Capítulo XVII

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POV. Lúcia

Um mês se passou e eu estava tomando meus remédios certinhos, tinha minhas aulas normais, aulas de direção e ia com algum dos meninos toda noite para cuidar da boate que eu virei gerente.

Eu procurei ser como uma irmã mais velha (embora eu fosse a mais nova dali) para todas as meninas que trabalhavam lá. Só quem me dava um pouco de trabalho era aquela que eu entrevistei, a tal da Letícia, ela sempre arranjava problemas com algum cliente quando Charlie a mandava para a boate que eu comandava e, claro, que algum dos meninos (o que tivesse ido me levar) a castigava. Eu nunca quis ver qual castigo era esse e, sinceramente, eu não estava nem aí, não ia me estressar por causa dela e acabar pecando contra os princípios e mandamentos que aprendi no convento.

Durante esse mês inteiro eu e Charlie não nos falamos direito, ele apenas me ensinava a dirigir e não falávamos nada que não estivesse relacionado a minha aula, isso quando ele não mandava o Edward ir me ensinar.

Eu perdi as contas de quantas vezes pedi perdão a Deus por ter me dado a Charlie e por estar apoiando ele na boate e ainda ser uma gerente. No entanto, pedia sabedoria para cuidar bem daquelas meninas.

Hoje é uma sexta feira, iniciarei a segunda cartela de um dos medicamentos que o doutor Lucas me receitou. Não vou mentir dizendo que eu não sentia nenhum efeito colateral com esses remédios todos, pois às vezes eu ficava enjoada, com tontura, entre outras coisas, mas sempre me virava bem e fingia que estava bem ao máximo.

Acordei cedo, fiz minhas higienes matinais, coloquei um biquíni que só cobria o essencial, joguei uma saída de praia que não cobria muita coisa por cima do meu corpo, peguei protetor solar, toalha, meu celular, óculos escuros e desci para comer, mas, antes de chegar a cozinha, pedi a um dos seguranças para colocar tudo isso em uma das cadeiras na beira da piscina.

Entrei na cozinha e, para minha surpresa só Charlie se encontrava.

- Bom dia, cadê Louise? - perguntei curiosa.

- Viajou de madrugada, não quis te acordar e disse que mais tarde te ligava - respondeu seco.

Murmurei um Ok e fui pegar algo para comer. Se ele não fazia questão de falar direito comigo depois daquela noite, não seria eu a ficar correndo atrás. Estava quase me levantando para ir a piscina quando Charlie segura o meu braço.

- O que você quer? - pergunto olhando para a sua mão em meu braço

- Falar com você.

- Não temos nada para conversar, eu já te enviei o relatório sobre todos os acontecimentos da boate final de semana passado, você disse que estava ótimo e isso é tudo - falei curta e direta, não queria continuar ali com ele.

- Lúcia, eu sei que ando muito ausente e quase não nos falamos direito nos últimos meses, eu ando muito ocupado com tudo que tenho que administrar - fala levantando da cadeira e parando na minha frente.

- Eu não tenho nada haver com seus negócios Charlie, tudo que me interessa são minhas aulas, e a boate que tomo conta, tirando isso, não temos nada para conversar, e, se me der licença, vou aproveitar o sol antes de me estressar com Letícia mais tarde - disse tentando soltar, em vão, o meu braço.

- Ela está te dando trabalho? - perguntou-me calmo.

- Sim. Não vejo a hora da outra boate ficar pronta e eu a despachar de vez da minha vista.

- Daqui a mais três meses ela vai ficar pronta e você se livra dela.

- Três meses. Tranquilizou-me muito agora - falei irônica.

Charlie ri sem muita expressão e volta a falar comigo.

- Sinto sua falta - fala em um sussurro.

- Não é o que parece - digo com raiva.

- Lúcia, eu tenho uma política de não repetir uma mulher na minha cama.

- A questão é que não usamos a sua cama, mas sim a minha. Eu não esperava que você virasse meu namorado só porque tirou minha virgindade Charlie, mas esperava que você me tratasse como gente, não como um cachorro ou como um objeto que você usa e descarta quando quer. E essa historinha de não repetir é mentira, porque você e Alexia vivem transando por aí.

- Não se compare a Alexia nunca mais - fala com raiva - Você não é ela Lúcia, nunca foi e nunca vai ser.

- Não sou boa o suficiente? - pergunto ainda mais irritada.

- Eu que não mereço você. Eu não deveria ter tirado a sua pureza, não deveria usar você para me satisfazer, foi mal.

Ele me trata como lixo, e só me diz um "foi mal"?

- Eu não sou mais um bebê Charlie, eu não preciso que cuidem de mim, eu estou doente, mas não estou morta. Se fosse para viver assim era melhor voltar para o Convento.

- Nunca mais fale em ir embora, está me ouvindo? - perguntou me beijando.

Charlie me beijava de forma intensa, como se quando ele me soltasse eu fosse fugir de seus braços.

Nosso beijo foi ficando intenso, até que um barulho de pratos quebrando nos interrompe.

- Desculpe-me senhor, eu vou limpar o que quebrei e pode descontar do meu salário se o senhor quiser.

- Claro que eu vou ... - ele começa, mas o interrompo.

- Que ele vai deixar para lá. Não foi nada de mais, só tome cuidado da próxima vez.

- Sim senhora.

Cármen sai da cozinha para pegar uma vassoura e uma pá. Charlie ia falar algo, mas o interrompo.

- Aqui não - falo apontando para o meu ouvido, mostrando a ele que as paredes tem ouvidos e ele se cala - Te encontro na piscina.

Charlie acena e sai dali. Pouco depois Cármen volta.

- Obrigada senhorita por não deixar ele brigar comigo. O que posso fazer para compensá-la? - pergunta-me.

- Não comente com ninguém o que você viu.

- Mas a senhora Kiefer precisa saber que vocês - a interrompo.

- Deixe que com Louise eu me entendo, e nós não temos nada, nos beijamos às vezes e é só isso. Nada de mais.

Cármen acena com a cabeça e eu vou em direção a piscina.


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Notas finais:

Obrigada por lerem

Amo vocês 😘❤

I'm not HolyOnde histórias criam vida. Descubra agora