22- Leve o tempo que precisar

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Callie Torres


O dia havia amanhecido frio. Gael e Lola ainda dormiam ao meu lado, esparramados na cama. O lado de Arizona estava vazio, e pelo barulho da água caindo do chuveiro, deduzi ser ela no banho.

O relógio em cima do crido mudo, ao lado da cabeceira da cama, marcava exatamente oito horas da manhã. Me levantei, e vesti o meu hobby, que estava em cima da poltrona branca, que fica em nosso quarto.

Assim que entrei no banheiro, minha esposa já desligava o chuveiro saindo de dentro do box.

- Bom dia - cumprimentei selando nossos lábios

- Bom dia, amor.

- Deveria ter me esperado para nos banhar juntas - falei olhando para o seu corpo nu, com gotas de água escorrendo por seu corpo branco, com algumas pintinhas.

A loira pegou a toalha branca atrás da porta começando a se secar. A mesma me deu um sorriso sacana e disse:

- Você sabe que não ficaríamos apenas no banho, não é?!

Concordei sorrindo. Pois era a mais pura verdade, dificilmente foram as vezes que tomamos banho juntas, e não transamos.

- As crianças estão bem ali, em nosso quarto. Então achei melhor me banha sozinha - explicou se enrolando na toalha.

- Você é a parte sensata do relacionamento - pisquei pegando minha escova de dente, e coloquei creme dental. Arizona logo pegou a sua me estendendo para colocar para ela.

Escovamos os nossos dentes juntas, e logo entrei no box para tomar o meu banho, depois de me despir.

(...)

Assim que desci as escadas, encontrei Gael assistindo desenho em frente a tevê, e Lizzy preparava o café da manhã.

- Cadê a Ari? - perguntei depois de desejar bom dia a jovem latina

- Ajudando Lola no banho - respondeu mexendo os ovos na frigideira - A Ari pediu para fazer panquecas - a morena torceu os lábios - Você pode fazer isso? Minhas panquecas nunca ficam boas

- Claro, querida. E então, terminou de arrumar suas coisas? - perguntei pegando as coisas para preparar a massa das panquecas

Lizzy virou o ovo em um prato em cima da ilha, e pegou uma jarra no armário para virar  suco que estava no liquidificador.

- Sim. Sabe, eu serei eternamente grata por tudo que você, e a Ari fizeram por mim e meus irmãos.

A mais nova se virou para mim, que estava em frente a ilha.

- Eu sei que não fui a filha que vocês tanto sonhavam. Mais eu quero dizer que vocês foram ótimas mães. Diz isso a Ari por mim - a menina sorriu timidamente com os olhos lacrimejando

- Porquê você mesma não diz isso a ela? - perguntei curiosa

- Porque, provavelmente eu vou chorar. E eu não gosto disso

Sem pensar duas vezes, limpei minhas mãos no pano de prato. Segurei nos pulsos de Lizzy a puxando para os meus braços. Senti o seu corpo relaxar com o meu toque.

(...)

Exatamente dez horas da manhã, estavamos todos no rancho de casa, esperando Alejandra e a assistente social vir pegar as crianças. Foi o horário que o juíz propôs para a mulher buscá-los.

O carro na cor prata, de quatro portas estacionou bem em frente, fazendo o meu coração se acelerar. Então tinha chegado o momento, o tão temido momento.

Arizona e eu nos entreolhamos sem entender, quando apenas Carmen e Leila desceram do carro.

- Cade a minha mãe? - Lizzy desceu os degraus da escada. Eu e Arizona logo fizemos o mesmo.

Paramos atrás de Lizzy, que parecia tensa. A latina segurava firme as alças de sua mochila, que estava em sua costa.

Carmen e Leila se olharam. As duas estavam estranhas.

- Sinto muito Lizzy. Mais ela não vem, ela disse que não consegue, e que não pode fazer isso.

- Oh meu Deus - disse a loira surpresa.

- Ela deve está apenas com medo. Olha só... - a menina passou a mão no rosto agoniada - me levem até lá. Eu posso conversar com ela, e dizer que vai ficar tudo bem

Carmen tocou em seu braço, tentando confortá-la. Nem eu, e nem Arizona sabiamos o que dizer, ou como agir naquele momento. Lizzy estava extremamente chateada.

- Lizzy. Não há nada que você possa fazer. Ela nos disse, que foi você que assinou os documentos do pedido da guarda de vocês

- Sim. Mas foi por nós, era o que ela queria.

- Quando chegamos lá, ela não estava bem. Lizzy,sinto muito, mais a sua mãe estava se drogando - disse Leila nos pegando de surpresa

Lizzy deu um passo para trás, me partiu o coração ao ver seus olhos cheio de lágrimas. A menina colocou a mão na boca, em uma tentativa falha de chorar alto.

- Eu quero ir pra casa. Eu quero a minha mãe - a mais nova saiu correndo pelo bairro

- Fica de olho nas crianças, por favor - pedi para as assistentes sociais. Arizona e eu saímos correndo atrás de Lizzy.

Eu não sabia qual era dor que Lizzy estava passando. Afinal eu nunca passei por isso antes, mais imagino o quanto deve ser difícil para uma garota, com menos de dezesseis anos, passar por tudo isso. A mesma tinha sonhos, e esperança de ter sua mãe biológica por perto.

Eu apenas queria abraçá-la e dizer que tudo iria ficar bem. E que eu, Callie Robbins-Torres, sempre estaria ao seu lado, não importa a circunstância.

Ao vê-la encolhida debaixo de uma árvore, chorando com a cabeça enterrada entre as pernas, soluçando, me fez chorar também.

Com cautela, Arizona e eu nos sentamos cada uma de um lado. Nenhuma de nós disse nada, apenas o movimento dos carros passando, se misturava com o choro baixo da mais nova.

- Vocês não precisam ficar aqui. Vocês não são as minhas mães

- Realmente não somos. Mais nós nos importamos com você. Eu sei que você está chateada, com raiva...

- Muita raiva - me cortou olhando fixamente para a frente

- Muita raiva. Mas nós duas, eu e Arizona vamos ficar aqui com você. Até você se sentir melhor, e preparada para irmos pra casa

- Isso. Leve o tempo que precisar - Arizona segurou sua mão. Lizzy olhou rapidamente para a loira e depois voltou a olhar para a rua.

Nós três. Eu, Arizona e Lizzy ficamos ali, sentadas debaixo da grande árvore, apenas no silêncio.






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