixando furiosa, revidei acertando um soco no queixo dela que gritou de dor. Logo as garotas me seguraram covardemente. Elen tinha os olhos flamejantes de ódio, enquanto a gangue torcia gritando o nome dela. Senti mais alguns tapas arderem minha bochecha. Ela voltou a puxar meu cabelo me arrastando até o armário.
Consegui finalmente chutar uma das meninas e escapar parcialmente das outras, porém Elen não me deu tempo suficiente voltando a acertar meu rosto. Antes que eu pudesse compreender como, minha visão escureceu completamente, senti meu corpo mole e caí a abraçando.
— Renée, o que você fez? — Ouvi a professora Henderson gritar de algum lugar, e então encarei os olhos esverdeados e assustados de Ellen.
— Eu juro que não fiz nada, senhora Henderson. — Ela se defendeu ficando desfocada na minha visão.
De repente tudo virou breu.
***
Acordei confusa, sentindo minha respiração pesada.
— Quantos dedos você vê aqui? — Percebi meu pai na minha frente, com as sobrancelhas franzidas e a mão na altura do meu rosto.
— Três. — Respondi e sentei olhando em volta, percebendo que estava na enfermaria do colégio. — O que houve?
— Sua amiga disse que você desmaiou de repente no vestiário. Apesar da enfermeira dizer que possa ter sido apenas uma indisposição, eu vou te levar para o hospital agora mesmo para fazer uma bateria de exames.
— Espera, que amiga? — Questionei confusa e ele me olhou preocupado.
— A garota que você dormiu na casa dela mês passado. — Explicou e eu arregalei os olhos com receio dele estar jogando verde, e já saber que além de Ellen não ser minha amiga, eu também nunca havia dormido na casa dela. — Você está bem?
Avaliei minuciosamente a reação dele e concluí que ele não sabia de nada. Ainda.
Meu rosto ainda ardia dos tapas de Renée. Meu único consolo é que o soco que eu havia dado dela no início do briga havia feito ela sangrar. Porém eu não podia contar para o meu pai sobre nada disso. Ele repudiava brigas mais que tudo. Eu também aprendi a odiar isso, mas não é como se eu tivesse tido escolha.
Meu pai fez questão de me levar para o pronto socorro Mercy Hospital & Medical Center, mesmo eu alegando diversas vezes que estava bem. Após a coleta do meu sangue, ter minha pressão medida, tivemos que esperar por uma hora pelo resultado do exame. Eu permaneci sentada na ala de pronto atendimento, enquanto meu pai fincou ao meu lado, segurando a minha mão.
Observei pessoas entrarem e saírem há todo momento. Meu pai olhava em volta com um brilho especial nos olhos. Eu ao contrário queria apenas dar o fora dali o mais rápido possível.
— April Denver! — Uma médica negra com belos cabelos cacheados, de aparência bastante jovem me chamou, puxando a cortina azul que separava as macas. — Seu resultado ficou pronto. — Pareceu hesitante em prosseguir ao notar meu pai próximo e ajeitou os óculos de armação quadrada.
— Onde está o médico que a atendeu quando chegamos? Por que trocaram? — Ele perguntou confuso.
— É que o caso da sua filha agora está sob minha responsabilidade.
— Tudo bem, mas diz logo! O que minha filha tem? — Meu pai pressionou e a mulher voltou a me encarar comprimindo os lábios.
— Então... Senhor. A sua filha está grávida. — Ela respondeu me deixando atônita. Meu pai olhou da médica para mim e voltou a encarar a mulher.
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Depois Daquela Noite
Novela JuvenilApril Denver era a solução dos problemas de todos à sua volta, entretanto quando ela conheceu a intensidade de Ray James, também conhecido como o seu maior problema, não conseguiu sair intacta da colisão. Alimentada por uma paixão inflamável de fã...