17 - A Luta.

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O coração de Chico foi tomado pelo sentimento de injustiça e tristeza ao presenciar a morte de seu amor. Ele sentia um vazio enorme em seu interior, que aos poucos ia se preenchendo com ódio e, ao ver Pocahontas correndo em sua direção, ele aliou isso aos seus conhecimentos de samurais japoneses e grandes mestres do kung fu. Controlou sua mente, e calmamente armou sua posição, com as pernas afastadas e firmes no chão, o peito aberto e intimidador, os braços esticados e abrangentes e os punhos abertos, onde seus dedos iam lentamente se encostando, formando como se fosse um bico de garça. Aquele era o clássico estilo garça.

Enquanto do outro lado, Pocahontas, com uma lança na mão e uma postura ereta, aliava seu desejo de matar com sua confiança nos espíritos da floresta. Os dois estavam focados, os dois não temiam a morte, os dois queriam ver sangue. E iriam ver.

CHICO vs  POCAHONTAS.

Feitos os preparativos, o combate começou, e era a indígena quem tomava a iniciativa. Pocahontas segurou firme a sua lança e correu na direção de sua vítima, que não esboçou reação. Ela então salta, as pernas suspensas no ar e os braços direcionando a lança eram de sincronia perfeita, e a direção era o coração do fazendeiro.

Mas, com rápidos passos para trás e um para o lado, Chico conseguiu desviar do golpe, retomando sua postura original. Ela seguiu atacando, mostrava um vasto arsenal de golpes com lança, atacando por cima e por baixo, girando a lança sobre a cabeça e tentando ataques laterais, todos eles passaram no vazio. Chico desviava com naturalidade, tinha um ótimo jogo de pernas, parecia ver tudo em câmera lenta e antecipava os ataques, esperando uma oportunidade para contra-atacar. Até que esse momento chegou, em um ataque frontal, sua agressora deu brecha para uma interceptação, e ele aproveitou o momento, desviou indo para frente e agarrou o pulso de Pocahontas, ela tentou se livrar disso dando joelhadas, mas o outro braço de Chico não permitia, ele então torce o braço de Pocahontas e a empurra, fazendo ela largar a lança, que agora estava nas mãos dele.

"De onde veio esse cara?!", Pocahontas levantou-se e também armou guarda, agora desarmada.

O fazendeiro mantinha a mesma postura, mas agora com uma lança em mãos. Em outra situação, ele jamais usaria uma arma para ferir um adversário, suas armas são seus punhos e pés, mas aqui ele estava disposto a quebrar essa regra.

Os dois passaram a andar para o lado, circulando o oponente, ambos atentos e com olhares raivosos, até que, Pocahontas, sempre ela, resolve partir para o ataque novamente, agora com socos e chutes. Seus golpes agora atingiam a guarda fechada de Chico, que já estava cansado de desviar. Ele andava para trás, se defendendo da sequência fulminante de Pocahontas, e o último soco conseguiu entrar, acertando em cheio na boca do fazendeiro, fazendo-o cair para trás. Ele se levantou rapidamente com o impulso de suas pernas, sem usar as mãos. Já de pé, limpou o sangue que escorria em seus lábios, sorrindo como se gostasse do sabor que sentira, logo depois voltou a armar a guarda.

Desta vez, quem decide atacar é Chico, a crueldade já corria em suas veias, ele iria aproveitar cada segundo daquilo. Atacou a índia com uma sequência avassaladora de chutes, todos acertando em cheio na cabeça e no corpo de Pocahontas, que mal podia ver de onde vinham os golpes, em seguida ele usa o bico da garça, atacando pontos específicos, abrindo caminho para mais golpes. Cansada daquilo, Pocahontas explode em fúria e agarra Chico pela cintura, aplica uma rasteira e derruba o fazendeiro. No chão ela começa a desferir socos no rosto do rapaz, que já sangrava copiosamente, mas ele aguentava bravamente.

Cansada, Pocahontas joga Chico para o lado e busca fôlego. A luta volta a ser disputada de pé.

Agora de pé, com o rosto totalmente inchado e ensanguentado, Chico vai para cima, tenta dar um soco desajeitado, mas erra, e no contragolpe leva um cruzado de direita, que faz seu dente voar pelo ar. Pocahontas acha graça, provocando a ira do fazendeiro.

Ele vai novamente pra cima, com outra sequência rápida de socos, mas ela consegue o afastar com um chute firme e preciso no peito.

Ele acusou o golpe, seu fôlego foi embora em um segundo, e a indígena sabia que era o momento de atacar. Com os punhos velozes ela desferia uma feroz combinação, manchando seus punhos de sangue e espalhando no rosto de sua vítima. Então ele ataca, o bico da garça, o momento até aqui esperado, a brecha perfeita. Seu punho em forma de bico corta o ar com destreza, aterrissando no olho esquerdo de sua oponente, que cai no chão grita aterrorizada.

Meu olho! O que você fez com meu olho?!

Sem a menor compaixão, Chico começa a revidar cada golpe que sofreu, arrancando sangue do rosto de Pocahontas e a derrubando no chão. A noite era escura e a neblina começava a pairar no ambiente, permitindo o medo atingir a indígena.

Naquele momento os dois estavam esgotados, alguns pingos de suor se aliavam ao sangue grudado em seus rostos. Chico olhava profundamente nos olhos de Pocahontas, procurando algum sentimento de culpa, ou até um pedido de desculpas, mas tudo que enxergou era medo de morrer e vontade de matá-lo, e isso o motivou a fazer o que devia ser feito.

Ele calibrou o punho, esfregou as mãos e fez o movimento da garça, o alvo era o coração da oponente. Com calma, subiu em cima da indígena e preparou o seu golpe.

— Isso é por você se atrever a me desafiar. — Disse Pocahontas.

Sim, ela mesmo.

Pocahontas então apanhou sua faca, que manteve escondida até aqui, e desferiu o golpe de baixo para cima, atingindo a barriga de Chico. Ele paralisou, sentiu o metal entrando em seu corpo e derretendo suas entranhas. Não houve tempo para dar o seu golpe, após sentir a facada, sua algoz o jogou para o lado. Ela removeu a faca, deixando o sangue de Chico jorrar em abundância. Em seguida, não satisfeita, ela cortou a garganta do fazendeiro, cumprindo seu juramento com Tupã.

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