CHARLIE.
Charlie chegou ao rio aos pulinhos, um sorriso abrangente de dentição perfeita estampava seu rosto, parou na beira do rio, colocou as mãos na cintura, respirou fundo, sentiu o vento soprando seus longos cabelos e sorriu novamente. Seria o dia perfeito se não estivessem se matando em algum lugar daquela floresta, pensou ela. Se sentou na beira do rio e começou a colher água com as mãos, estava quentinha e ela aproveitou para lavar o rosto. O rio estava calmo, nenhum movimento suspeito, como se tentasse avisar algo. Charlie olhou em volta e tudo parecia tranquilo, um ou dois pássaros cantavam ao longe uma canção melancólica.
Ela então deitou na grama, olhando para o céu e se lembrando de sua infância, todas as brincadeiras na rua, os passeios de bicicleta e corridas no parque, tudo tinha passado tão rápido. "O que poderia estragar esse dia lindo?" Seus pensamentos foram interrompidos por uma intensa e repentina movimentação do outro lado do rio. Charlie não quis levantar, deixou sua vida passar diante de seus olhos e sua mente quase podia dançar naquele momento. Lentamente virou seu rosto em direção aos barulhos.
Do outro lado do rio, a movimentação vem rápida, corre pelas folhagens como uma sombra ninja, sua corrida só é encerrada por um tropeço, que a faz cair na beira do rio, ficando visível para Charlie. A pessoa está armada.
Pocahontas, do outro lado do rio, ainda deitada com o rosto na grama, respira fundo, apanha sua faca e se levanta com calma. Pouco antes ela havia se separado de seu grupo quando fugiam de um urso e agora estava sozinha e suas ações não podiam mais conter o ódio crescente em seu interior. Seu sangue fervia e sua mente sabia bem o que ela queria.
As duas se olharam, o calmo rio contrastou com o olhar sanguinário de Pocahontas e Charlie se assustou, o que fez com ela, em uma reação instintiva, saísse correndo dali o mais rápido possível. Pocahontas apenas acompanhou com os olhos a pobre garota correndo de seu inevitável destino.
Em sua corrida, Charlie se perdeu, não conseguia achar seus antigos abrigos, agora precisa achar outro lugar para se esconder, e o mais rápido possível. Correu em meio a floresta fechada, o desespero aumentava a medida em que ela sentia algo se aproximando, sua passada ia ficando mais longa, seguida de olhares assustados para trás. Sua fuga chega ao fim quando ela pisa em algumas folhagens suspeitas em meio a uma trilha sem muitas árvores, fazendo ela cair em um buraco. Era grande, muito preciso para ser obra da natureza, e ela não tinha tamanho para escapar dali, nem conseguia escalar a terra seca e quebradiça. Dentro do buraco, cansada, já sem muitas opções ela grita por socorro, porém suas esperanças são as mínimas possíveis. Ouviu passos se aproximando e cessou seus gritos.
Pocahontas aparece ao topo do buraco, toda orgulhosa, com uma pá na mão.
— Ha ha ha! Não imaginei que alguém iria cair no truque mais antigo do mundo! Queria pegar animais, mas ora, me diga quem é você, desconhecida!
— O que é que você quer? — Charlie se encolheu em um dos cantos do buraco.
— Eu só quero sobreviver! Parece que as pessoas não entenderam o objetivo desse jogo... Se não fizermos isso no final irão nos matar, matar nossos amigos!! É a vida de vocês ou de minhas mães e meu irmão! Eu preciso fazer isso, por mais que eu seja pacífica.
— Você é louca! A gente deveria se unir, somos mais fortes juntas!!
— Não posso arriscar, me desculpa. — Pocahontas ameaça chorar, mas logo busca o fôlego que precisa e limpa os próprios olhos. Pega um galho no chão e começa a afiar com sua faca.
— Vo- você.. ghump.. está fazendo uma lança ?
Pocahontas olha pra baixo com o olhar entristecido, mas logo fecha a cara e volta a afiar sua lança. Em seguida, faz uma oração para que tupã a perdoe e cuide do espírito de Charlie. Lá embaixo, Charlie observa tudo em prantos, lamentava o fato de não ter sido presente no grupo, quem sabe se conhecesse Pocahontas ela hesitaria mais.
— Para o bem deste planeta Terra e de todos os seres que nele vivem, que o Sol alimente sua carne e a escuridão aqueça sua alma... — Pocahontas finalizava sua prece — Do ghost nasceste, ao ghost retornarás!
— Deus não existe, sua idiota! — Foram as últimas palavras Charlie.
Pocahontas, ao fim, arremessou sua lança improvisada, que atingiu em cheio o coração de Charlie. Sentindo a morte chegando, esta olhou nos olhos de Pocahontas, que a observou morrer com a lança que atravessara seu peito. Repetiu suas preces em voz baixa, olhou para o céu como quem pede alguma confirmação de que estava no caminho certo. E, sendo essa a prova da existência de deuses indígenas ou não, o céu se fechou, e aquele lindo dia caminhava para uma chuva forte. Pocahontas sorriu e seus batimentos diminuíram, ela correu para a floresta, satisfeita com a resposta obtida.
Começou a chuviscar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Jogo da Morte.
Mystery / Thriller22 pessoas são sequestradas por alienígenas para participar de um jogo de sobrevivência onde apenas 1 sairá vivo. Qual o objetivo dos aliens com esse jogo? Quem é o líder deles? Quem irá ficar vivo ao fim do jogo? Esses e outros mistérios são o tem...