Capítulo 6

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O lago Michigan é um dos cinco Grandes Lagos da América do Norte. É o único completamente dentro das fronteiras dos Estados Unidos e era a única testemunha, além dos céus e do Camaro preto, do que houve ali. Foi testemunha da primeira vez que fiz amor na vida. Durante toda a minha infância eu amava ir no inverno ver o lago totalmente congelado, admirar sua aparência de um gigantesco diamante. Porém era a primeira vez que eu o observava em seu estado líquido e o achava ainda mais lindo que o normal.

Senti a mão de Ray James tatear o meu braço e me puxar novamente para ele. Deitei em seu peito e observei de perto seus olhos sonolentos. Ele sorriu preguiçoso e eu me encolhi vestida com sua jaqueta. Observei novamente suas estrelas em seu pescoço e as capturei com os meus lábios o fazendo suspirar.

— Você não está com frio? — Perguntei pelo fato dele estar sem camisa em um dia que havia amanhecido incrivelmente nublado.

— Você me aquece, April. Sabia que seus cabelos dourados parecem uma cascata de raios de sol? — Perguntou me puxando para um selinho. Depois se afastou e me olhou pensativo. — Se você tivesse me contado antes que era a sua primeira vez... Eu poderia ter te levado... Sei lá... Para um lugar melhor.

— Eu duvido ter um lugar melhor que esse. Foi especial como eu sempre sonhei. — Confessei contente e ele sorriu. Tirei uma mecha dos seus cabelos que pareciam ainda mais selvagens pela manhã.

— Você que é uma garota especial, Raio de sol! — Falou e eu desviei o olhar deitando minha cabeça sobre o peito dele novamente.

— Ganhei um apelido?

— Talvez. — Respondeu beijando meus cabelos. — Vamos tomar um café? Estou morrendo de fome.

— Eu também.

— Ótimo! Cadê a minha camisa? — Perguntou e eu sentei o ajudando a procurar a roupa.

Depois que ele estava devidamente vestido seguimos com o carro para o uma farmácia onde eu comprei a pílula do dia seguinte. Depois fomos para o McDonald's mais próximo que estava completamente vazio devido o horário. Eu ainda usava a jaqueta dele e sentia seu perfume impregnado na minha pele.

Ray pediu hambúrgueres e uma porção de batatas fritas para a gente, junto com Coca Cola de cereja. Tudo bem saudável para um café da manhã. Ele pegou a batata e passou no molho levando à minha boca, porém no momento em que fui comer ele tirou e comeu. Minha reclamação foi recompensada com um selinho. O celular dele começou a tocar insistentemente e ele permaneceu ignorando.

— Não vai atender? — Perguntei tomando a pílula com a Coca e ele deu de ombros.

— Não. Eu já sei quem é. Com certeza é Scott Mitchell surtando por eu ter sumido esse tempo todo.

— Ele é seu assessor de imprensa, não é?

— Sim. E metido a meu pai nas horas vagas, sempre me enchendo o saco pelas minhas atitudes que ele considera, abre aspas: "impulsiva". — Respondeu debochado e eu sorri. — Sabe, hoje vou fazer um show em Los Angeles. Que tal você ir comigo? — Perguntou animado e eu acabei engasgando com o refrigerante.

— Eu? Los Angeles? Então... Está muito em cima da hora para decidir isso...

— Hoje é domingo. O que de tão importante você tem para fazer? — Zombou e eu engoli em seco.

— Bom... Na verdade nada...

— E então? Prometo que te trago de volta. — Propôs e eu abaixei a cabeça, pensativa.

— Meu pai não iria deixar.

— Seu pai ainda te controla mesmo você sendo maior de idade? — Questionou rindo e de repente ficou sério com o meu silêncio. Parecia que algo tinha esclarecido em sua mente. Seus olhos ganharam um brilho diferente do habitual. — Quer dizer... Você é maior de idade, não é?

— Então... Veja bem...

— April, você me garantiu! — Ele rebateu visivelmente irritado, me deixando ainda mais nervosa.

— Eu sei... Eu... Desculpa! Eu só queria conhecer você e...

— Tem noção do quanto a mídia está me massacrando por conta da Benson? Tem noção do quanto estou tendo que ouvir o Mitchell e a minha mãe na minha cabeça? Eu não acredito que você mentiu para mim.

— Eu não menti... Eu só omiti que só vou ser maior de idade daqui há alguns meses. — Respondi encolhendo os ombros e ele me olhou furioso.

Ray levantou da cadeira e tirou do bolso da calça algumas notas de dólares que jogou sobre a mesa.

— Pega um táxi para ir para casa.

— Espera! Onde você vai? Ray! Por favor! Vamos conversar...

— Não tenho mais nada para falar com você. Isso se não for uma armadilha para eu ser pego novamente pelos paparazzis. — Rebateu olhando em volta.

— Espera, o quê? Claro que não. Não tem armadilha alguma. Eu sempre fui sua fã, eu amo suas músicas e...

— Chega! Chega disso! Eu preciso ir embora daqui. Me esquece! — Me interrompeu sério e saiu rapidamente da lanchonete.

Corri atrás dele feito uma tonta, mas não o alcancei há tempo de impedir que ele partisse. Vi o Camaro desaparecer veloz pela rua. Abaixei a cabeça arrasada. Só então notei que a jaqueta dele permanecera comigo. Chorei desolada por tudo ter terminado dessa forma.

***

Durante o caminho para casa pensei e repensei em tudo que havia acontecido. Eu nunca quis causar mais problemas ao James. Eu juro.

Caminhei chutando as pedras do chão e parei para observar o céu carregado. Parecia que iria chover a qualquer instante. Fechei a jaqueta sentindo o vento congelante me atingir em cheio.

Cheguei em casa e para a minha não surpresa encontrei meus pais brigando. Mais uma vez.

— Filha, chegou cedo! Que jaqueta é essa? — Meu pai perguntou ao me ver entrar na sala e beijou minha testa.

— A Ellen me emprestou. Está muito frio lá fora. — Menti vendo minha mãe sentada no sofá, lixando as unhas da mão.

Beijei o rosto dela e ela lançou um olhar desconfiado para a minha roupa. — Quer tomar café? Pois tome logo antes que seu pai pare de vez de trazer comida para essa casa!

— Eu nunca deixei faltar nada para vocês, Francine! Não seja injusta! — Meu pai rebateu e minha mãe entortou os lábios em um sorriso sarcástico.

— Ora, me poupe, Lincoln! Você acabou de me negar dinheiro.

— Lógico! Você quer sair gastando  tudo que temos. Aliás, tudo o que eu tenho. — Enfatizou e ela arregalou os olhos.

— Está vendo, April? Ele quer deixar a gente na miséria!

Suspirei cansada.
Domingo de manhã e minha casa já fazia mais barulho que a Broadway.

— Eu jamais tiraria algo da minha filha!

— Então quer dizer que você tiraria de mim?

Revirei os olhos com o rumo que a discussão estava tomando. Comecei a subir as escadas.

— April, não vai tomar café? — Meu pai gritou ignorando momentaneamente minha mãe.

— Já tomei.

Entrei no meu quarto batendo a porta atrás de mim. Senti meu estômago revirar, provavelmente um efeito colateral da bendita pílula. Me joguei na minha cama e me senti ainda pior ao ver Ray me encarando em todas as dezenas de pôsteres pregados na parede.

Não, Ray James, definitivamente não tem como eu te esquecer.

Depois Daquela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora