19 - Olho do Tigre.

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A escura noite já era a mais longa da vida dos participantes do Jogo da morte até ali, enquanto Jack e Rose conversavam, feras rugiam, certo casal emitia certos sons, mas, uma criatura permanecia em silêncio.

TRACY E CAMERON.

Famintas, as duas caminhavam furtivamente pela mata fechada, a noite era escura e sombria, mas aquela era a lua mais bonita que as duas viram. Andavam de braços dados, nenhum movimento poderia ser mal calculado e não podia haver pontos cegos. Os rugidos ficavam cada vez mais distantes a cada passo dado e o silêncio da floresta se fazia mais presente para as duas.

— Aí disseram que estava bom e tal, mas me colocariam na espera, e eu pensei, tudo bem, talvez eu não mereça ser publicada.

— Está brincando? É claro que você merece ser publicada, você dedicou todo seu tempo e inspirações naquele livro, despejou seus mais profundos sentimentos e não duvido que deixou parte de você naquele maldito papel, se tem algo que merece ser publicado é o seu romance, não importa o que aqueles idiotas da Squiline Editore pensam.

— Você acha mesmo, darling?

— Acho, sim. E quando nós sairmos daqui eu vou falar com um conhecido meu que trabalha para uma editora e com certeza vão dar uma chance para seu livro. Dominaremos o mundo.

— Juntas. — Completou Cameron.

— E quando tivermos dinheiro suficiente nós vamos para Londres. Tomar chá, ver o Big Ben, conseguir o autógrafo do Elton John, visitar a estátua da Amy.

— Assistir um jogo do Chelsea.

— Tudo o que você quiser, gatinha.

— Tracy, ouça. — Cameron freya no meio da mata.

— Um rio? — perguntou Tracy, se concentrando no barulho que ouviam.

— E deve estar perto. — Disse a voz naturalmente suave de Cameron.

Correram para o rio. O riacho que se passava era calmo e tranquilo, de águas claras e boa para o consumo. Era tudo que elas mais precisavam, colocaram os pés no riacho e o som de todas as coisas cessou, parecia que o tempo tinha parado para que elas curtissem aquele momento.

O ar era o melhor possível, o cheiro de grama molhada tornaria o ambiente perfeito, não fosse os insetos. Elas então se sentaram na beira do rio, entreolharam e o selinho pareceu a coisa mais natural do mundo.

Atrás delaS, escondido pelo terrível e pavoroso silêncio da floresta, um enorme tigre se aproximava, mantinha os olhos fixos em suas presas e calculava com cuidado cada passo, fazendo o menor ruído possível. Em sua frente as duas garotas pareciam distraídas, se olhando e dando risadinhas, eventualmente jogando uma pedrinha no rio ou se abaixando para beber um gole da água. "Hoje eu tiro a barriga da miséria", pensava o tigre.

FINN.

Próximo dali, o índio cabeludo Finn se escondia entre árvores. Desde de sua fuga ao ver a morte de Rachel, sua amada, ele não teve sossego. Virou alvo para macacos atirarem caca e quase caiu em um buraco-armadilha no meio da floresta. Nessa última situação, precisou se esconder quando viu um homem atacar e assassinar Ted e Robin. 

Se esconder e esperar, esse era o plano de Finn, uma hora tudo vai dar certo e ele vai conseguir escapar dali.

"Onde será que está aquela maldita cachoeira, sei que vi ela em algum lugar." Pensava ele, já imaginando um futuro banho de cachoeira para dar suas energias de volta ao rio, mas seus olhos o fizeram parar de pensar nisso, a uns 50 metros ele avistou uma dupla de garotas na beira do rio, e Tracy era uma delas.

Finalmente ele reencontrou alguém do seu grupo inicial e não precisaria mais ficar sozinho, tudo tinha ficado tão solitário. Com cuidado, saiu do esconderijo, reparou que os ruídos que perduraram a madrugada inteira tinham parado de repente. Olhou de volta para as duas e começou a caminhar na direção delas. Olhou em volta para garantir que não estava sendo observado e viu um borrão laranja a sua frente.

Um tigre caminhava já preparado para dar o bote nas garotas, estava tão próximo que parecia que não havia mais nada a se fazer. Mas ele fez.

Juntou todo o ar de seus pulmões e gritou, até não aguentar mais. Liberou toda a sua energia no grito, que era firme e forte, chamando a atenção de tudo e todos ao redor. Seus olhos estavam fechados e seu único sentimento naquele momento era de liberdade, aquilo há muito estava preso em sua garganta.

Ao ouvir o grito de Finn, as duas rapidamente olharam para trás, e o tigre já estava a poucos metros, o que deixou as duas desesperadas e uma agarrava a outra, tentando dar um último abraço antes de morrer.

Após cinco segundos com os olhos fechados e os braços esticados em defesa, elas voltaram a abrir. Olharam para o próprio corpo e em seguida para o da colega, estavam intactas e o tigre se foi. Elas não tinham certeza, mas concluíram que o grito tinha afastado o animal. Estavam corretas em parte, mas o que afastou o tigre foi o fato de elas terem olhado para ele, porque tigres não atacam sem o fator surpresa. Curioso, né.

Se abraçaram aliviadas e olharam para seu salvador, Finn, o índio com pinta de surfista.

Ele se aproximou, desajeitado, sentia o coração a mil mas no fundo estava aliviado, esperou a permissão e sentou-se ao lado das garotas.

— Obrigada! — Dizia a voz suave de Cameron.

— Disponha. Com licença. — Disse, antes de se abaixar e enfiar a cabeça dentro do rio, deixando sua longa cabeleira molhar-se.

— Por onde andou, Finn? — Perguntou Tracy.

— Sobrevivendo por aí. — Respondeu ele antes de beber longas goladas do rio. — E você?

— Por acaso encontrei Cameron e ficamos juntas até então.

— Juntas namorando? Como isso aconteceu?

— Bem, a gente já se conhecia do grupo, algumas conversas em privado e éramos muito amigas. Agora pessoalmente descobrimos uma química muito maior, e nossa força juntas é incrível.

— Que fofas. — Disse ele, fazendo as duas corarem. — Você viu Foreman ou Pocahontas por aí?

— Não desde que nos separamos. Sinceramente aquela índia era meio maluca, sabe? Você reparou os olhos dela?

— Sim, primeiro pensei que ela tinha achado cogumelos, mas se fosse isso ela dividiria comigo. Enfim, o que acha da gente tentar sobreviver juntos por enquanto, aí vê no que dá?

— Por mim tudo bem. — Se adiantou Cameron, sabendo que seria perguntada sobre isso em breve.

— Fique por perto, uma hora esse pesadelo acaba. — Falou Tracy, assumindo a liderança. — E vamos sair daqui antes que o tigre resolva voltar.

E os três saíram dali, agora juntos, caminhando em direção norte, a caminho do grande precipício.

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