O lago Michigan é um dos cinco Grandes Lagos da América do Norte. É o único completamente dentro das fronteiras dos Estados Unidos e era a única testemunha, além dos céus e do Camaro preto, do que houve ali. Foi testemunha da primeira vez que fiz amor na vida. Durante toda a minha infância eu amava ir no inverno ver o lago totalmente congelado, admirar sua aparência de um gigantesco diamante. Porém era a primeira vez que eu o observava em seu estado líquido e o achava ainda mais lindo que o normal.
Senti a mão de Ray James tatear o meu braço e me puxar novamente para ele. Deitei em seu peito e observei de perto seus olhos sonolentos. Ele sorriu preguiçoso e eu me encolhi vestida com sua jaqueta. Observei novamente suas estrelas em seu pescoço e as capturei com os meus lábios o fazendo suspirar.
— Você não está com frio? — Perguntei pelo fato dele estar sem camisa em um dia que havia amanhecido incrivelmente nublado.
— Você me aquece, April. Sabia que seus cabelos dourados parecem uma cascata de raios de sol? — Perguntou me puxando para um selinho. Depois se afastou e me olhou pensativo. — Se você tivesse me contado antes que era a sua primeira vez... Eu poderia ter te levado... Sei lá... Para um lugar melhor.
— Eu duvido ter um lugar melhor que esse. Foi especial como eu sempre sonhei. — Confessei contente e ele sorriu. Tirei uma mecha dos seus cabelos que pareciam ainda mais selvagens pela manhã.
— Você que é uma garota especial, Raio de sol! — Falou e eu desviei o olhar deitando minha cabeça sobre o peito dele novamente.
— Ganhei um apelido?
— Talvez. — Respondeu beijando meus cabelos. — Vamos tomar um café? Estou morrendo de fome.
— Eu também.
— Ótimo! Cadê a minha camisa? — Perguntou e eu sentei o ajudando a procurar a roupa.
Depois que ele estava devidamente vestido seguimos com o carro para o uma farmácia onde eu comprei a pílula do dia seguinte. Depois fomos para o McDonald's mais próximo que estava completamente vazio devido o horário. Eu ainda usava a jaqueta dele e sentia seu perfume impregnado na minha pele.
Ray pediu hambúrgueres e uma porção de batatas fritas para a gente, junto com Coca Cola de cereja. Tudo bem saudável para um café da manhã. Ele pegou a batata e passou no molho levando à minha boca, porém no momento em que fui comer ele tirou e comeu. Minha reclamação foi recompensada com um selinho. O celular dele começou a tocar insistentemente e ele permaneceu ignorando.
— Não vai atender? — Perguntei tomando a pílula com a Coca e ele deu de ombros.
— Não. Eu já sei quem é. Com certeza é Scott Mitchell surtando por eu ter sumido esse tempo todo.
— Ele é seu assessor de imprensa, não é?
— Sim. E metido a meu pai nas horas vagas, sempre me enchendo o saco pelas minhas atitudes que ele considera, abre aspas: "impulsiva". — Respondeu debochado e eu sorri. — Sabe, hoje vou fazer um show em Los Angeles. Que tal você ir comigo? — Perguntou animado e eu acabei engasgando com o refrigerante.
— Eu? Los Angeles? Então... Está muito em cima da hora para decidir isso...
— Hoje é domingo. O que de tão importante você tem para fazer? — Zombou e eu engoli em seco.
— Bom... Na verdade nada...
— E então? Prometo que te trago de volta. — Propôs e eu abaixei a cabeça, pensativa.
— Meu pai não iria deixar.
— Seu pai ainda te controla mesmo você sendo maior de idade? — Questionou rindo e de repente ficou sério com o meu silêncio. Parecia que algo tinha esclarecido em sua mente. Seus olhos ganharam um brilho diferente do habitual. — Quer dizer... Você é maior de idade, não é?
— Então... Veja bem...
— April, você me garantiu! — Ele rebateu visivelmente irritado, me deixando ainda mais nervosa.
— Eu sei... Eu... Desculpa! Eu só queria conhecer você e...
— Tem noção do quanto a mídia está me massacrando por conta da Benson? Tem noção do quanto estou tendo que ouvir o Mitchell e a minha mãe na minha cabeça? Eu não acredito que você mentiu para mim.
— Eu não menti... Eu só omiti que só vou ser maior de idade daqui há alguns meses. — Respondi encolhendo os ombros e ele me olhou furioso.
Ray levantou da cadeira e tirou do bolso da calça algumas notas de dólares que jogou sobre a mesa.
— Pega um táxi para ir para casa.
— Espera! Onde você vai? Ray! Por favor! Vamos conversar...
— Não tenho mais nada para falar com você. Isso se não for uma armadilha para eu ser pego novamente pelos paparazzis. — Rebateu olhando em volta.
— Espera, o quê? Claro que não. Não tem armadilha alguma. Eu sempre fui sua fã, eu amo suas músicas e...
— Chega! Chega disso! Eu preciso ir embora daqui. Me esquece! — Me interrompeu sério e saiu rapidamente da lanchonete.
Corri atrás dele feito uma tonta, mas não o alcancei há tempo de impedir que ele partisse. Vi o Camaro desaparecer veloz pela rua. Abaixei a cabeça arrasada. Só então notei que a jaqueta dele permanecera comigo. Chorei desolada por tudo ter terminado dessa forma.
***
Durante o caminho para casa pensei e repensei em tudo que havia acontecido. Eu nunca quis causar mais problemas ao James. Eu juro.
Caminhei chutando as pedras do chão e parei para observar o céu carregado. Parecia que iria chover a qualquer instante. Fechei a jaqueta sentindo o vento congelante me atingir em cheio.
Cheguei em casa e para a minha não surpresa encontrei meus pais brigando. Mais uma vez.
— Filha, chegou cedo! Que jaqueta é essa? — Meu pai perguntou ao me ver entrar na sala e beijou minha testa.
— A Ellen me emprestou. Está muito frio lá fora. — Menti vendo minha mãe sentada no sofá, lixando as unhas da mão.
Beijei o rosto dela e ela lançou um olhar desconfiado para a minha roupa. — Quer tomar café? Pois tome logo antes que seu pai pare de vez de trazer comida para essa casa!
— Eu nunca deixei faltar nada para vocês, Francine! Não seja injusta! — Meu pai rebateu e minha mãe entortou os lábios em um sorriso sarcástico.
— Ora, me poupe, Lincoln! Você acabou de me negar dinheiro.
— Lógico! Você quer sair gastando tudo que temos. Aliás, tudo o que eu tenho. — Enfatizou e ela arregalou os olhos.
— Está vendo, April? Ele quer deixar a gente na miséria!
Suspirei cansada.
Domingo de manhã e minha casa já fazia mais barulho que a Broadway.— Eu jamais tiraria algo da minha filha!
— Então quer dizer que você tiraria de mim?
Revirei os olhos com o rumo que a discussão estava tomando. Comecei a subir as escadas.
— April, não vai tomar café? — Meu pai gritou ignorando momentaneamente minha mãe.
— Já tomei.
Entrei no meu quarto batendo a porta atrás de mim. Senti meu estômago revirar, provavelmente um efeito colateral da bendita pílula. Me joguei na minha cama e me senti ainda pior ao ver Ray me encarando em todas as dezenas de pôsteres pregados na parede.
Não, Ray James, definitivamente não tem como eu te esquecer.
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Depois Daquela Noite
Genç KurguApril Denver era a solução dos problemas de todos à sua volta, entretanto quando ela conheceu a intensidade de Ray James, também conhecido como o seu maior problema, não conseguiu sair intacta da colisão. Alimentada por uma paixão inflamável de fã...