Capítulo 9

15.6K 1.4K 72
                                    

Descobri o dia e a hora da audiência. Na sexta-feira aproveitei que a última aula era educação física para sair mais cedo. Montei campana na porta do tribunal, tomando o cuidado de não ser vista pelo o meu pai. Se ele sonhasse que eu estava atrás do "desordeiro" que ele estava ajudando a processar, eu teria sérios problemas.

Depois de horas de plantão finalmente vi Ray sair ao lado de Mitchell. Ele estava incrivelmente mais lindo que o normal, vestido com uma jaqueta jeans escura e os​ cabelos​ presos​ em um coque samurai no alto da cabeça. Depois de me certificar que meu pai não estava por perto eu me aproximei dele. Quando estava há poucos metros de distância seus olhos oceânicos me encontraram, estavam sérios, compenetrados.

— Ray, precisamos conversar! — Pedi e Mitchell sequer me olhou e pareceu conferir algo no celular.

— O senhor James não dará entrevistas agora. Vamos, Ray!

— Eu não sou repórter. — Rebati e ele franziu a testa finalmente olhando para mim.

— Eu já te vi antes. — Afirmou me encarando com atenção e eu suspirei impaciente com suas intromissões. — Há duas semanas no show aqui, "a maior fã". Lembro de você. — Ele comentou e eu encolhi os ombros

— Ray, por favor!

— Eu já disse que não tenho mais nada para conversar com você, April. — Ray respondeu entredentes.

— Deixa eu te explicar tudo! — Insisti esperançosa e ele pareceu ponderar.

— James, não tem tempo para conversar. Vamos, temos que ir para o hotel e...

— Por favor, eu realmente preciso conversar com você. Me dá apenas uma chance, se mesmo assim você não achar que mereço isso, eu prometo que vou embora. — Implorei olhando nos olhos dele.

— Ok. Vem para o hotel conosco! — Ray me convidou deixando tanto eu quanto o assessor dele completamente surpresos.

— James, eu não acho uma boa ideia... — Mitchell tentou persuadir o homem que me olhava fixamente.

— Então? Você vem? — Ray me perguntou quando o carro parou na nossa frente.

Olhei para a escada do tribunal e vi meu pai saindo com o telefone no ouvido, ele não me viu. Entrei rapidamente no carro antes mesmo de responder qualquer coisa.

— Você é uma jovem muito sutil! — Mitchell zombou e Ray sentou ao meu lado. Eu o olhei sentindo um aperto no peito, ele estava tão próximo e tão longe ao mesmo tempo.

O assessor foi na frente ao lado do motorista que mantinha a cara fechada. O silêncio pesado preencheu o carro durante todo o trajeto. Eu apertei minhas mãos totalmente nervosa, senti que estava suando. Só então percebi que eu não tinha preparado bem o que dizer para ele.

Chegamos em The Langham, hotel de cinco estrelas no centro de Chicago. Coloquei meus óculos escuros com receio de algum paparazzi escondido nos fotografar. Entramos todos juntos no lugar luxuoso e seguimos para o elevador ainda em silêncio. Mitchell desceu no penúltimo andar, já Ray e eu subimos para a cobertura. Assim que saímos do elevador ele me guiou para um quarto e abriu a porta.

Entramos em silêncio e ele fechou a porta atrás de si. Olhei o quarto incrivelmente chique e então me virei novamente para Ray. Ele me olhou parecendo esperar que eu dissesse algo.

— Bom... Eu sei que errei em mentir para você sobre a minha idade, mas eu juro que não queria te comprometer. Eu só queria te conhecer, Ray. Eu sou verdadeiramente sua fã. — Afirmei me aproximando cautelosamente dele.

Ray não disse uma única palavra sequer, apenas permaneceu olhando sério em meus olhos. Tomei coragem e me aproximei mais, acabando com qualquer distância entre nós.

— Você sabe muito bem o que estou passando por causa da Bensson. — Acusou irritado.

— Eu sinceramente não quis te comprometer. Apenas queria ver seu show e ter uma forma de te ver pessoalmente. Juro que foi apenas isso. Não foi uma armação.

— Nisso eu começo a acreditar, já que até hoje não saiu nada sobre nós na mídia. — Ponderou pensativo.

— Jamais sairá. O que aconteceu entre nós permanecerá em sigilo. Me perdoa por ter mentido, por favor! Não quis te prejudicar. — Pedi e um fraco sorriso tomou conta de seus lábios.

— Você fica linda com essa carinha preocupada! — Comentou e eu franzi a testa. — Quanto anos você tem afinal?

— Dezessete, quase dezoito.

— Quase dezoito quando especificamente?

— Daqui há três meses e meio. — Respondi e ele arqueou a sobrancelha. — Eu juro, quer ver a minha identidade? A minha identidade verdadeira.

— Então você confessa que usou uma identidade falsa na noite do show? — Perguntou com um sorriso debochado.

— Você tem alguma escuta policial aqui? — Zombei e ele gargalhou.

— Eu estou querendo distância da polícia ultimamente.

— Então somos dois. Amigos? — Perguntei estendendo a mão e ele a olhou de forma engraçada. Achei que me deixaria no vácuo, mas então ele a pegou e me puxou para ele.

— Você tem certeza que quer ser só minha amiga, Raio de sol? — Ironizou e eu sorri com o coração novamente aos pulos.

— Não mesmo.

Antes que eu pudesse me dar conta já estava novamente nos braços dele. Ray me beijou lentamente quase como uma tortura psicológica. Abraçou a minha cintura e me empurrou devagar para trás até alcançarmos a cama, onde caí com ele por cima de mim.

Seus lábios ganharam intensidade e velocidade, tudo acompanhado das suas mãos ágeis que trataram logo de tirar nossas roupas.

— Eu me sinto como Ícaro, atraído fatalmente pelo sol. — Ray brincou voltando a me beijar.

Eu me sentia exatamente igual. Quando eu via Ray sentia um magnetismo inexplicável. Eu não conseguia resistir aos meus impulsos mais loucos, nem ao meu jeito mais bobo de me entregar à ele.

Ray pediu algumas bebidas enquanto tocava o meu corpo sem pudor algum, e eu gostava da forma como isso acontecia. Gostava de ter seus dedos brincando na minha intimidade me fazendo contorcer de prazer. Bebemos algumas garrafas, eu ainda não gostava do sabor do álcool, mas nos lábios dele tornavam-se o mais puro elixir.

Ele deitou na cama me deixando por cima, o que foi melhor já que assim eu tinha mais controle sobre a intensidade. Ainda era estranho, mas não deixava de ser bom. Optamos novamente por usar a pílula do dia seguinte. Eu sabia que estava me arriscando demais, porém a sensação de ter ele dentro de mim era algo única no mundo. Sua boca chupava meus seios enquanto eu rebolava devagar em seu colo. Fechei os olhos com força sentindo um orgasmo alucinante tomar conta do meu corpo, me deixando bamba. Pouco depois ele também chegou ao clímax e sorriu beijando meus lábios.

Antes de adormecer em seus braços eu me recordo de ter olhado uma última vez em seus lindos olhos azuis, e visto pela primeira vez o seu mar interior calmo. Ray beijou meus cabelos e então dormimos juntos.

Eu acordei algum tempo depois completamente sozinha na cama. Vesti minhas roupas rapidamente e levantei procurando Ray por toda a enorme cobertura. Após chamá-lo insistentemente e observar cada canto do local constatei o óbvio: eu estava sozinha. Ray havia me abandonado no quarto de hotel após tudo o que havia acontecido entre nós?

Eu me recusava a acreditar nisso. As lágrimas deslizaram vorazes e quentes pelo meu rosto. Decidi descer para a recepção com a mísera esperança de alguém ter alguma explicação plausível para a situação. Talvez Ray tivesse algum compromisso, mas fosse voltar rápido. Talvez tivesse acontecido um mal entendido ou quem sabe um imprevisto.

— Senhor James encerrou a conta e foi embora há vinte minutos. — A recepcionista de aparência impecável atrás do computador me respondeu calmamente, com um sorriso simpático nos lábios.

Noticiando com um sorriso ela destruiu o meu coração.

Depois Daquela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora