23 - Betão

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SEIS MESES ATRÁS.

Era uma segunda-feira como outra qualquer, Roberto se levantou 7 horas, com seu despertador tocando, como era de costume. Levantou e se espreguiçou, em seguida desligou o despertador e colocou seu disco de vinil para tocar, a música é Make Your Own Kind Of Music. Andou até a cozinha e limpou a mesa, cruzando sua sala de jantar para cozinha e levando as louças à pia. Jogou as sobras no lixo e começou a lavar a louça, ligando a torneira, jogando detergente em sua esponja e molhando as tigelas, a espuma ia caindo pelo ralo. Após isso, subiu em sua bicicleta ergométrica e começou a pedalar ligeiramente rápido, primeiro apoiando suas mãos no guidão e depois pedalando sem usar as mãos. Depois, foi para a barra, erguendo seu corpo uma, duas, três vezes. Esse era o seu limite. Ao fim do exercício, seu corpinho estava todo suado, então decidiu tomar uma ducha refrescante.

Dirigiu-se para o banheiro já nu e parou diante do espelho.

— Quem é o gatão? — Disse ele, e o seu reflexo parecia saber a resposta. — Você é o gatão. — Completou, com um sorriso satisfeito.

Ligou o chuveiro e passou a molhar-se por inteiro, ensaboando seu corpo com seu sabonete sabor hortelã com canela. Não se demorou a passar seu shampoo de aloe vera da Palmolive, que deixava sua careca mais brilhante e cheirosa. Saiu do banho e vestiu um roupão azul claro, enfeitado de corações brancos. Se dirigiu à lavanderia, onde colocou suas roupas sujas na máquina de lavar. Ainda de roupão, voltou para a cozinha, preparar sua vitamina matinal. Picou alguns pedaços de banana, adicionou dois copos de água e alguns morangos, ao fim, adicionou canela e tequila. Bateu no liquidificador e passou para seu copo de cerveja, que ele usava para beber qualquer coisa.

Caminhou para a sala de estar decorada com um sofá vinho, o carpete era cor de avelã, com enfeites vermelhos nas pontas, a cortina era lilás e na parede haviam diversos quadros de si mesmo. Era o estilo vitoriano que Betão sempre adorou. Na mesa de centro de madeira, havia flores e mais retratos, além de seu telefone com secretária eletrônica. Na parede, uma televisão de 65 polegadas, onde ele adorava assistir Masterchef.

Ligou a TV e se sentou no sofá. Estava passando um documentário da Nat Geo sobre a baleia azul, o maior animal que já habitou o planeta, e que neste momento, corre risco sério de extinção. "Grandiosa e rara", pensou Betão, se identificando com o fardo das baleias.

Desligou a televisão e resolveu ouvir seus 3 recados na secretária eletrônica.

Primeiro recado: "Senhor Roberto Nunes? Aqui é da Victory Saint Model Agency, liguei para falar sobre seu possível ensaio. Agradecemos muito a sua preferência, mas as fotos que o senhor mandou tem um tom muito erótico, não é o perfil que procuramos, eu sinto muito. Mas, novamente agradeço, e quem sabe no futuro o senhor entrando em contato podemos tentar alguma coisa, certo? Beijos."

Segundo recado: "Fala Betão, querido. E então, aquela baladinha pra esse fim de semana ainda tá de pé? Abriu uma nova nightclub na zona sul e adivinha, tem uma pista de dança animal! O dia está para caça e os dois tigrões de sampa estão com fome! Me liga, brother."

Terceiro recado: "Roberto? Aqui é a Dani, você me passou seu número na praça de alimentação, lembra? Então, sei que faz apenas dois dias mas, tipo, eu não aguentava mais esperar. Quer sair um dia desses? Te espero, mil beijos!"

"Nem pensar", sussurrou Betão.

Voltou para seu quarto e abriu o guarda roupa, refletiu por um minuto e decidiu usar sua regata do batman, uma bermuda militar e um chinelo vermelho e preto, que Beto julgava ser do homem aranha. Colocou um óculos escuros e se olhou no espelho. "Algo está faltando", pensou. Abriu sua gaveta de cuecas e pegou uma corrente de ouro. "Agora sim".

O Jogo da Morte.Onde histórias criam vida. Descubra agora