Blair

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   O meu dia realmente não tinha como piorar. Estava parada na porta do meu apartamento, se é que ainda posso chamar assim, já que estava segurando minha carta de despejo. A probabilidade da proprietária daqui aceitar fazer um acordo e parcelar minha dívida é nula, estava entrando no terceiro mês, deveria agradecer por ela ceder tanto tempo. E eu não tenho margem pra fazer qualquer acordo, de qualquer forma. 

Minha relação com meus pais é realmente algo que prefiro esquecer, já não falo com eles há anos, então não posso aparecer pedindo dinheiro. A escolha de sair da minha cidadezinha e vir morar em Nova York foi necessária, mas esse assunto eu posso narrar em outro momento. 

Consegui um emprego recentemente no Empire Hotel, o salário é bem melhor, mas já estou atolada em dívidas. Ser independente sem um diploma e na minha idade não é uma tarefa fácil.

— Ei Blair, que bicho te mordeu? — Talvez a carta que recebi de manhã, antes de chegar aqui.

— Oi Dan, minha cara tá muito ruim? — Respondi despertando dos meus tristes devaneios. Estávamos organizando a área de bebidas do salão, o horário de expediente estava começando e mais tarde acontecerá um evento pra entreter os burgueses.

— Está um pouquinho mais preocupada que o habitual, o que aconteceu? — Dan era meu parceiro nos eventos que aconteciam no Hotel, éramos dupla de trabalho. Ele é a pessoa mais próxima do que posso chamar de amigo.

— Problemas que espero encontrar uma solução em breve. — Eu realmente não vou envolver terceiros nisso, ele não tem mesmo a quantia que eu preciso. 

— Algo em que eu possa te ajudar? 

— Obrigada por se preocupar, mas está fora de cogitação. Se piorar, eu vou mesmo precisar de uma ajudinha, mas não por enquanto. — Eu ainda tenho uma semana para retirar minhas coisas do apartamento, segundo aquela carta maldita. Nunca odiei tanto uma simples folha de papel.

— Tudo bem, Blair. Estarei aqui. — ele estava organizando algumas mesas, colocando os enfeites estranhos que pessoas ricas acham legais. —  Não é aquele ator que ganhou o oscar? — Os olhos de Dan estavam na televisão atrás de mim, me virei. — Esse cara é muito bom.

  O noticiário estava narrando um acontecimento recente, o tal ator se chamava Chuck Bass, estava sendo processado por agredir um paparazzi. Que Idiota. Aparentemente, ele estava saindo de uma casa noturna com duas mulheres e não gostou de ser fotografado.

— Que estrela idiota. — Bufei, Dan não parecia concordar com minha opinião, ele estava focado na televisão. 

— Ele está aqui, Blair. Em Nova York! — E o que eu tenho a ver com isso?  — Cara, eu queria muito uma foto com ele. 

  Dan continuou prestando atenção no jornal, eu prossegui meus afazeres. Meu humor não estava dos melhores, e eu não estou interessada em pensar em nada além dos meus problemas. 

  Minha relação de amor e ódio com esses eventos que aconteciam era grande. A gratificação monetária era muito boa, mas todo trabalho e o tempo de duração eram desanimadores. Circular sem parar com bandejas pesadas, ser agradável e limpar tudo depois. Era realmente tudo o que eu precisava pra esquecer que estava mais perto de me tornar uma sem teto. 

    ****

— Esses caras não desistem nunca. — Dan sussurrou, nossas mesas eram paralelas, então acabávamos nos encontrando no trajeto da cozinha. 

— Do que você está falando? — Eu realmente tinha visto uma movimentação na porta de entrada, mas os seguranças conseguiram conter a situação com bastante rapidez. 

— Alguns paparazzi tentaram invadir o Hotel, você não viu a lista dos convidados? 

— Eu nem prestei atenção.. Qual o nome das presenças ilustres que estão causando o burburinho?

— Nate Archibald... — Uau, esse cara é um cantor extremamente talentoso. — Serena Van der Woodsen... — Essa mulher eu realmente não sei se tem alguma ocupação específica, mas ela tem um rosto de dar inveja e está no mundo das celebridades. — Carter Baizen... — Ele é jogador de futebol. — E o Chuck Bass também vem. — Dan finalmente terminou, ele estava se controlando para não parecer empolgado. Acho que até eu fiquei animada. O que foi? Sou humana, tá legal?

— Uau, agora eu entendo o motivo disso tudo. Então eles são os culpados por termos limpado cada cantinho desse lugar com duas vezes mais cuidado que o normal? — Eu não estava tão incomodada com o trabalho, até ocupou minha mente durante o dia. 

   Pelo visto, estavam chegando mais convidados, pelo olhar dos que já estavam acomodados em suas mesas. Então eu vi Chuck Bass adentrando o lugar. O terno impecável, o sorriso nunca deixando o rosto, cada passo que ele dava, exalava confiança. O homem é realmente muito, muito bonito. Ele logo se acomodou na mesa que esperava com seu nome, o que me fez lembrar que eu tinha bebidas para servir. Ele não estava dentro do planejamento das mesas que eu estava responsável, eu acho que isso é bom. O cara é realmente um poço de beleza, mas pelo que vi na televisão mais cedo... 

   Tudo correu conforme o habitual, servi por um bom período de tempo, fiz o que pude para ser o mais agradável possível. Finalmente meu momento de dar uma pausa tinha chegado, a sacada do hotel era o meu lugar favorito. Soltei o elástico do cabelo pra tentar aliviar minha dor de cabeça e foquei na vista privilegiada de Nova York que se estendia à minha frente. Eu não me daria ao luxo de chorar, não sei bem se consigo parar caso comece. 

— Dia difícil? — Uma voz grave soou vinda do meu lado, eu realmente não estava afim de conversar e ser agradável agora, estava na minha pausa. E meu rosto já estava dolorido de ficar sorrindo igual uma idiota. 

— Difícil é eufemismo. — Sussurrei impaciente, não estava com vontade de olhar o estranho que tentava puxar assunto. 

— Então temos alguma coisa em comum. — Ele insistiu. — Você trabalha aqui, certo?

— Não, eu estou com o uniforme porque é a nova tendência em Paris, você não lê A garota do Blog? — Usei um tom de deboche. Eu só espero que ele não seja um convidado, e nem que continue tentando conversar. Infelizmente, só escutei uma risada. 

— Então você lê essas besteiras que escrevem na internet? — Eu sorri, definitivamente, eu não lia. 

— Um amigo gosta de acompanhar a vida das celebridades. Eu com certeza não uso meu tempo livre pra isso... — Me virei, já estava quase na hora de voltar. Quando vi o homem que tinha uma expressão de deboche no rosto, parei e arregalei os olhos. 

— Pela sua expressão, posso dizer que essa amante pela moda parisiense me conhece? — Ele tentava não sorrir, mas falhou. Blair, se recomponha.

— Bem, já ouvi falar por aí. — Tentei manter minha expressão impassível. Meu cabelo tinha mesmo que estar sendo desgrenhado pelo vento? Não estava tentando fisgar o ricaço, mas não era justo estar diante de um cara tão lindo, com uma aparência assim.

— Dê-me a chance de fazer uma apresentação da forma certa. — Ele pegou minha mão daquela forma galanteadora que já o vi fazer em alguns filmes, e deixou um beijinho. — Me chamo Chuck Bass, é um prazer. — Soltei a respiração, eu nem sabia que ela estava presa.

— Hum... Prazer. — Eu precisava realmente voltar. 

— A cordialidade diz que o próximo passo é você se apresentar também. — Eu não posso perder o meu emprego por causa de um ator que não vai nem se lembrar da minha existência daqui há dez minutos.

— Eu preciso mesmo ir. — Foram minhas únicas palavras antes de sair apressada e prendendo o cabelo igual uma louca. Será que fiz muito mal em ter sido rude? Eu realmente espero que ele não seja tão ruim quanto a imprensa tem relatado nos últimos tempos, se não meu emprego corre risco. 


A PropostaWhere stories live. Discover now