5 - Fogo.

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A noite cai, como o corpo de Dilma, em uma grande queda d'água. Similar ao sangue de Mike, escorrendo pela grama. E coincidentemente, igual a Gisele, caindo no rio e sendo devorada por jacarés. É tenso, são três mortes sendo que duas delas foram assassinatos, e assim o clima ia aos poucos ficando mais tenso.

ROSE.

Rose caminha pela floresta, naturalmente, com medo das sombras, são nelas que se escondem os animais selvagens - e as pessoas selvagens também. Ela havia comido umas bananas mais cedo, mas estava cansada e precisava de um lugar pra descansar. A noite era fresca, estrelada, com leves brisas, perfeita pra acampar. Mas nada estava fácil pra Rose, ela já estava sem chocolate havia uma semana e a cada segundo torturante ela sentia o coração apertar. Se livrar de vícios não era fácil para ninguém, mas Rose até tinha experiência em mudar hábitos alimentares - quando trocou a papinha por arroz e feijão, e recentemente a carne por vegetais. 

Sabia que aguentaria três dias sem doces, sugando a doçura natural dos frutos da floresta e se conectando à natureza. Confie em Buda.  

Após dar namastê para a lua, ela caminhava no automático, já havia visto aquele tronco caído três vezes, e na quarta, percebeu que andava em círculos. Desistiu de caminhar, não tinha conhecimentos de sobrevivência na selva, a única floresta que conhecia era a de prédios, fábricas, concreto e aço. Deitou-se ao lado do tronco caído de costas pro chão e com as palmas das mãos para cima, iria fazer uma savasana para relaxar antes de dormir aquela noite. Decidiu procurar abrigo somente ao amanhecer, porém, um barulho tirava a sua concentração e atrapalhava o seu descanso. Era um som agudo e enfraquecido, ela se levantou e mesmo assutada apanhou um galho, abriu cuidadosamente os arbustos e se surpreendeu com o que via.

 Lá estava um quati machucado, se arrastando em meio as folhas secas. Os olhos de Rose se encheram de lágrimas e, com cuidado, pegou o quati no colo e o levou para perto dela, fez curativos para as patas traseiras machucadas do animal, que parecia ter sido chutado por alguém. Que tipo de monstro malvado e perverso machucaria um animal? , pensou Rose revoltada. Colheu folhas e fez uma pasta, deu para o animal comer, torcendo para que fossem analgésicas. Dormiu ao lado do quati, que não chorava mais, pelo contrário, ostentava um sorriso meigo e satisfeito.

O Grupo 1.

Longe dali, o Grupo 1 já tinha montado o acampamento, com uma fogueira no meio, cercada por redes feitas de folha de bananeira, bambu e cipó. Foi relativamente fácil fazer a fogueira, pois sua mochila oferecia uma pequena garrafa de álcool, um isqueiro e açúcar.

 Como você sabe fazer tudo isso, Neko? — Perguntou Misa sobre as redes.

— Cresci no campo, sabe. Aprendi muitas coisas sobre a vida na selva, e como as cobras da floresta são perigosas, por isso estamos em redes.  Respondeu Chico, orgulhoso.

Virgulino explicou para Naval o assunto.

 Really? In India we sing and dance with snakes, It's our friends. I have two... And I miss them —Comentou Naval, estranhando a cultura brasileira.

 LOL. India is so crazy, bro. But I live in Brazil's Northeast, can't say anything.

 Yeah, I know. Finn told me that the northeast is hot as hell.

O fogo aquece, eleva a moral, oferece proteção, é lindo, assa os peixes da turma, com exceções para Naval, vegetariano, e Misa, que come peixe cru. Mas, apesar de todos os benefícios do fogo, ele chamava a atenção. Muito perigoso num jogo como esse.

CAMERON.

Cameron dormia entre duas bananeiras, camuflada e aquecida pelas folhagens. Ela teve uma noite tranquila, dormiu, sonhou, curtiu o clima. Nem os insetos chatos cortaram seu barato, tampouco a abstinência de sua vodka diária. Ela ainda se perguntava se tinha álcool em alguma mochila e ria de si mesma ao pensar em fazer cerveja com folhas de bananeira. Confortável, feliz e cheia das bananas que comeu ao correr do dia, ela se permitia curtir o momento. Sua posição era perfeita, perto de abrigo, comida e água. Ela virou para o lado e dormiu. Desta vez, a insônia não a atrapalhou.

Grupo 2.

Já no grupo 2, dormiam em tendas feitas por Finn e Pocahontas. Não conseguiram fazer fogueiras, pois na sua mochila haviam somente garrafas de água, enlatados e uma pequena pá. As tensões para a liderança do grupo ficam mais profundas, afinal um membro já se mostrou capaz de matar. Foreman foi conversar com Tracy em particular, na floresta escura, a uns 20 metros do acampamento, enquanto os outros dormiam ou simplesmente pensavam na vida, deitados em suas ocas.

Temos que tomar uma atitude, a garota é pirada, se alguém quebrar a unha ela vai matar também, só tô avisando. — Foreman, com o medo de sempre da morte. Era natural de onde ele vinha, as pessoas correrem riscos diários nas ruas. A violência urbana, os tiros "precipitados" da polícia, etc.

O que você sugere fazer? — Tracy podia ser amiga de todos, mas não ignorava os fatos, por mais que Pocahontas fosse sua amiga, ela estava fora do comum. — Acha que devíamos matá-la ou algo do tipo? Amigo, eu nunca matei nem uma mosca...

 Não sei. Podemos fazer um pacto de não-agressão e quando ela baixar a guarda, nós abandonamos ela, jogamos num buraco, qualquer coisa, mané!

Não sei, bicho. Tenho medo do que isso pode... — Antes de ela terminar sua frase, foi interrompida por um grito alto, agudo e interminável. Foreman e Tracy correram de volta para o acampamento, seguindo o grito.

RACHEL.

Um pouco mais ao norte, Rachel ouviu um grito. Imaginou que alguém tivesse sido atacado por uma cobra. Às vezes, pessoas também são como cobras, traiçoeiras e malignas, o pior dos piores bichos de todos os tempos, com certeza. O grito a assustou e ela ficou mais alerta, se escondeu no fundo de sua caverna, que naquele momento parecia o lugar mais seguro em que ela poderia estar. Não conseguiu fazer fogo, ficou frustada e caiu no sono, sua porta feita de galhos finos recheados com folhas volumosas deveria dar-lhe proteção contra animais e ventos gelados até o amanhecer. 

O Jogo da Morte.Onde histórias criam vida. Descubra agora